Momentos económicos… e não só

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sobre a utilização de cuidados de saúde (7), 2012 vs 2014

Pergunta de interesse é saber se ao ano de 2014 corresponde um estado de saúde das pessoas consideravelmente pior do que no ano de 2012.

Uma forma simples de avaliar o estado de saúde auto-percepcionado é através do questionário EQ5D (os valores para calcular este indicador podem ser encontrados aqui). Este indicador baseia-se nas respostas a um conjunto de perguntas simples, em que cada desvio à situação de saúde perfeita tem uma penalização.

Ora, para este indicador, as diferenças entre os dois períodos não são e a hipótese de ter igual indicador na amostra de 2012 e na amostra de 2014 não é rejeitada. Os valore do indicador EQ5D são de .8663762 em 2012 e de .8601565 em 2014, sendo estatisticamente indistintos.

Tal como todos os outros aspectos, também este é obviamente condicional aos dados recolhidos que não são muito provavelmente representativos de populações mais vulneráveis. Mesmo com essa cautela metodológica, e dado que há um aspecto de stress (ansiedade/angústia) geral, seria natural ter algum efeito sistemático de mais dois anos de crise.

A comparação feita usando emparelhamento (matching estimators) não dá qualquer diferença, mesmo quando se faz a comparação dimensão a dimensão do indicador EQ5D.

 

* nota: a partir daqui a análise técnica serve apenas para suportar o que está dito anteriormente *

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ainda as dívidas públicas na saúde (2)

No início do mês (aqui) expressei a minha preocupação com o aumento em Janeiro de 2014 da dívida porque parecia retomar uma tendência passada. Com o valor de Fevereiro de 2014 publicado a 25 de Março pela Direcção-Geral do Orçamento, reforça-se a ideia de não ter existido uma alteração de tendência de crescimento da dívida do último ano.

Estatisticamente a tendência fora dos momentos de regularização dos últimos dois anos tem sido sempre a mesma. Ainda assim, mesmo que a hipótese de igualdade de tendência sobreviva, em termos de dinâmica parece fazer sentido contemplar um ritmo antes de 2013 e outro depois.

Calculando esses valores médios de acréscimo, o acréscimo absoluto de dívida em Janeiro e Fevereiro de 2014 não traduz qualquer abrandamento face a que sucedeu em 2013 fora do período de regularização de dívida, e esse ritmo é em média 34M€ por mês, ou seja, cerca de 400 euros por ano, o que sendo mais baixo do que pareceu ser o ritmo antes de 2011 (500M€ ao ano, numa estimativa simples), e mais baixo do que o ritmo mensal dos primeiros meses de 2012 (cerca de 80M€/mês), é ainda susceptível de criar problemas sérios à sustentabilidade financeira do SNS.

Segue o gráfico da minha preocupação, tendo logo depois a regressão realizada; em 23 de Abril de 2014, será adicionado o valor de 2014 a ver se se mantém a tendência.

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Sobre a utilização de cuidados de saúde, 2012 vs 2014 (6)

Um aspecto que se suspeita ter ganho importância nos tempos mais recentes é a preocupação com eventuais repercussões no local de trabalho de faltar para ir a serviços de saúde. Apesar dos pequenos números, essa é também  tendência verificada nesta experiência, com uma diferença grande entre os dados de 2012 e 2014. Estas diferenças entre os dois anos não são justificadas por características dos entrevistados, pois em termos de regularidade sistemática encontra-se apenas a natural de pessoas com mais idade indicarem mais frequentemente que não trabalham.

Assim, este efeito associado com o que se passa no local de trabalho aparenta ter ganho importância desde 2012. A procurar-se confirmação em estudos mais aprofundados.

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Sobre a utilização de cuidados de saúde, 2012 vs 2014 (5)

Continuando com a análise da amostra de conveniência e informal gerada,

A utilização dos serviços de urgência é um dos aspectos que recorrentemente recebe atenção em Portugal, falando-se frequentemente na excessiva utilização das urgências, em casos clínicos que deveriam ser resolvidos nos cuidados de saúde primários.

É por isso relevante saber como evoluiram os motivos para a utilização dos serviços de urgência entre 2012 e 2014. A questão dos horários surge em primeiro lugar (indicado por 35% das pessoas que responderam a esta questão em 2014) e em segundo lugar a expectativa de melhor tratamento nos serviços de urgência (28%). A proximidade geográfica surge apenas em 3% lugar. Curioso é elevado número de outras razões, não especificadas, para recurso à urgência.

 

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Numa análise estatística (multinomial logit), o ano de 2014 está associado com maior utilização de urgências por motivo de proximidade, e por indisponibilidade do centro de saúde/USF, embora não sejam efeitos muito fortes, face ao ponto de comparação (“outra razão” para ir à urgência).

 

A maior dificuldade de acesso a cuidados de saúde primários, associada com as respostas “o centro de saúde/USF já fechou” e “não tem médico de família”, aumentou o seu peso nas respostas. Este é um aspecto que tem de ser melhor conhecido, e que a confirmar-se numa amostra maior e mais representativa poderá requerer.

 


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Adolfo Suarez

A noticia, já anunciada há dias, chegou hoje. Muito se vai escrever sobre a acção política de Adolfo Suarez. Não sou especialista em política de Espanha, mas retenho desde há muito a imagem de um homem sentado a resistir a uma tentativa de golpe de estado nas Cortes por parte de um tenente-coronel chamado Tejero Molina (e em pé, o vice-presidente do Governo, senão me engano).

Screen Shot 2014-03-21 at 23.42.16 A reportagem breve está aqui, o atentar ao minuto 1:31 – http://www.rtve.es/alacarta/videos/fue-noticia-en-el-archivo-de-rtve/asalto-tejero-congreso-23-1981/392929/

Fica sobretudo a imagem de um homem que ajudou um país no trânsito para a liberdade, o que não é coisa pequena.


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Sobre a utilização de cuidados de saúde, 2012 vs 2014 (4)

Passados os comentários ao manifesto dos 70, regresso à utilização dos cuidados de saúde, em concreto para constatar que entre 2012 e 2014 não há grande diferença no que se refere às escolhas efectivas de prestador.

O conhecimento do número de vezes que se recorreu aos serviços de saúde deu pistas sobre o estado de saúde da população, que não apresentou uma evolução que justificasse um acréscimo de utilização, tal como as questões anteriores permitiram ter uma noção de como evoluiu o conhecimento dos cidadãos sobre o sistema de saúde. Averiguando agora o que fizeram as pessoas na última vez que recorreram a serviços de saúde, tem-se a situação descrita no quadro seguinte.


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Relacionando com a caracterização dos respondentes, verifica-se que o ano de resposta, ser 2012 ou 2014, não traz qualquer diferença. Nos restantes efeitos, sem grande surpresa, quem tem seguro, além do SNS, tem maior probabilidade de escolher ir ao médico privado e à urgência hospitalar; quem tem subsistema público utiliza relativamente mais médicos privados, mas não tem uma diferença visível na maior utilização das urgências hospitalares. Estes efeitos são os que seria de esperar, não trazendo aspectos inesperados. A parte não esperada está na ausência de qualquer efeito sistemático associado com o nível de educação, que noutros contextos se tem mostrado um importante factor associado com a utilização de cuidados de saúde. Também a idade e usufruir de um sistema de saúde privado estão ausentes destes factores associados com as escolhas por falta de regularidade (significância estatística), o que é em si mesmo algo inesperado.
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ainda o manifesto sobre a dívida pública, e como a discussão económica não teve lugar

como se podia antecipar, a discussão à volta do manifesto (dos 70, que afinal são 74 +1)  ficou-se muito pela batalha política, e pela falta de comparência de argumentos técnicos devidamente justificados, de um lado e de outro.

Pagar menos ou pagar em mais em tempo, tudo o resto constante, é naturalmente preferível. Daí que as diferenças de opinião sobre os efeitos de re-estruturação de dívida, com ou sem perdão formal, tenham que ser analisadas sobre que parte do “tudo o resto constante” é que não se verifica. E se consegui perceber o que está por detrás de cada lado, há sobretudo convicções mas não a apresentação de evidência que faça acreditar por um ou por outro lado. Vejamos:

a) menos juros hoje permitirão mais crescimento que tornarão mais fácil pagar os juros amanhã – pressupõe que haverá a capacidade de realizar investimento produtivo suficiente, mas desconhece-se se o nexo causal é por menores juros permitirem menor tributação que deixará maior rendimento na economia, em que parte será aplicada em poupança (e logo canalizada para financiar) e parte será aplicada em consumo, consumo esse que terá uma parte de bens nacionais e outra parte de bens importados; o primeiro aumento aumenta a actividade doméstica, o segundo aumento dinamiza as economias de onde importamos; mas menos juros hoje significa que alguém estará a receber menos, se for reduções de juros em dívida detida por agentes externos à economia, então não se sentirá efeito directo interno, mas se houver dívida afectada que está em mãos de agentes económicos nacionais (por exemplo, bancos e aforradores privados), então corresponde a uma redução dentro da economia, que terá também efeitos; suponhamos o caso extremo de se baixar a taxa de juro nos certificados de aforro, apenas como exemplo, neste caso o rendimento das famílias baixa, e se as famílias quiserem ter um certo nível de poupança para um futuro incerto poderão até reduzir um pouco o consumo para repor o rendimento de poupança (o efeito final depende de vários factores, e dependendo do que forem as preferências das famílias, o consumo pode aumentar por reduzir-se o interesse na poupança – a ambiguidade económica sobre este efeito obriga a que seja medido antes de tirarem conclusões). Mas também se pode dar o caso de a dívida estar toda em bancos (outra situação extrema), que veriam a sua situação financeira alterada, e para manter a estabilidade do sistema financeiro poderia ter que haver mais entrada de dinheiros públicos nos bancos (nacionalização, no limite), o que dificilmente parece estar na mente de quem apresenta este argumento. Ou seja, há toda uma cadeia de efeitos que tem de ser explicitada e valorizada (nem que seja para dizer que não será um efeito quantitativamente relevante, ou que será o efeito mais importante).

b) uma restruturação hoje teria o efeito calamitoso de fechar as portas dos mercados internacionais à dívida – este argumento tem por detrás uma antecipação do que possam ser as expectativas e depois as decisões de agentes externos quanto a tomarem futura dívida portuguesa. Uma vez mais temos muitas hipóteses, e nenhuma delas realmente baseada em evidência que tenha sido trazida. Em particular, se o receio está nas decisões de tomada de dívida nacional, que evidência temos dos efeitos permanentes de eventos sobre colocação da dívida? é que esperando que esses investidores sejam cautelosos, prudentes e analisem a situação em cada momento, o que estará sempre em causa numa emissão de dívida é a capacidade a prazo da economia produzir receitas públicas suficientes para que o estado pague a dívida que contrair (note-se que mesmo quando temos dívida renovada, há que pagar uma e contrair outra, o que significa que mesmo que haja inércia no volume total de dívida, há um processo de decisão que pode ser cortado se não houver interessados em comprar nova dívida – reside aqui parte do equívoco sobre o que significa “gerir a dívida”). Os argumentos de que a mera apresentação do manifesto prejudica gravemente a imagem de Portugal é passar um atestado de menoridade aos analistas internacionais que estudam se a dívida pública portuguesa é interessante ou não. Se o manifesto tivesse o apoio do principal partido da oposição no sentido de dizer que seria a política seguida, então poderia alterar as expectativas sobre a condução da política económica portuguesa, caso depois das eleições, a oposição actual ganhasse e tivesse capacidade para aplicar essas medidas, resultando numa perda imediata para quem comprar agora dívida pública nacional; e certamente nesta avaliação é ainda descontado o efeito de nem sempre o que é prometido antes de eleições é depois cumprido. Como se vê, também aqui há muitos “se” até se estabelecer um canal de efeitos.

Como cada lado da discussão se entrincheira a dizer que tem razões que o outro lado não vê (ou dizem que o outro lado não quer ver), mas não documentam, explicitam, discutem os pressupostos das suas próprias razões, a discussão acaba por ser estéril do ponto de vista de procura de caminhos de política económica. O que é pena. A tomada de posição política e a opção deverá ser feita tendo por base um trabalho técnico que possa ser analisado e contraditado. Qualquer dos dois lados da discussão tem obrigação de apresentar esse trabalho técnico.


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Sessão “Novo Pacto para a Europa”

Decorreu na semana passada uma sessão dedicada a “Novo Pacto para a Europa”, na Fundação Calouste Gulbenkian (ver programa aqui), e dinamizado por Maria João Rodrigues nesta sessão. Corresponde a um esforço europeu, com site aqui.

Aqui fica um breve resumo dessa discussão, que se afigura como o início de um caminho importante para a União Europeia e onde fará todo o sentido que Portugal tenha uma participação activa, com contributos sérios e de afirmação. São as minhas notas da sessão, ligeiramente editadas (o que significa que vai em estilo resumo e sem preocupação de estilo).

Abertura por Maria João Rodrigues que introduziu o objectivo final deste processo de discussão: elaborar proposta de pacto para a União Europeia. Desafios identificados: desemprego, estado social, como competir; divergências internas; sistema político europeu distante dos cidadãos, problemas de liderança; Desafios culturais: identidade colectiva europeia? Falta de projecto comum; Desafios externos: alteração da ordem global, risco de declínio da europa.

Três questões chave para a discussão: Outros desafios? Opções, há mais? Dentro das opções, qual a melhor para Portugal?

As opções apresentadas, com os seguintes titulos: 1-Regresso ao essencial; 2-Consolidação do acervo do passado; 3-Progressão ambiciosa; 4-Salto em frente; 5-Mudar a lógica do mais/menos europa.

(Comentário: É deixada a pergunta de qual a opção preferida de cada um: depois de ler os documentos, a minha preferência vai 3+ (societal dimension e  external dimension da opção 5). Mas a opção como cidadão ou como técnico pode ter algumas diferenças. E sobretudo fica uma questão: Condições para cumprir as opções?)

Do painel convidado, o moderadora Seixas da Costa, introduziu alguns tópicos e a sua visão: Urgência financeira retirou capacidade de pensar nas questões europeias; Esquecem desequilíbrios interinstitucionais gerados pelo tratado de Lisboa; Diferenciada capacidade dos diferentes estados membros de gerirem a sua participação; Capacidade dos parlamentos europeus em controlar o processo europeu

O primeiro comentador convidado, Viriato Soromenho-Marques: Falta engenho e cultura política, conhecimento. 1ª cenário – não é possível pelos custos de transição; cenário existe porque não há suficiente centralidade; seria preciso mais coordenação para funcionar do que avançar. Falta a coordenação que o cenário pressupõe. 2º cenário – fazia sentido nos anos 50, hoje esta lógica é irrelevante; o vulcão da divida soberana pode acordar a qualquer momento; 3º cenário – junta o melhor de duas hipóteses contraditórias e consegue irritar toda a gente. Super-comissário das finanças dá demasiado poder à CE. Não resolve o problema do orçamento comum. Lista transnacional é um erro. Federalismo de nações e não apenas de cidadãos. A CE faz parte do problema e não faz parte da solução. 4º cenário – direcção certa, mas corre risco de tropeçar, apostar na sua melhoria. Tem potencial de gerar hostilidade. Deixar cair exército europeu e política de segurança comum. Referendo é erro, tratado constitucional a ratificar estadualmente é correcto. Ignora duas questões centrais: mudança de estatutos do BCE (duplo objectivo: estabilidade de preços e emprego), capacidade de emissão de dívida europeia. Limitar o poder dos “engenheiros” da UEM. 5º cenário – pós-moderno, quem é limpa a casa desarrumada; passa ao lado dos desequilíbrios dentro da UE. Balanço que faz: número de actores limitado; uma crise sem sujeito; assimetria entre poder e democracia; quem defende a europa neste momento com posição de poder; ausência de sujeitos transformadores; grande défice de competência democrática – as elites europeias não estão à altura dos desafios europeus; falharam os governos, os partidos, as universidades.  A resposta que está a ser dada é monstruosa. Há um discurso de insensibilidade nos dirigentes que mistura ignorância com arrogância ideológica, cada órgão puxa para o seu lado; trivialidade sistémica; só um milagre poderá salvar a europa de cair definitivamente numa nova balança do poder e seu derradeiro suicídio .

O segundo comentador foi Vitor Martins: “Impossível unir a europa no quadro da desconfiança dos cidadãos” – citação; desconfiança como problema central; opção preferida: 2-3-4 é onde se consegue focar; não consegue pensar à volta da 5, e a opção 1 não é opção; coração na opção 4, racionalidade atira para a opção 3. A apresentação “back to basics” não é correcta. O “passado” tinha uma visão política aprofundada e consistente. Tinha um método, o método comunitário. O fracasso do euro será o fracasso do mercado único. O centro de gravidade europeia está no euro. 2º cenário – é preferida por políticos europeus por significa gerir com o mínimo custo possível e máxima aparência política. Contribui a prazo para a desconfiança dos cidadãos. Euro foi salvo do colapso por medidas pontuais. Não se tem certeza sobre a sustentabilidade do euro. Retira aos líderes e políticos a necessidade de se assumirem com uma visão. É uma opção sem visão. 3º cenário – temos que olhar para as respostas do Euro; colocar o euro no mapa de uma zona económica e monetária consistente e credível; há a questão central do BCE;  relações entre parlamentos nacionais e instituições comunitárias; provavelmente exige revisão de tratados, mas como fazer isso num quadro de desconfiança dos cidadãos. 4º cenário – sentiu-se a ler o projecto de constituição de 2003; no quadro de desconfiança não há forma de andar em frente; 5º cenário – não consegue lidar com esta opção.

O terceiro comentador, João Ferreira do Amaral: Dois aspectos que não assinalados: disparidade de poderes entre estados membros. Acabou a igualdade entre estados. Houve desproporcionado aumento do poder alemão. É um problema para a Europa lidar. Estreitaram-se os leques de opções políticas. Ou é política ultra-conservadora ou não é política. Não há uma grande diferença entre as opções 3 e 4. Opção 5 não é incompatível com nenhuma das outras. Importante reforço das questões relativas aos direitos humanos. Discordância face à opção 1.  Não se trata de regresso ao passado. A UE nunca fez o que era básico, e fez várias coisas que não eram básicas (exemplo: PAC). Opção deve ser fazer o essencial, independente do passado. O que é fazer o essencial? Estados com interesses comuns, a actividade da EU deveria incidir sobre os interesses comuns. Esta expressão é ambígua: interesses comuns colectivos vs interesses em todos os estados e por isso são comuns. Focar-se nos interesses comuns colectivos: cooperação monetária mas não moeda única; defesa; ambiente; comércio livre; recursos naturais transfronteiriços. Adepto da Europa à la carte. Tudo o que não sejam estes interesses comuns colectivos devem ser facultativos. Disparidade de interesses com 28 países não é possível fazer de outra forma. A UE deve existir para proteger os estados da globalização, e que a melhor forma de o fazer é transferir poder para o centro da UE. É uma visão errada reduzir as autonomias nacionais. Globalização reforçou o papel das nacionalidades e a coesão nacional como resposta a essa globalização. Federalismo não é estado federal, mas era isso que se pensava. Ter moeda única obriga a ter estado único, de outro modo não funciona. É preciso ter os mecanismos próprios em termos monetários e em termos orçamentais, Preservar autonomia nacional versus união de estados federados. Autonomia como gestão de interdependências, com instrumentos próprios: moeda própria e orçamento.

Da audiência surgiram os seguintes comentários:

[1]: PAC foi básica e essencial, mas depois transformou-se num instrumento perverso. De resto não está de acordo com o J Ferreira de Amaral.

[2]: Nunca encontra discurso optimista sobre a Europa. Como e com quem implementamos as opções estratégicas? Hoje qual é a coligação política, geográfica, o método e a forma, de aplicar cada uma das estratégias.

[3] Novo pacto precisa de ser esclarecedor quanto à nova visão. O mundo mudou imenso desde a época dos fundadores. Qual a visão que mobiliza as novas gerações. Continuamos a tentar responder a uma crise, mas será possível ter o conhecimento dos interesses genuínos que não sejam apenas reactivos.

[4]  Não sabe o que é o federalismo republicano. Vive as angústias das empresas portuguesas. Posiciona-se entre o 2 e o 3. Hoje fala-se na reindustrialização na europa, essencial para a europa no mundo.

[5] Para questões complexas não há respostas simples. Será que a política tradicional tem os instrumentos para encontrar as respostas. Fazer política com outras regras. O maior problema identificado é o que é o projecto europeu. Não há um pensamento orgânico. Grande política só se pode fazer com grandes compromissos. É possível gerir esse compromisso entre as grandes famílias políticas europeias (PPE e Socialistas). O pacto deverá encerrar um desafio às famílias políticas europeias para dar confiança aos cidadãos. Está entre a 3 e a 4.

[6]  Distinguir entre o que desejamos e o que podemos esperar alcançar. Evitar exercícios agressivos de engenharia social. Pensar em soluções compatíveis com processos democráticos nacionais. Elimina a 4 e 5 como opções razoáveis, por muito que sejam desejáveis. Identifica-se com muito do que disse o J Ferreira do Amaral. Mas hoje não é possível retroceder. Não se sabe onde se pararia, e pode-se deitar o essencial fora. Opção 2 é o status quo. A actual construção teve resiliência suficiente. Está entre a 2 e 3, não é excessivamente critico para a actual situação (abanou-se mas resistiu-se). Introduzir mecanismos de coordenação macroeconómica. Necessário ter mecanismos de ajustamento simétrico.

[7] Não é favorável ao cenário 1, mas é necessário discutir por causa da Inglaterra. As próximas eleições podem trazer muitos eurocépticos para o parlamento europeu. 2º cenário – não é necessário ter preocupação com ele. Tende a fundir 3º e 4º cenários. Entre aquilo que se pode pensar e o que as populações querem pode ter uma diferença grande. A UE tem a ganhar com alargar algumas das suas políticas (exemplo, política europeia de imigração). Política europeia de combate à exclusão social. O grande problema é a zona euro. Tal como está não vai funcionar. Funciona hoje com regras ditadas pelos alemães, mas não tem mais nada. É preciso alguma integração fiscal. Problema da soberania fiscal dos estados membros. Cria distorções no mercado interno. Necessário ter harmonização fiscal. Não acredite que se mude facilmente. Tem que haver simetria no ajustamento.

Maria João Rodrigues explicitou um pouco o que tem sido a discussão noutros países: Cenário 5 – não é opção integral, mas pode valorizar outras opções; Cenário 1 – Reino Unido, mas não só. Maioria divida entre 2 como suficiente, ou não, para lidar com a crise. E nesse caso avançar para 3 ou 4. Países do Norte: maioria para 2 como suficiente; resto com 3 e 4.

Continuando com a audiência:

[8] Portugal tem mostrado capacidade de identificar o interesse comum. Podemos dar um contributo real.

[9] Pontos chave:

–       restaurar acesso mais normal ao crédito, tem que se ter supervisão bancária mais forte e solução que não penalize os contribuintes

–       se os estados membros querem uma perspectiva de crescimento sustentado, com policy mix para crescimento e protegidos de choques macroeconómicos, exige orçamento da zona euro; mas para caminhar nesse sentido tem que haver mais coordenação de políticas económicas, sociais e orçamentais

–       reduzir peso da dívida pública, é necessário instrumentos europeus, mas requer maior coordenação orçamental incluindo impostos, e imposto europeu.

–       Em termos políticos, é necessário funções de governo da zona euro, com capacidade de responder politicamente perante um parlamento europeu.

–       Sequência política é chave para poder resultar, passar da 2 para a 3 pensando na 4.

[10] Sobre países do Leste, estas opções têm impacto sobre a integração diferenciada. A europa a la carte está minimizado, a diferenciação é entre os que são da zona euro e os que se querem juntar. Não acredita numa revisão do tratado de Lisboa. Seria utilizado pelo Reino Unido para voltar atrás. Mas será preciso rever algumas coisas para orçamento e governo da zona euro.

[11] Vamos fazer as contas das opções. Para saber os custos de cada opção/cenário. É preciso conhecer os benefícios e custos porque isso pode alterar as visões. Humildade de reconhecer que a realidade é mais rica. Estamos sempre a trabalhar em contextos de incerteza. Cépticos na inteligência e optimista na vontade. Não podemos separar da questão quem vai fazer isto e da desconfiança quanto a quem vai fazer isto.  Federalismo republicano: o modelo americano é o exemplo. Os estados são responsáveis pelas suas finanças públicas. Mutualização das regras de independência e da guerra 1812-1815.

(e mais foi dito, mas tive que sair)

Li o resumo que estava disponível, e depois da apresentação e da discussão, a leitura do documento principal fica agendada. Quem quiser o documento, está aqui.


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Expert Panel on Effective Ways of Investing in Health da Comissão Europeia

Três documentos  do Expert Panel on Effective Ways of Investing in Health da Comissão Europeia, sobre:

a) definição de cuidados de saúde primários

b) critérios de avaliação de sistemas de saúde

c) PPPs em saúde

E sobre o painel e as suas actividades, ver aqui.

 


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a adse e o veto do presidente da república

O Presidente da República não promulgou o aumento da contribuição para a ADSE, sendo que o diploma legal continha também uma transferência a titulo de consumo de medicamento que foi igualmente vista com olhos negativos (ler aqui).

Esta decisão não deve ser vista como uma surpresa, nem num caso nem no outro.

O aumento na taxa de contribuição para a ADSE tinha o objectivo de gerar um excedente (lucro) a ser depois transferido para financiar as despesas públicas em geral (contribuição para baixar o défice público). Do ponto de vista do Orçamento do Estado pretendia ser uma forma equivalente a baixar salários e pensões. Ora, o Estado fazer lucro com a ADSE através de um aumento das contribuições dos trabalhadores acima do valor necessário para o seu equilíbrio financeiro, mesmo que o Estado reduzisse a zero a sua contribuição directa, foi considerado como abusivo por parte da Presidência da República. E bem, a meu ver, pois constituiria um “abuso de poder de mercado”. O que está previsto desde o início é a contribuição do orçamento do estado passar a zero, e até aí, para compensar essa diminuição de receita, poderá ser aumentada a contribuição.

O segundo aspecto é a transferência de verba da ADSE para o SNS a título de despesa com medicamentos. O argumento é o de que os medicamentos se encontram já cobertos pelo SNS. Este argumento é verdadeiro mas só até certo ponto. Exemplos ajudam a ilustrar. Suponhamos um doente crónico, que tem sempre a mesma despesa mensal em medicamentos, e que não se altera ao longo do ano. Se não tiver ADSE tem esse consumo pago pelo SNS. Se tiver ADSE, como paga os mesmos impostos, a cobertura dada pelo SNS continua a ser dada (de outro modo discriminam-se os cidadãos com base no subsistema que usam, e apenas por isso), logo não deve ser feita qualquer transferência.

Suponha-se agora que esse mesmo doente por ter ADSE vai mais facilmente a consultas de especialidade (uma hipótese alicerçada na evidência empírica disponível), e que nessas consultas são prescritos medicamentos. Como resultam de “consumo adicional” que não ocorreria caso o doente não tivesse ADSE devem ser imputados à cobertura ADSE. De outro modo, a existência da ADSE gera despesa indirecta para o Serviço Nacional de Saúde. É este acréscimo que deve ser pago pela ADSE ao SNS e não toda a despesa, pois este acréscimo corresponde ao efeito de procura adicional de cuidados de saúde gerada pela cobertura ADSE.

Agora, segundo o i-online (aqui), o diploma seguiu para a Assembleia da República tal qual estava, e por isso vamos assistir a uma batalha política sobre como reduzir salários “por linhas tortas” dos funcionários públicos, com a única diferença de neste caso haver para os funcionários públicos uma possibilidade de evitar esse corte, saírem da ADSE, o que poderá complicar as contas de receita a transferir da ADSE para o orçamento do Estado. Será que ainda se ouvirá o argumento de como os beneficiários da ADSE receberam do orçamento do estado no passado é agora justo que paguem para esse orçamento do estado mais do que os outros cidadãos? (há dias em que nada me surpreende)

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