Momentos económicos… e não só

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Observatório mensal da dívida dos hospitais EPE, segundo a execução orçamental (nº 31 – Novembro 2016)

Mais um mês que passa, mais um mês que se adiciona à tendência de longo prazo de crescimento das dívidas dos hospitais EPE. Se no mês passado ocorreu uma contenção nesse crescimento, este mês retoma em linhas gerais o caminho histórico. Verifica-se assim o padrão de após alguma contenção, surgir a variação mensal da dívida com um pouco mais de vigor para recolocar a evolução média em valores médios elevados. Sem regularização extraordinária de dívidas não se vê como será possível atingir objectivos de stock de dívida que foram anunciados pelo Ministério da Saúde há algum tempo para o final do ano.

Apesar do crescimento deste mês, o ritmo de médio de crescimento da dívida abrandou muito ligeiramente, ainda por força do decréscimo ligeira verificado no mês anterior. O ritmo de crescimento está, com a revisão por inclusão do valor referente a Outubro de 2016, em 28,8 milhões de euros por mês.

Fazendo agora um ano que o actual Governo tomou posse, esta é uma área de intervenção que não apresenta ainda resultados visíveis. Mesmo que haja alguma transferência de verbas que faça baixar, no final do ano, a dívida, o elemento preocupante é a tendência de subida que persiste há muitos meses (alguns anos). Como o Governo anunciou, e bem, a necessidade de renovação de equipamentos e aumento da manutenção, mas sem aumentos de orçamento significativos (a menos que reduza nos cuidados de saúde primários para colocar mais verba nos hospitais, o que seria contrário às prioridades apontadas de reforços dos cuidados de saúde primários), não é perceptível como o ano de 2017 poderá ter uma tendência diferente deste ritmo histórico.

As (anunciadas) medidas no campo da gestão hospitalar poderão vir a surtir efeito, mas dependendo de avaliações e eventuais reorganizações, demorará tempo até conseguirem, se conseguirem, inverter esta tendência.

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Objectivos de dívida no Ministério da Saúde

Segundo o jornal Tempo Medicina, o Ministro da Saúde assumiu que “o Governo mantém o objectivo de fechar as contas da execução orçamental de acordo com as metas traçadas para este ano: um saldo de menos 179 milhões e acabar 2016 com “um stock de dívida e um prazo médio de pagamentos igual, senão melhor, ao registado em Dezembro de 2015″.

Ora, olhando apenas para os hospitais EPE, a dívida em atraso no final de 2015 era de 451 milhões de euros, em final de setembro de 2016 era de cerca 713 milhões de euros. Se a tendência histórica de crescimento se mantiver sem mais, no final do ano as dívidas em atraso serão de 830 milhões de euros. Isto significa que o objetivo do Governo não é alcançável apenas com evitar nova dívida em atraso, é necessário recuperar. O que nos quatro meses que faltam até ao final do ano só é possível com uma ou várias das situações seguintes:

a) forte contenção da despesa de forma a que hospitais libertem fundos para pagar dívidas em atraso de forma expressiva (e como o problema está concentrado nalguns hospitais, terá de ser contenção de despesa nesses ou forçar a que os de boa gestão paguem os de má gestão, normalmente desastroso em termos de incentivo ao bom desempenho);

b) remeter nova despesa para divida escondida, que só apareça depois do final de 2016, e que não sendo registada agora nominalmente permita atingir o objectivo pretendido. Duvido que seja esta a opção tomada, dado o risco de descredibilização que traria a todo o sistema orçamental dos hospitais EPE;

c) orçamento retificativo ou outra forma de injetar quase 380 milhões nos hospitais EPE até final do ano para que o stock de dívida em atraso ficasse (ligeiramente) abaixo do que estava no final de 2015. A utilização, ou não, desta alternativa depende de vários factores, incluindo o andamento do défice orçamental global, e mesmo que fosse desta forma atingido o objectivo, não o seria por alteração da dinâmica estrutural.

d) outra alternativa que não me esteja a lembrar…

Teremos que esperar até ao final do ano para ver o que sucede aqui, mas não deixa de ser uma meta exigente que o Ministério da Saúde colocou a si próprio.


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um comentário adicional sobre as dividas dos hospitais

Tendo regressado ao inicio da noite da capital da Europa, vulgo Bruxelas, constato que as dividas dos hospitais fizeram parte da agenda de discussão do Ministro da Saúde com a Comissão Parlamentar da Saúde. Não tendo assistido à sessão (calculo que possa ter passado no canal da Assembleia da República), e apenas tendo visto  um sumário numa televisão generalista (graças às gravações automáticas), há um aspecto que merece um comentário rápido.

O problema das dívidas dos hospitais não está em valor ser mais alto ou mais baixo num ano face ao outro, como aparentemente foi ponto de discussão. O problema está em existir um processo permanente, dinâmico, do crescimento dessa dívida. E nem os Governos anteriores foram capazes de travar essa dinâmica de forma duradoura, nem este Governo aparentemente o está a conseguir fazer. Haverá sempre “explicações” pontuais para esse crescimento, mas é esconder o problema sem realmente o atacar.

No primeiro Governo liderado por Passos Coelho, durante a primeira metade de 2015, ainda se teve um conjunto de meses em que a tendência foi de descida, mas aproximando-se as eleições a pressão para uma gestão que evitasse essas dívidas parece ter-se desvanecido.

Atualmente, com o argumento do aumento de despesa devido às 35 horas semanais,  volta-se a cair na tentação de encontrar explicações em vez de resolver o problema. Se há um aumento de despesa determinado por decisão central do Governo, então as instituições deveriam receber o reforço de orçamento correspondente a essa decisão. De outro modo, está-se a introduzir um elemento perverso de gestão, ao descredibiliza o orçamento atribuído. O que só poderá resultar no futuro, como sucedeu no passado, num acelerar do crescimento da dívida (uma vez que até se passa a ter uma “razão” para ter dívida).

No caso das dívidas dos hospitais EPE, nenhum dos dois lados politicos tocou nos aspectos essenciais, limitando-se ao “combate” para a televisão e não para a solução do problema (claro que posso estar a ser injusto, e terem sido discutidas e até encontradas propostas de solução que não foram reportadas na peça televisiva que vi; se for esse o caso, amanhã aqui deixarei a rectificação).


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Observatório mensal da dívida dos hospitais EPE, segundo a execução orçamental (nº 29 – Setembro 2016)

Ontem foi divulgado mais um relatório da execução orçamental, que tem uma vez mais um crescimento da dívida dos hospitais EPE. Este crescimento não sai significativamente fora da tendência histórica do último ano. A actualização do ritmo de crescimento continua perto dos 30 milhões de euros por mês.

Esta tendência de crescimento é agora a de duração mais longa desde o início deste observatório, sem ocorrer uma inversão ainda que por poucos meses.

Revela a permanência do problema e a falta de capacidade para o resolver, pois regularização de dívidas e injecções de fundos não são solução. Os períodos de redução de dívidas foram sempre invertidos. Ainda assim seria bom conhecer o que foi feito de diferente durante esses períodos para perceber como se poderá de forma duradoura evitar pagamentos em atraso dos hospitais EPE.

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(nota: a observação do gráfico sugere que a tendência de redução de 2015 se poderia estender para lá de Agosto de 2015, até Outubro, e a tendência de subida ser apenas a partir de Novembro de 2015. Estatisticamente, essa possibilidade tem um desempenho inferior à adoptada por este Observatório de a inversão de ciclo ter ocorrido em Agosto de 2015).


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Observatório mensal da dívida dos hospitais EPE, segundo a execução orçamental (nº 27 – Julho 2016)

Com algum atraso, devido ao momento do ano, a análise do dívida dos hospitais EPE com base na execução orçamental de Julho mostra uma aceleração dessas dívidas, claramente visível no facto dos três últimos valores conhecidos terem um crescimento médio mensal em valor absoluto superior ao que é a tendência histórica (juntando os períodos de crescimento da dívida dos hospitais EPE desde Janeiro de 2013).

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Há, no texto de análise da execução orçamental, uma potencial justificação: a “evolução no 1º semestre não reflete ainda as ações desenvolvidas no sentido de regularizar as dívidas a fornecedores, nomeadamente a utilização de saldos de gerência de 2015 (até junho foram utilizados 70 milhões de euros para este fim).”

Se passado meio ano ainda não foi feita essa utilização, a questão que se coloca é saber porquê. O aspecto preocupante contudo não é o nível absoluto, mas o ritmo de crescimento. Estando os hospitais neste momento já a operar com o orçamento de 2016 (ou deveria ser esse o caso), então se este orçamento fosse suficiente para cobrir as suas despesas não deveria haver mais crescimento da dívida dos hospitais EPE (a dívida passada lá estaria à espera de ser paga com os saldos de gerência). Havendo esse crescimento, ou a despesa dos hospitais EPE está em crescimento acima do orçamento razoável, ou o orçamento inicial não era razoável. Mas qualquer que seja a resposta, há um problema que não foi ainda resolvido. De acordo com a estimativa englobando a informação mais recente, o ritmo de crescimento das dívidas dos hospitais EPE é de cerca de 30 milhões euros por mês.

Com o novo portal do SNS e a sua área dedicada ao tema “Transparência” é possível olhar para a dívida total, vencida e pagamentos em atraso. Os valores apresentados são essencialmente os mesmos que estarão na base do valor global divulgado pela Direção-Geral do Orçamento na Execução Mensal (encontrei uma diferença de 0,06%). Desta informação, referente a Maio de 2016, 5 hospitais eram responsáveis por 60,35% dos pagamentos em atraso, e o top 10 correspondia a 80,91% do total dos pagamentos em atraso. Ou seja, o problema aparenta estar concentrado num grupo pequeno de hospitais (alguns são hospitais grandes, outros nem tanto).

 

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Observatório mensal da dívida dos hospitais EPE, segundo a execução orçamental (nº 26 – Junho 2016)

Os resultados da execução orçamental divulgados em junho, referentes a maio, podem ser resumidos numa velha expressão: plus ça change, plus c’est la même chose.

A evolução referente ao mês de maio vem mostrar que a descida da dívida dos hospitais EPE ocorrida no mês anterior foi meramente pontual. O valor do mês de maio recupera essa queda de abril, e recoloca o valor total na mesma tendência de subida. Esta tendência tem assim um “período de vida” de 10 meses e mostra uma vez mais como efeitos pontuais (de descontos de final de ano, por exemplo) não afectam uma tendência mais permanente e que acaba por vir ao cima.

Em termos estatísticos, não se rejeita a possibilidade de a tendência de subida da dívida dos hospitais EPE que se está a verificar desde o final do Verão do ano passado ser igual à que existiu em 2013, 2014 e durante parte de 2015 (três meses), registando como valor médio de subida mensal de 29 milhões de euros.

O crescimento médio em valor absoluto só desde Setembro de 2015 foi de 20 milhões de euros por mês, embora a variabilidade de mês para mês não permita eliminar a possibilidade de pertencer à mesma tendência dos meses de crescimento da dívida dos últimos 4 anos.

Assim, deve haver neste momento preocupação em perceber o que está subjacente a esta subida da dívida, e que acções estão, ou deverão, ser tomadas para evitar este crescimento. É um problema ainda por resolver.

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Observatório mensal da dívida dos hospitais EPE, segundo a execução orçamental (nº 25 – Maio 2016)

Foram divulgados na semana passada os valores da execução orçamental referentes a Abril de 2016, permitindo mais uma actualização da análise da evolução das dívidas dos hospitais. O valor para o mês de Abril tem uma diminuição no valor da dívida dos hospitais EPE. A evolução é idêntica nos valores divulgados pela APIFARMA e pela DGO, conforme se observa na primeira figura abaixo (são diferentes, uma vez que a APIFARMA considera todas as dívidas, e o conceito de dívidas em atraso reportada pela DGO é mais restritivo na sua definição).

Esta redução em Abril é uma melhor notícia do que se tivesse continuado a aumentar o volume das dívidas hospitalares. Ainda assim, apenas um valor, e não muito diferente da tendência, não permite falar de uma inversão da situação. A segunda figura ilustra esta afirmação, pois revela que o número mais recente não está longe da linha de tendência, e no passado recente já houve outro desvio desse tipo sem que tal fosse uma mudança da tendência desde o final do Verão de 2015.

A estimativa de tendência é neste momento de aumento de 17 milhões de euros por mês nas dívidas dos hospitais EPE, em média, praticamente metade do que foi a tendência de subida (nos períodos de subida) das dívidas do início de 2013 ao Verão de 2015.

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Observatório mensal da dívida dos hospitais EPE, segundo a execução orçamental (nº 21 – Janeiro 2016)

Tendo sido divulgada a execução orçamental referente a Dezembro de 2015, é tempo de actualizar o observatório mensal da dívida dos hospitais EPE. Os valores divulgados agora mantêm no essencial a tendência passada recente. Se em novembro de 2015 ocorreu uma ligeira subida na dívida, essa valor desceu em dezembro face a novembro. Dado que há acertos de fim de ano, nomeadamente descontos de preços, não é surpreendente que tenha ocorrido esta ligeira descida. As figuras usuais ilustram a manutenção da tendência de descida, que em ritmo médio tem sido de 11 milhões de euros por mês desde há praticamente um ano, mesmo se houve algumas oscilações intra-anuais. Esta evolução de descida é corroborada pelos valores coligidos pela APIFARMA (no respectivo site ainda não constava no dia 26.01.2016 a actualização referente a Dezembro de 2015).

Esperemos que os próximos meses confirmem a manutenção da tendência do último ano, uma vez que a reposição de salários poderá levar a alguma perturbação nas contas dos hospitais EPE com o risco de aumento das dívidas em atraso a terceiros.

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Observatório mensal da dívida dos hospitais EPE, segundo a execução orçamental (nº 20 – Dezembro 2015)

Mesmo a fechar o ano, não podia faltar o número de Dezembro deste Observatório informal sobre a dívida dos Hospitais EPE, com curiosidade de perceber se a mudança política trazida pelas eleições de Outubro de 2015 se traduziram nalguma modificação de comportamento. Com a divulgação de execução orçamental relativa a Novembro, faz-se a cobertura do período de transição entre o final do primeiro Governo liderado por Passos Coelho e a tomada de posse de António Costa. Assim, qualquer efeito que se possa encontrar estará associado com essa transição apenas. Em Outubro e Novembro de 2015 ocorre um aumento da dívida dos Hospitais EPE, em sentido contrário ao que vinha a ser a tendência desde praticamente o início do ano. O aumento não é porém ainda suficientemente forte para que se possa falar numa inversão de tendência em sentido estatístico do termo.

A preocupação com uma possível inversão de tendência terá que esperar ainda alguns meses. A execução orçamental do mês de Dezembro (que será conhecida no final de Janeiro de 2016) provavelmente beneficiará de efeitos de fim de ano em termos de descontos e paybacks de acordos que existam. E dependendo do que venham a ser os orçamentos definidos para os hospitais pelo novo Governo, os valores de Janeiro poderão vir a ser pouco informativos. A informação pública, a menos de algum efeito muito forte que venha a existir, durante os próximos meses será assim mais difícil de interpretar.

A habitual Figura com as linhas de tendência e a respectiva regressão de suporte podem ser comparadas com os do mês anterior, para se ver a atenuação da linha de tendência de descida (que permanece como não rejeitando a hipótese de estabilidade como possibilidade – coeficiente de declive não é estatisticamente distinto de zero), que passou de -14M€/mês para -12M €/mês.

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Observatório mensal da dívida dos hospitais EPE, segundo a execução orçamental (nº 18 – Outubro 2015)

Apesar do furacão político em curso (quase a rivalizar com o furacão Patricia), há que manter alguns hábitos, e um deles é a actualização do Observatório Mensal da dívida dos hospitais EPE. O mês de Setembro mostra a continuação da tendência decrescente, inversão desde Fevereiro de 2015 da situação anterior. A estimativa de decréscimo mensal da dívida dos hospitais EPE é, de acordo com estes números, de 14M€ por mês.

Os dados das dívidas hospitalares da APIFARMA mostram também o mesmo tipo de evolução. Os dois gráficos seguintes ilustram estes dois comentários.

O maior risco neste momento está na mudança de Governo (qualquer que ele seja), uma vez que se esta evolução se dever a acompanhamento da gestão por parte da equipa ministerial, poderá ter um interregno (ou mesmo nova inversão, desta vez para subida). Em contrapartida, se estivermos na presença de uma tendência mais estrutural, o ritmo de redução das dívidas deverá manter-se. Veremos daqui a um mês o que os números nos reserva,

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(fonte dos dados: Direcção Geral do Orçamento, execução orçamental)