Momentos económicos… e não só

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o guião da reforma do estado (take 2) – (12)

A secção sobre fomento económico sofreu também alterações de relevo, tendo como pontos essenciais a definição de quatro instrumentos principais:

a) fundos europeus

b) CGD

c) a nova instituição de fomento

d) capital de risco.

Mas continua a estar presente alguma confusão de estratégia – não se quer dirigimos, mas fazem-se apostas em clusters; quer-se evitar os erros do passado, mas a métrica de sucesso é a execução, a mesma que ajudou aos erros do passado; a nova entidade de fomento destina-se a cobrir falhas de mercado (em quais, exactamente?) e em subsídios reembolsáveis, mas ao mesmo tempo expressam-se objectivos de correcção de assimetrias e investimento no território, e se a empresa que oferecer maior probabilidade de reembolso do subsídio não estiver na região “certa”, o que vai prevalecer?

Como sempre, na atribuição e utilização de fundos, “the devil is in the details”.

Um sumário do que está de novo no guião da reforma do estado:

“A prioridade deve ser o financiamento e a capitalização das empresas (…) Com a reprogramação e a agilização dos fundos europeus, direcionados para áreas verdadeiramente estratégicas, aumentando a taxa de execução dos últimos anos, foi possível injetar na economia portuguesa cerca de 6,8 mil milhões de euros. (…) A consagração de uma carta de missão para a CGD, que estabelece objetivos quantitativos claros, representa um passo em frente e o escrutínio anual dos seus objetivos permitirá assinalar o respetivo grau de cumprimento; (…) racional geral e de interesse nacional na aplicação dos fundos, em articulação com o investimento no território, que deve ser um fator de coesão económica e social e de correção de assimetrias” Em contrapartida, retirou-se “O modelo de governação da CGD, na medida em que o Estado é o único acionista, deve ser revisitado;”

E ainda

“instalação da Instituição Financeira de Desenvolvimento, que irá mobilizar fundos do Portugal 2020 bem como o produto dos reembolsos de subsídios reembolsáveis, passados e futuros, e financiamentos disponibilizados por outras instituições como o BEI, que serão integralmente aplicados nas empresas. Esta instituição, que funcionará de forma anti-cíclica, cobrindo falhas de mercado, e em articulação com a Banca Nacional, beneficiará da reestruturação dos diferentes instrumentos financeiros do Estado (PMEI, SPGM, PT Ventures e SOFID) ”

“Em especial no capital de risco, a estratégia a seguir passa por destacar os apoios do Estado (por via de apoio aos Business Angels e PT Ventures) nas fases iniciais de criação de empresas, deixando a vertente de Private Equity, essencialmente, para os agentes privados (ainda que possa o Estado co investir e.g. Fundos Revitalizar); ”

“não acreditando o Governo em políticas económicas dirigistes (…) os cluster industriais portugueses merecem uma aposta consistente, de modo a que se tornem mais competitivos, constituindo-se como verdadeiros pólos agregadores de valor acrescentado, que são essenciais para consolidar a atratividade do nosso país junto dos investidores internacionais;”


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o guião da reforma do estado (take 2) – (11)

Mais algumas diferenças entre as duas versões do guião da reforma do estado:

Sobre os diplomatas, foi acrescentado: “Em ciclo de crescimento, e sendo as exportações e a captação de investimento fatores estruturais para uma economia pujante, a melhoria da rede externa, tanto nas suas componentes diplomáticas como comercial e turística, é um importante pilar, capaz de maximizar oportunidades e receitas;” o que vem na linha de ideias anteriores, mas pouco diz sobre como se torna operacional, e se a forma de selecção dos diplomatas, a entrada na carreira diplomática, passará a acomodar estas preocupações.

Sobre a Justiça, “estão em fase de audições públicas as, igualmente importante, reformas do Código de Processo nos Tribunais Administrativos e do Estatuto dos Tribunais Administrativos e Fiscais;” (a visão de que as reformas da justiça têm ser feitas pelas mudanças de normativas e não por mudanças de comportamento continua presente)

Sobre o funcionamento dos mercados, “Promover uma gradual concentração de reguladores sectoriais, com menor número de entidades;”, que sendo uma ideia que tem sido testada noutros países, não há ainda evidência convincente que seja uma melhoria no funcionamento dos aspectos regulatórios – veremos o que querem “agregar” em termos de regulação, porque se for apenas para poupar uns ordenados, poderá ter outras consequências sobre a capacidade de actuação de “mega-entidades” reguladoras. E ainda sobre este tema “deve constituir prioridade do Governo evitar e, quando necessário, legislar, para impedir a permanência ou constituição de monopólios, públicos ou privados, ou a substituição de monopólios públicos por privados. A doutrina da limitação do poder não é apenas uma conquista da democracia política.” (a bold o que é novo) A preocupação manifestada é saudável, pois por vezes torna-se demasiado fácil dizer que privatizar resolve problemas, mas no caso de situações de monopólio poderá não ser assim.

 

 

 

 


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o guião da reforma do estado (take 2) – (10)

Uma das reformas (que não o foi) do Governo, apesar de constar no Memorando de Entendimento, refere-se às autarquias, que tem duas alterações interessantes na nova versão do guião de reforma do estado: “a instituição, com o máximo de consenso interpartidário possível, de um processo voluntário de reforma dos municípios, estimulado por um quadro de vantagens institucionais que permita a sua agregação; preparar um novo processo de transferência de competências da Administração Central para os municípios e as entidades intermunicipais, com envelope financeiro mas sem aumento da despesa pública.”  em que a bold está a parte nova – o elemento de voluntário fará toda a diferença como forma de obter algum resultado sem ter que enfrentar resistências das “forças locais”. Esta é uma forma mais inteligente de procurar obter uma dinâmica de reconfiguração do mapa autárquico.

No momento em que surgem notícias de dificuldades financeiras nalgumas autarquias, a fusão poderá ser uma solução para algumas delas, partilhando serviços e recursos.

A segunda parte é mais misteriosa, saber o que significa envelope financeiro mas sem aumento da despesa pública – significa que a verba a transferir como valor será igual ou inferior ao que é gasto pela administração central com essas competências? significará que é um valor fixo, e que se as autarquias conseguirem fazer melhor que a administração central podem ficar com e usar livremente as poupanças que gerarem? esta transferência de competências adicional faz parte do “quadro de vantagens institucionais” para levar à reforma (e agregação) dos municípios?

 

cmlisboa


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o guião da reforma do estado (take 2) – (9)

O capítulo 3 é dedicado, tal como antes, a “um estado moderno no século XXI”, e a procura de novidades de revisão mostra que houve apenas mudanças visíveis na parte de tecnologias de informação para a reforma do estado.

“É, assim, estruturante: a consolidação e centralização das responsabilidades em TIC em cada ministério, de modo a atingir ganhos de economia de escala e de escopo [suponho que seja tradução googleriana de “scope”?!];   a consolidação dos data-centers e salas técnicas existentes na Administração Pública (que são hoje mais de 6.000) em apenas alguns em cada ministério; a concentração das plataformas de telecomunicações ao nível dos ministérios, bem como a renegociação e consolidação dos respetivos contratos, passando a haver apenas um contrato por ministério; a preferência pela aquisição de soluções de software livre ou open source e/ou a renegociação de soluções de software proprietário, centralizando- se essa tarefa de renegociar numa única entidade; o desenvolvimento de uma plataforma business-to-business (B2B) para contratação pública que permita reduzir os custos de contratação e monitorizar o processo de contratação pública.”

A pergunta que me fascina é mesmo como foi possível vir a ter mais de 6000 datacenters e salas técnicas na administração pública, isto dará quantas por cada organismo? não espanta que a engenharia informática seja uma profissão de futuro…

 

 


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observatório mensal da dívida dos hospitais EPE, segundo a execução orçamental (mês 2)

Um mês depois, novos números para a dívida do SNS e dos hospitais EPE em particular permitem recalcular a evolução recente e concluir que tudo se encontra na mesma – crescimento da dívida em ritmo que não estatisticamente diferente da evolução desde 2012 (excluindo os meses de regularização extraordinária de dívidas). Mesmo em versões menos sofisticadas das contas isso é visível: o acréscimo médio por mês nos primeiros quatro meses de 2014 foi de 31 milhões de euros, o acréscimo médio por mês nos primeiros 10 meses de 2013 (retirando Novembro e Dezembro por ter havido regularização extraordinária de dívidas) foi de 31 milhões de euros ao mês (não é gralha, é o mesmo valor), e nos quatro primeiros meses de 2013 foi de 32 milhões de euros.

Continuam válidas as observações realizadas anteriormente sobre esta evolução da dívida. Se no mês passado um ligeiro decréscimo no ritmo de acumulação de dívida “pedia” para esperarmos um mês a ver se era o início de uma mudança estrutural, o valor deste mês retira as dúvidas de não estar a ocorrer ainda qualquer mudança. O último valor observado continua bem dentro de um intervalo de confiança, como se vê na figura 1 abaixo. Na figura 2 apresenta-se apenas a actualização face ao mês passado dos valores observados e dos valores previstos.

(link para o mês passado: aqui; link para uma proposta de solução:  aqui)

Figura 1

Figura 1

Figura 2

Figura 2


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sobre o uso do direito de voto,


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o guião da reforma do estado (take 2) – (8)

Mais para a frente no documento da reforma do estado, surge uma mudança do tom político, sem grande importância, mas curioso, de: “o centro-direita ao centro-esquerda, que, na Europa, estão confrontados com a crise, conhecem as limitações económicas e demográficas, bem como os mecanismos institucionais de resposta a esta crise.” para “Apesar da pluralidade de origens ideológicas, todos esses Governos, confrontados com a crise e conscientes das limitações económicas e demográficas, optaram por políticas de reforma.”

Mas também uma ironia: de um tom cauteloso “As previsões de crescimento para 2014 apontam para uma recuperação moderada (…)” para um mais confiante “Após 10 trimestres em recessão, Portugal saiu da recessão técnica. As previsões de crescimento para 2014 já foram revistas em alta, e comparam bem com os indicadores na zona euro “, que acabou por ser desmentido pelos últimos números conhecidos do INE (Comparativamente com o trimestre anterior, o PIB diminuiu 0,7% em termos reais (variação de 0,5% no 4º trimestre), devido sobretudo à redução das Exportações de Bens e Serviços.)


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o guião da reforma do estado (take 2) – (7)

Na página 26 do guião da reforma começa a parte certamente elaborada pelo Ministério da Educação e Ciência, com uma reformulação do antigo texto, embora permanecendo as principais ideias. É introduzido o plano de acção da secretaria de estado da ciência e da fundação para a ciência e a tecnologia (“Reformar é também estabelecer critérios de maior exigência na atribuição de fundos públicos para a ciência e atração de investigadores de topo; criar programas para uma maior transferência do conhecimento do tecido produtivo, estimular a competitividade internacional do Sistema de Ciência e Tecnologia, tendo em vista o sucesso de Portugal no Horizonte 2020, iniciar a avaliação internacional competitiva de todas as Unidades de I&D ou a redefinição das respectivas agendas de investigação, em consonância com as estratégias nacional e regionais de especialização inteligente, são outros exemplos de reforma. “)

Segue-se a parte da saúde, onde há apenas uma actualização da informação sobre o que está já a ser feito (“enfrentaram-se as rendas excessivas e consentidas na política do medicamento e avançou a prescrição por DCI, com impacto significativo na redução dos encargos suportados pelo Estado e pelos utentes; aumentou-se a transparência do sistema através da disponibilização de informação relativa ao benchmarking das unidades hospitalares e dos resultados da evolução dos principais tipos de doença em Portugal; reforçou-se a aquisição centralizada de bens e serviços; foram revistas as taxas moderadoras, com aumento de 1,4 milhões de utentes isentos face a dezembro de 2011″).

Estes dois exemplos mostram que os vários ministérios contribuíram para o guião, embora mais numa perspectiva de relato do que estão a fazer ou de princípios gerais sobre acções que querem fazer, tipo relatório de actividades, e não tanto plano de acção apresentando problemas, soluções alternativas e escolhas. Aliás, o tom de relatório de actividades toma conta desta secção durante muitas páginas, sem grande revisão do texto.

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o guião da reforma do estado (take 2) – (6)

O capítulo 2 deste documento mantém o seu título “Reformar é diferente de cortar”. Não há muitas diferenças, e algumas são apenas de redacção, para versões mais amigáveis do cidadão, como a nova entrada referente à simplificação administrativa: “Reformar o Estado, é simplificar procedimentos. Nesse plano, o princípio “só uma vez”, segundo o qual os cidadãos e empresas são dispensados de entregar informação ou documentos que a Administração Pública já possua, e a sua implementação os novos regimes de licenciamento industrial e ambiental; ou a agilização dos regulamentos dos equipamentos sociais, são elementos críticos, necessários mas não suficientes, de redução da burocracia económica e social. As iniciativas relativas ao uso alargado das tecnologias de informação na relação da Administração com a sociedade, bem como a reforma do Código de Procedimento Administrativo, visando acelerar o processo de decisão administrativa, são outros passos relevantes na direção da simplificação.”

Mas logo de seguida, surge um novo parágrafo sobre o “crescimento verde”, que é um conjunto de boas intenções vazias no seu conteúdo específico sobre que acções vão ser tomadas: “Reformar o Estado, é fomentar o crescimento verde apostando na proteção, valorização e utilização eficiente dos recursos naturais e no desenvolvimento de novos padrões de consumo e de produção. A resolução de passivos ambientais, a reestruturação do sector dos resíduos, a revisão do plano de ação e dos instrumentos de ordenamento do litoral, a nova visão para a política de clima e energia, com reforço dos objetivos ambientais e das interligações energéticas; ou, ainda, o regime excecional para a reabilitação urbana, a nova Lei de Bases dos Solos, do Ordenamento do Território e do Urbanismo ou o novo regime jurídico da mobilidade elétrica, são outros exemplos de reforma. ” Qual é a nova visão mencionada? o que são os novos padrões de consumo e de produção? e a tentação  da aplicação dessa “visão” através da produção normativa…Em vez de reforma do estado, isto parece muito a forma como o estado tem sempre actuado; pressuponho que sejam aprovadas leis e publicados decretos-lei, que necessitam depois de portarias de regulamentação que nunca chegam a ver a luz do dia.

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o guião da reforma do estado (take 2) – (5)

Na secção “Consensos  para uma política da administração pública”, ao contrário de outras secções, retirou-se o “lamento” sobre os “bloqueios à acção do Governo”, tornando o texto mais simples de seguir. O texto anterior recebe algumas adições, passando a referir-se de forma explícita a regras, escolhas e consensos que “conciliem a sustentabilidade das políticas públicas e a promoção do crescimento e do emprego”; sobre a revisão constitucional, o Governo “conhece as dificuldades políticas para gerar consenso neste ponto. Por isso, sempre o considerou desejável, mas não condição indispensável nem condição suficiente “, uma formulação mais suave que a anterior “declara a sua convicção de que essa introdução da “regra de ouro” na lei fundamental beneficiaria o interesse nacional”.

Onde também há uma mudança é na referência aos funcionários públicos, onde além da qualificação se fala agora em “motivação dos agentes, mais recompensados sob o ponto de vista do mérito e do empenho; a aposta na negociação social da política de rendimentos na Administração Pública, visando a recuperação progressiva e faseada dos salários, tendo em atenção uma tabela remuneratória única dotada de maior racionalidade e coerência, tendo em conta as disponibilidades orçamentais” (e como se vê, não se perdeu a oportunidade de mais uma vez transmitir a ideia de recuperação salarial na função pública).

Ainda sobre a função pública, onde se falava antes apenas em reformas antecipadas, redução da despesa através da requalificação, rescisões e trabalho e reforma a tempo parcial, agora fala-se em “abertura à negociação de uma política coerente entre os instrumento de racionalização da Administração – rescisões e requalificação, trabalho e reforma a tempo parcial -, a política de aposentações e os necessários critérios de renovação e contratação de pessoal” – a parte final é novidade (pós-17 de maio, pré-legislativas de 2015, com a contratação de funcionários públicos?)

Há claramente uma mudança de tom, bastante menos agreste do que a versão anterior.