Momentos económicos… e não só

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o relatório sobre a 11ª avaliação da troika – saúde (5)

Continuando na leitura da 11ª avaliação, uma outra novidade está no método de planeamento de recursos humanos. Até agora havia um compromisso de inventariação dos recursos humanos afectos ao Serviço Nacional de Saúde (leitura minha para “health staff”), que aparenta agora passar para o âmbito dos planos estratégicos a 3 anos. A dúvida que fica é saber se se refere aos planos estratégicos dos hospitais, pois este ponto aparece debaixo do titulo de Serviços Hospitalares, caso em que deixará de fora muitos dos recursos humanos do Serviço Nacional de Saúde, ou se existe um plano estratégico global a 3 anos do SNS que simplesmente não é conhecido publicamente. O texto original é “(3.41) Annually update the inventory of all health staff for the period up to 2014 [ongoing]. The 3-year strategic plans specify plans to reallocate qualified and support staff within the NHS [Q1-2014]”

Vingando a ideia de que o compromisso se aplica apenas aos serviços hospitalares, e que passou para o âmbito dos planos estratégicos, ficam por saber duas coisas: como será feita a coordenação, dado que os planos estratégicos dos hospitais feitos individualmente não asseguram uma coerência global quanto aos recursos humanos; e, o que se passa com os recursos humanos no resto do SNS, sobretudo quando também existe o objectivo de fazer com que haja maior presença de médicos hospitalares em cuidados de saúde primários.


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reforma do estado: take 2

disponibilizado hoje novo relatório sobre a reforma do estado, aqui.

Está difícil de acompanhar a produção de documentos nesta altura – foi o relatório da comissão europeia sobre a 11ª avaliação, foi o DEO (que espero terminar de ler e comentar em breve), é este novo relatório sobre a reforma do estado  (para procurar as diferenças com o anterior, será que vale a pena?).

 


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o relatório sobre a 11ª avaliação da troika – saúde (4)

Uma pergunta é saber se esta 11ª avaliação da troika trouxe alguma coisa nova, em termos de compromissos. A resposta é positiva. No campo dos cuidados de saúde primários, é introduzido um novo item: estabelecimento de horários de atendimento que permitam satisfazer as necessidades da população e oferecer alternativas às urgências hospitalares. (comparar o ponto 3.41 do memorando, 9ª revisão resultante da 10ª avaliação, com o ponto 3.37 da 10ª revisão resultante da 11ª avaliação).

Esta medida poderá partir do pressuposto que os horários de atendimento são a principal barreira a que haja um maior desvio de procura da população quando se sente doente para os cuidados de saúde primários (centros de saúde, organizados em USF ou não).   Embora seja uma ideia com apelo, há que ter também em atenção que o recurso às urgências surge não só de uma questão de acessibilidade de horário mas também, e talvez sobretudo, de uma questão de acessibilidade a tecnologia de diagnóstico que se espera ter disponível (fazer logo todos os exames, em lugar de ter que ir nos dias seguintes fazer esses exames, por exemplo).

 


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o relatório sobre a 11ª avaliação da troika – saúde (3)

Terceira constatação sobre esta 11ª avaliação da troika, na saúde, o ter-se considerado alcançado o objectivo de redução da despesa com horas extraordinárias. No primeiro memorando estava escrito “adopt flexible work regimes to reduce overtime compensation (10% in 2012, 10% in 2013)”. Este objectivo foi dado como observado, e logo concluído.

Na mesma linha, uma quarta constatação, referente à classificação de “observado” (ou concluído) pela troika de um compromisso introduzido na primeira revisão do memorando, “Improve monitoring, internal control and fiscal risks management systems” at the health regions level”, que foi sofrendo alterações de redacção, e deslizar de prazos. Apesar desse atraso na aplicação, foi dado como cumprido. 

Idem, para os compromissos ligados às aquisições de serviços ao sector privado e ao sector da distribuição dos medicamentos que ainda restavam, dados como “observado” (concluído). A última versão escrita no memorando era “Continue to monitor NHS spending with private providers delivering diagnostic tests and therapeutic services (with particular reference to dialysis, rehabilitation, respiratory care). Take further measures to increase competition among private providers and between private and public providers in these areas of service provision with a view to ensuring competition and fair prices in private markets. These measures should aim at reducing the overall spending of the NHS with private providers. Take measures to ensure competition in the pharmacies sector [Q4-2013]”.

Não se consegue inferir do relatório de apreciação da troika qual a base de evidência de cumprimento deste objectivo, pois nunca foram explicitadas as condições do que se entendia ser suficiente para ter concorrência e para observar “preços justos” (conceito difícil de objectivar) nos mercados privados. Mas é mais um ponto do memorando cumprido pelo Ministério da Saúde na perspectiva da troika.


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o relatório sobre a 11ª avaliação da troika – saúde (2)

A segunda constatação referente à 11ª avaliação da troika no sector da saúde é o que se passará na ADSE – é explicitamente mencionado o aumento a partir de maio da contribuição dos beneficiários.  O que é menos explícito é o que se passará com o excedente que seja gerado. A leitura do que está escrito no memorando de entendimento indicia que o excedente gerado transferido para o orçamento do estado, seja por contrapartida da despesa com medicamentos que é paga pelo SNS e que assim seria paga pela ADSE, ou simplesmente devolução dos 1,25% de contribuição do orçamento do estado se os 3,5% assegurarem o auto-financiamento da ADSE. Nada é dito sobre o que deve suceder caso os 3,5% excedam o que é necessário para esse auto-financiamento. A opção nesse caso será puramente nacional e não tem qualquer compromisso assumido.

Creio que só será possível saber que opções são realmente tomadas a este respeito com o orçamento de estado para 2015, e com o tratamento que aí for dado às contribuições para a ADSE e respectivo excedente gerado em 2014 (se o houver, de facto, como me parece provável).


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“saída limpa”: saída de quê? “limpa” porquê?

Ontem o primeiro-ministro anunciou o fim do programa de ajustamento, sem recurso ao chamado programa cautelar. E o termo “saída limpa” para descrever esta situação estará nos jornais todos ou quase todos. Porém, é necessário não entrar em euforias.

Primeiro, a saída foi apenas das visitas regulares da troika para avaliar o cumprimento do memorando de entendimento e, convém não esquecer, decidir sobre partes restantes dos empréstimos a Portugal. Os empréstimos permanecem. O acompanhamento da situação portuguesa irá continuar, mesmo que de forma mais discreta. Portugal saiu do acompanhamento público pela troika. Nada mais. Tudo o resto permanece, incluindo a necessidade de manter uma viragem na estrutura produtiva da economia e a necessidade de encontrar as formas de facilitar o aumento de produtividade. Não saímos das dificuldades. Ainda, pelo menos.

Segundo, “limpa” significa que terminou o programa de empréstimos assegurados a Portugal e que não há qualquer “seguro” que seja dado. Ou seja, Portugal se não conseguir colocar dívida pública em investidores estrangeiros terá que voltar a pedir apoio formal, ou encontrar outros mecanismos. O trabalho de bastidores e antecipado feito pelo IGCP construiu em grande medida esse “seguro” para o próximo ano. Cabe agora ao Governo, em ano de eleições, não deitar a perder esse esforço. Saída “limpa” significava não precisar de credores internacionais, o que só será possível com um superavit primário (receitas – despesas do estado sem incluir encargos da dívida pública) elevado – para que não fosse necessário emitir dívida; ou pelo menos ter superavit primário – a existência de um défice primário significa que a ausência de nova dívida leva a que o estado deixe de poder fazer os pagamentos a que se comprometeu, sejam pensões, salários ou outra coisa qualquer.

O que houve ontem foi o anúncio do fim formal do programa de ajustamento sem seguro formal para o próximo ano. Tudo o resto permanece igual. Ou quase tudo. A capacidade de “fazer asneira” é agora maior, pela ausência de um crivo público permanente (o acompanhamento privado da troika será sempre menos “pressionante”). A existência de um compromisso com um caminho orçamental, como foi feito na Irlanda, deveria ser parte de um “seguro” nesta saída, não está presente.

Veremos o que a proposta de orçamento do estado para 2015 nos irá reservar, uma vez que dentro de dias, aposto, começarão a surgir os habituais “comensais” do banquete do orçamento a procurar a sua fatia, de preferência recuperando os sacrifícios dos últimos três anos.


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novidades do banco central europeu sobre a 12ª avaliação

para quem tiver interesse em conhecer a declaração de hoje da troika, a dar sinal positivo para a 12ª avaliação, pode ler aqui

(se deixar de funcionar, o mesmo texto também está aqui, no site do FMI)


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o relatório sobre a 11ª avaliação da troika – saúde (1)

No momento em que são anunciados os resultados da 12ª avaliação da troika, e em que se instala a discussão sobre o Documento de Estratégia Orçamental, acaba por passar despercebido o relatório da avaliação anterior da troika, sobre a 11ª avaliação, disponibilizado apenas há dias, já com a última avaliação em curso. Curiosos timings que fazem com que nenhum dos documentos acabe por ter de facto uma discussão cuidada.

Por isso, uma rápida ronda sobre o primeiro destes documentos, a 11ª avaliação da troika.

Primeira constatação – sobre as taxas moderadoras o memorando inicial falava num aumento das taxas e revisão das isenções, o que foi feito na altura, com novas taxas moderadoras a entrarem em vigor em Janeiro de 2012, e um alargamento das situações de isenção. Logo na primeira revisão do memorando foi introduzido um objectivo de receita adicional de taxas moderadoras, objectivo esse que seria complicado de alcançar se as taxas moderadoras forem de facto moderadoras. Sem grande surpresa esse objectivo não foi sendo alcançado, apesar de subir a receita das taxas moderadoras em consequência do seu aumento. Nesta revisão do memorando que acompanhou a 11ª avaliação, este objectivo de receita de taxa moderadora deixou de figurar. Na própria observação da troika, este ponto do memorando foi “parcialmente observado”, referindo ainda que o aumento das situações de isenção por motivo de condição económica é naturalmente um factor contra ser alcançado o objectivo de receita estipulado há dois anos. Assim sendo, pode ser tomado como mais um objectivo da troika cumprido.

(continua…)

 

 


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já chegou o DEO 2014-2018…

disponível aqui (entre outros), a primeira curiosidade é mesmo como obter o documento; numa busca de internet por “Documento de estratégia orçamental 2014-2018”, nos primeiros resultados (pelo menos) que o Google produz, não há um local oficial para download, nem na página do ministério das finanças (na de entrada pelo menos), nem na página da direcção geral do orçamento. Curioso este mundo em que o cidadão para obter documentos oficiais tem que ir em primeiro lugar aos sites de jornais e televisões.

Bom, começa a leitura em breve, para ver o original além dos vários resumos que irão surgir nos jornais e televisões.


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o relatório da 11ª avaliação da troika

disponível aqui. Para leitura e comentários nos próximos dias, havendo tempo …