Momentos económicos… e não só

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Portugal e a Europa (3) – que europeu sou eu?

Este painel com D. Manuel Clemente, João Proença e Gonçalo M. Tavares prometia ser diferente do habitual. E não desiludiu. Foi até diferente da expectativa que tinha. Não se respondeu à pergunta de tema, andou-se mais à volta do que faz diferença na Europa e como tal faz os europeus diferentes.

Não consigo resumir a conversa a não ser que devemos observar com cuidado toda a envolvente da nossa vida quotidiana, pois dessa envolvente resulta muito do que nos faz europeus. Por exemplo, a segurança associada com ter passeios na rua para os peões, aspecto que não existe em muitos outros países. Ou a instabilidade europeia em termos históricos, com imensas mudanças de fronteiras, interligações e lutas entre povos e culturas.

Do bloco de notas:

Ideias sobre a europa e o resto do mundo: a previsibilidade do espaço público como parte da identidade europeia.

Europa em crise reforça o sentimento de se pertencer ao espaço europeu?

Europa como local de muitas civilizações, de grande instabilidade em termos históricos

europeu


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De regresso ao Meo Kanal,

para quem tiver paciência e possuir Meo Kanal, ver em http://kanal.pt/427227 a entrevista à TVI24 sobre a sessão em que participei no Encontro Portugal Europeu. E Agora?, e para quem não tiver ou não quiser, nos videos sapo.

 

 


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Portugal e a Europa (2): Qual é a nova agenda europeia?

Resposta a ser dada por um alemão que vive em Londres e que é dos poucos líderes de opinião lidos à escala europeia (pelo menos), Wolfgang Munchau. Principal conclusão: terá que haver perdão de dívida de alguma forma e terá que existir mais mecanismos de coordenação económica.

O que disse:

O ponto de partida foi a existência de questões não resolvidas : dívida– haverá alguma dívida que terá de ser perdoada de alguma forma; crise bancária; crises de dívida levam a longos períodos de estagnação económica e recuperação lenta.

Necessário novos sistemas anti-crise, estabelecer condições para coordenação económica entre países, avançar na união bancária.

A governação da eurozona é baseada na convergência para a situação da Alemanha.

Comentário de Paulo Rangel – alertar para os riscos das relações intra-estrados – Bulgária, Catalunha, Flandres

Comentário de Félix Ribeiro – se somos todos pequenas economias abertas, porque precisamos de moeda única? o euro em versão light existe para não se pedir mais dinheiro aos alemães.

munchau foto ©Álvaro Isodoro:Global Imagens


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Portugal e a Europa (1) – medos diversos

Decorreu no fim de semana passado a conferência Portugal Europeu. E agora?.

Como assisti a algumas sessões, creio útil relatar os principais pontos que me chamaram a atenção (até podem nem ser os mais relevantes). Houve uma considerável diversidade de temas (saudável), e de opiniões (também saudável), bem como de capacidade de prender a audiência e conseguir transmitir de forma clara ideias, novas ou não (alguma diversidade neste aspecto nas sessões em que estive a ouvir).

A primeira sessão envolveu Maria João Rodrigues, João Marques de Almeida e António Vitorino. Maria João Rodrigues muito focada na Comissão Europeia e no “medo” da hegemonia alemã (mas sem citar directamente o país, claro). João Marques de Almeida muito focado no “medo” da Rússia e dos desafios que essa fronteira coloca à União Europeia do ponto de vista militar (e para os quais conclui que não estamos preparados). António Vitorino com uma visão mais ampla da actual crise económica, à qual se junta uma crise de crescimento institucional da União Europeia, e no fim o “medo” da nova vaga de fundos estruturais não ser bem aproveitada.

Temos pois vários “medos” a vencer. Alguns deles serão retomados noutras sessões.

O que retive em bloco de notas das várias intervenções:

Maria João Rodrigues: necessidade de orçamento da zona euro; caminho para Eurobonds e outros instrumentos; risco de directório, com hegemonia de alguns países. Hegemonia é diferente de liderança para é para hegemonia que se caminha.

João Marques de Almeida:  focou em três perigos: 1) cinismo político – incapacidade de transformar politicamente os países vizinhos por parte da União Europeia e daí passar para a indiferença sobre lutas envolvendo valores fundamentais. 2) falta de capacidade militar da União Europeia e recusa em usar o instrumento militar na política externa. 3) permanente neutralidade estratégica. Quem são os aliados? os adversários? quais são as ameaças? os interesses? da União Europeia. Sem responder a estas questões não há uma política externa. Adiar responder não substitui ter de responder e de fazer escolhas. Solidariedade europeia não é só económica é também política e de segurança (e alguns países da União Europeia têm fronteiras com vizinhos difíceis).

António Vitorino: Portugal construiu um perfil europeu, internamente e externamente, de país fiável e previsível. A adesão à CEE foi uma apólice de seguro para a democracia.  Foi uma forma de gerir a relação com Espanha. Houve o participar num projecto de bem estar e prosperidade. Portugal esteve presente nos núcleos de decisão  da União Europeia (mercado único, Schengen, euro). Perante as transformações europeias, o perfil de Portugal permanece válido? sim, há que adaptar às transformações. A integração não faz desaparecer os interesses nacionais. O alargamento para 28 países na União Europeia alterou equilíbrios e o risco da lógica protecionista. Há também um complexo do declínio europeu, por vezes mais imaginário que real.

O espaço lusófono é relevante mas não substitui o espaço europeu. A crise do euro alterou equilíbrios europeus, desfez-se o equilíbrio entre Alemanha e França.

Há uma mutação constitucional na União Europeia. O regime muda sem mudarem as regras do regime. Subverte-se a lógica das regras formais. É demasiado cedo para conhecer o resultado final.

Portugal não deve alinhar numa Europa à la carte. A “europa” é um pacote, fundamental para haver equilíbrio e solidariedade entre os estados membros. Como prioridade deve constar estar no núcleos de aprofundamento. Permanência no euro é pré-condição para a retoma económica. Exige recalibragem interna da agenda europeia. O debate sobre a convergência real deve voltar a ganhar peso.

A crise debilitou o papel das instituições europeias. Há sinais ambíguos: há mais decisão nacional mas também há o compacto fiscal. A crise tornou mais claro o problema de legitimidade democrática. O modelo do passado já não funciona. Fazer entrar os parlamentos nacionais no funcionamento das instituições europeias poderá ser uma via.

Os fundos europeus foram a apólice de seguro dos europeístas portugueses na defesa desta aposta. Hoje os fundos já não chegam para esse papel. Há que ter mais argumentos. Vai ser preciso mostrar a vantagem de estar no projecto europeu. A boa utilização dos fundos europeus depende da boa qualidade das instituições públicas e privadas. Não se pode pensar em taxa de execução. Deve-se pensar em efeito multiplicador. Introduzir princípio de concorrência no acesso aos fundos. Acompanhar de cultura de avaliação do efeito multiplicador dos fundos.  É necessário lidar com proximidade versus centralização, conhecimento local versus “captura”.

vitorino


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uma interessante descoberta

do meu colega Francesco Franco sobre o que os países reportam ao Eurostat. Aparentemente, de acordo com duas notas de pé de página, a Alemanha e a França só precisam de apresentar números no final do ano e não trimestralmente como todos os outros países, ver aqui. Porque será que não precisam de reportar? e porque será que apenas França e Alemanha têm este tratamento? (duvido que a explicação seja só técnica, embora aposte que seja essa a versão oficial).


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Tempos de conferências

No espaço de 10 dias duas conferências em Portugal para dar atenção:

dias 6 e 7 de Setembro, a conferência do Instituto de Políticas Públicas, sobre o novo contrato social e a reforma do estado, programa aqui

dias 13 e 14 de Setembro, a conferência da Fundação Francisco Manuel dos Santos, Portugal Europeu. E agora?, com programa aqui. A propósito desta conferência colocaram-me o desafio de responder a duas perguntas: o que é a Europa para si? e quando se sente europeu?

A resposta a esta segunda questão está aqui. A resposta à primeira pergunta foi mais difícil, porque para a Europa surgem dois aspectos: história e diversidade, Grécia, Roma, as aventuras marítimas de Espanha e Portugal, a Revolução Francesa e a França como centro cultural, a construção europeia e Bruxelas como capital dessa construção, e a emergência da Alemanha como potência económica. Colocar tudo isso numa única referência não foi fácil, mas está aqui o resultado.

Falaremos depois do que valer a pena destas conferências.


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ainda em ritmo quase de férias,

sobre “QUANDO SE SENTE EUROPEU?” em poucas palavras, no dn de hoje,

Estando “Onde a terra se acaba e o mar começa”, sinto-me europeu quando vou de Lisboa a Berlim sem ter que mostrar identificação; quando levanto dinheiro numa caixa multibanco da mesma forma e com os mesmos custos em Coimbra, Toulouse, Barcelona ou Essen; quando entro em Espanha pela fronteira terrestre sem filas, sem verificação de passaportes, sem realização obrigatória de seguro, e sem troca de moeda.

Sinto-me europeu quando entro numa sala de aula e mais de metade dos alunos são oriundos dos quatro cantos da Europa. A fácil mobilidade, sentida e usufruída pelas gerações mais novas, é a melhor forma de construir uma identidade europeia que se adiciona, não substitui, uma identidade nacional.

A esta facilidade junta-se a liberdade política e a liberdade económica. A construção da identidade europeia tem que se fazer todos os dias, com a contribuição também de Portugal. É um esforço político, económico e social, feita de valores partilhados dentro das diferenças que existem e que nos levam a conhecer o “resto da Europa”.

Outras ideias de como se sentir europeu nos dias de hoje?


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são os italianos e espanhóis mais ricos que os alemães?

A propósito de um trabalho do Banco Central Europeu, surgiu a informação que os cidadãos dos países do Sul da Europa – em particular, espanhóis, italianos, cipriotas, seriam mais ricos que os alemães. Paul de Grauwe olhou para a questão através das desigualdades que também existem na Alemanha (aqui).

Uma questão similar tinha-me sido levantada há dias por um colega. Utilizando dados do inquérito SHARE, para 2011, que abrange apenas cidadãos acima de 50 anos mas tem um conjunto alargado de países inquiridos, entre os quais Portugal, é possível olhar um pouco mais para esta discussão, para este grupo da população e analisando um dos principais activos – a propriedade de habitação própria.

A importância desta discussão está em levar a questionar o apoio do Norte da Europa, leia-se Alemanha, ao Sul, leia-se países do Mediterrâneo pertencentes à zona euro.

Primeiro dado, os alemães têm por escolha comprar menos habitação própria. Esse facto é muito claro na população acima dos 50 anos, sendo mais natural no Sul da Europa uma percentagem muito elevada de pessoas acima desta idade que é dono da sua casa. (a responsabilidade dos gráficos e de imprecisões que neles possam constar são minha responsabilidade)

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Os alemães por outro lado são os que têm menos dívidas na aquisição de habitação própria.

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Em termos de rendimento ajustando para os níveis de preços em cada país e para a composição dos agregados familiares, na população com mais de 50 anos, os alemães não são os mais ricos, sendo mesmo ultrapassados pelos espanhóis. Mas como estamos a falar de habitação própria e resultante de valores auto-reportados pelos próprios donos das habitações, a existência de uma “bolha” de preços na habitação em Espanha poderá reflectir-se em valorizações pessoais e não de mercado (valor de transacção) das habitações. O valor de mercado é aquele pelo qual conseguimos vender não aquele pelo qual gostaríamos de vender ou que achamos que é “justo” vender. Por isso, a percentagem de proprietários sem dívida relacionada com a habitação poderá ser uma melhor aproximação da riqueza da população com mais de 50 anos de cada país, e nesse indicador os alemães surgem muito claramente diferenciados do sul da Europa (tal como os holandeses).

É preciso ter o cuidado de estes valores não serem rendimentos nominais de cada cidadão, e dizerem respeito a uma parte da população apenas.

Ainda assim, é notável que as diferenças entre os cidadãos de diferentes países assinalem rendimentos mensais que depois de ajustados para a dimensão do agregado familiar e poder de compra que não são muito diferentes entre países e em particular a Alemanha não aparece como uma posição de muito maior rendimento que os restantes, pelo menos nesta população. Se tal se deve à generosidade dos sistemas de pensões ou a outro motivo, é algo que não é possível aqui distinguir.

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Chipre, credibilidade e reputação: não há países pequenos demais

O resgate a Chipre mostrou que não há países grandes e países pequenos quanto a efeitos sobre a zona euro. A dimensão de um país não se mede apenas pelo seu peso no PIB da União Europeia, ou da zona euro. É que mesmo no caso de países pequenos em dimensão geográfica e peso económico medido pelo PIB, as acções das autoridades económicas trazem informação para todos os países e cidadãos, consumidores e/ou investidores.

A decisão de tributar os depósitos abaixo de 100,000 euros em Chipre teve como primeiro efeito minar a reputação das autoridades europeias em como esses depósitos estariam sempre protegidos, em qualquer dos países da zona euro. Bem se pode afirmar que Chipre é diferente. Não ajuda. Nunca se sabe quando é que cada país será considerado também um caso diferente, por outras razões, mas também um caso diferente. Credibilidade corresponde à confiança que os cidadãos têm que as políticas anunciadas serão cumpridas. E a confiança em que os depósitos abaixo de 100,000 (as pequenas poupanças) estão protegidas está afectada.

A discussão que agora se faz de que afinal até é melhor proteger e tributar mais os depósitos acima de 100,000 pode remediar os efeitos mas não recoloca a confiança, a credibilidade, no nível anterior, porque não surge como iniciativa própria das autoridades económicas e sim como resposta a uma reacção global (inesperada? se foi inesperada, o que pensar da ligação à realidade e aos cidadãos europeus dos líderes da União Europeia?).

Mas o (aparente) voltar atrás, não repondo, a meu ver, a credibilidade da acção europeia no mesmo nível anterior, tem um custo de reduzir a reputação das autoridades europeias. Podemos pensar em reputação como o que os agentes económicos (cidadãos, consumidores, investidores, produtores, etc.) consideram ser o posicionamento e pensamento económico e político dos líderes das autoridades económicas. Uma reputação de combate à inflação, por exemplo, significa que um banco central não estará disposto a estimular a economia por emissão monetária para não prejudicar esse combate à inflação. Neste caso de Chipre, a reputação de que se pretende dar confiança à zona euro protegendo pequenos depositantes fica abalada.

Qualquer que seja a solução encontrada no final, quando se fala de credibilidade e reputação, não há países pequenos demais.


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sobre o resgate financeiro de Chipre

o aspecto mais visível neste momento é o imposto sobre depósitos nos bancos, depósitos esses que ficaram já congelados para efeitos de pagamento desse imposto (pelo que se percebe, os depositantes podem retirar dinheiro, mas fica sempre retido o valor referente ao imposto que terá de ser pago). Terça-feira veremos que corrida aos bancos existe, e como reage a população. De Chipre, mas também de outros países – Grécia, Portugal, e Irlanda – por estarem já sob resgate, e Itália e Espanha por terem andado lá perto. Uma corrida aos bancos num destes países poderá levar a uma espiral europeia. De qualquer modo, a confiança nos depósitos bancários dificilmente será a mesma. Uma retirada maciça de depósitos para dinheiro num país médio da zona euro criará problemas graves para o sector bancário europeu. A ver como evolui.

Entretanto, alguns links interessantes que discutem este resgate a Chipre:

 

_Washington Post: aqui

_Financial times: aqui

_El Pais: aqui e aqui (o Governo espanhol a dizer já que o que se passa em Chipre não pode ser tomado como exemplo do que se poderá passar em Espanha).

_blog Theirisheconomy: aqui sobre as reacções na Irlanda

_The Economist: aqui

_blog de Protesilaos Stavrou: aqui