Momentos económicos… e não só

About economics in general, health economics most of the time


1 Comentário

acompanhamento pós-troika

Apesar de formalmente ter acabado o programa de ajustamento, a Comissão Europeia continua a acompanhar de perto a evolução da economia portuguesa.

Produziu “Country specific recommendations”, que se encontram presentes no Relatório do Orçamento do Estado (página 220 e seguintes).

Para saber que desempenho temos tido nestas country specific recommendations, quatro grupos de alunos de economia da Nova dedicaram parte do seu tempo a procurar e a analisar informação. O resultado desse trabalho é agora apresentado, como um contributo para o conhecimento da economia portuguesa, numa parceria com a Representação da Comissão Europeia em Portugal, no âmbito do Semestre Europeu.

A apresentação terá lugar dia 25 de maio, a partir das 14h00 na Nova School of Business and Economics, Anfiteatro 102. O programa está aqui.

Fizemos a gravação do sumário das conclusões de cada um dos quatro grupos formados, que estão disponíveis aqui:


Deixe um comentário

rankings de universidades, agora pela Universidade de Leiden (Holanda)

Nos últimos anos, generalizou-se a criação de rankings. No caso das universidades, saiu agora a versão 2015 do ranking preparado pela Universidade de Leiden (aqui). A existência de rankings tem o problema de levar as universidades a procurarem melhorar apenas nas dimensões que são contabilizadas no ranking, perdendo relevância os restantes aspectos. Ou seja, os rankings produzem informação útil sobre desempenho relativo das instituições, que vai perdendo relevância à medida que as universidades se ajustam para satisfazer os rankings.

Exemplificando, uma universidade que tome como parte da sua missão ensino e investigação científica, procura melhorar nessas duas dimensões. Mas se houver um ranking que contabilize apenas a produção científica, então o ensino tenderá a ficar em segundo plano só para tentar que a universidade melhore a sua posição no ranking. Essa não precisa de ser uma decisão explícita ou sequer consciente, basta que a universidade procure contratar apenas professores que publiquem muito, independentemente da atenção que dão às aulas. Tomar os rankings como a única medida de desempenho relevante das universidades é errado, tal como é errado medir a importância das universidades apenas pelas suas ligações às empresas ou pela sua dimensão absoluta. Dito isto, a interpretação de rankings deve ser cautelosa também por outra razão – com um realidade de intervenção em muitas áreas de conhecimento, é natural que numa área esteja uma universidade à frente, e noutra área esteja outra universidade. E a aposta em diferentes áreas pode ser resultado de opções estratégicas de cada universidade.

As figuras seguintes apresentam um conjunto de quadros retirados do site da Universidade de Leiden e que podem ser facilmente reproduzíveis por quem quiser fazer. É um ranking baseado na produção científica. Naturalmente universidades maiores terão maior número de publicações científicas, mas não necessariamente com maior qualidade média (qualidade media pelo chamado impacto normalizado, baseado em quantas vezes cada publicação foi utilizada – citada – por outros cientistas, aspecto que também difere de área científica para área científica).

Depois de expostas as cautelas a ter, o que acontece nos valores de 2015 em Portugal?

– usando indicadores independentes da dimensão da instituição, a Universidade Nova de Lisboa é a que surge como melhor classificada este ano. Título de jornal sugerido: Universidade Nova de Lisboa assume liderança na investigação científica em Portugal. Declaração de interesses: trabalho na Universidade Nova de Lisboa.

– nas áreas de Ciências Sociais e Humanidades e de Ciências e Engenharia Biomédica, a Universidade Nova de Lisboa tem essa liderança;

– na área de Ciências da Vida e da Terra, a Universidade do Minho surge à frente;

– na área de Engenharia e área de Matemática e Ciência da Computação, a Universidade do Porto destaca-se

– olhando apenas para valores absolutos, é inevitável que a Universidade de Lisboa apareça à cabeça. Titulo de jornal sugerido: A Universidade de Lisboa lidera no número de publicações.

– mas se for dada primazia à ligação de colaboração com a indústria, a Universidade de Coimbra surge no primeiro posto.

A diversidade é assim a norma dentro da Universidade portuguesa, e tentar estabelecer rankings vai chocar contra essa diversidade.

De um ponto de vista da instituição onde estou a colaborar, Universidade Nova de Lisboa, é recompensador ver a classificação obtida na investigação, resultado de uma evolução positiva nos últimos anos, apesar da situação de crise (os dados usados correspondem aos anos 2010-2013). O conhecimento científico encontra-se assim espalhado pelo país, nas principais universidades. Curiosamente todas no litoral.

No final, cada universidade pode usar a versão do ranking que mais gostar. Colocando-me numa lógica de produtividade cientifica descontando o papel do efeito dimensão (maior pode não ser mais eficiente), a posição global da Universidade Nova de Lisboa leva-me a cumprimentar todos os meus colegas que contribuíram com as suas publicações para este progresso.

(Adicionado: leitura recomendada sobre rankings – Leiden Manifesto for Research Metrics)

Screen Shot 2015-05-20 at 21.43.07 Screen Shot 2015-05-20 at 21.45.05 Screen Shot 2015-05-20 at 21.45.16 Screen Shot 2015-05-20 at 21.45.25 Screen Shot 2015-05-20 at 21.45.34 Screen Shot 2015-05-20 at 21.45.45

Screen Shot 2015-05-20 at 21.46.12 Screen Shot 2015-05-20 at 21.46.28 Screen Shot 2015-05-20 at 21.47.00

Screen Shot 2015-05-20 at 23.39.42

Screen Shot 2015-05-20 at 23.38.04 Screen Shot 2015-05-20 at 23.38.19


Deixe um comentário

depois da autonomia universitária, depois da falta de autonomia universitária, a introdução do conceito de disautonomia universitária…

(texto saído no Jornal Público, 6 de maio de 2015)

A autonomia das universidades públicas tem sido referida amiúde nos últimos 20 anos. A noção mais comum é essa autonomia universitária requerer um ambiente legal e de financiamento estável.

A discussão sobre a autonomia universitária, ou a falta dela, anda frequentemente à volta desses aspectos. O sistema educativo português sofreu cortes financeiros muito significativos, superiores a 10%, em termos nominais, nos últimos anos. Mas esse pano de fundo de exiguidade e de penúria, que nos estigmatiza mas que nem todos admitem, não é o tema deste texto, mesmo que esteja inevitavelmente presente.

A autonomia das universidades exige também a existência de comunicação fluida e coordenação com o Governo, que financia hoje em dia apenas parte da actividade desenvolvida.

É precisamente neste aspecto que é útil olhar para o conceito de disautonomia, termo que em medicina se refere ao mau funcionamento do sistema nervoso autónomo. Este mau funcionamento afecta os nervos que conduzem informação do cérebro aos órgãos do corpo e vice-versa.

Disautonomia é diferente de falta de autonomia. É a falta de ligação necessária entre as várias partes para que o todo possa funcionar.

Portugal, ao contrário do que sucedeu na Europa, através do aumento do financiamento público, ou nos Estados Unidos, através do financiamento privado, leia-se das famílias, nunca beneficiou de um período de estabilidade financeira, condição necessária que lhe permitisse desenvolver o sistema de ensino superior para responder às necessidades do país no que toca a qualificações e a competências. O esforço feito no financiamento da ciência, nas últimas décadas, nunca nos conseguiu levar a patamares da percentagem do PIB comparativos com os nossos parceiros europeus, mas, apesar disso, permitiu o aparecimento de universidades competitivas e apelativas internacionalmente.

Os desafios lançados ao ensino superior, num contexto global, justificam decisões estratégicas envolvendo a educação, a economia, os empregadores e os diversos actores sociais.

Usando uma linguagem próxima da medicina para caracterizar a nossa situação actual pode dizer-se que começamos a ter órgãos capazes de funcionar de uma forma autónoma. Falta-nos, infelizmente, uma coordenação que existe em todos os países que têm sistemas universitários competitivos, sob as mais variadas formas: incentivos financeiros (devidamente contratualizados), controlo da qualidade, intervenções dos mais variados stakeholders. Contudo, em Portugal, o problema é ainda mais grave, porque a comunicação entre as várias universidades e o Governo funciona de uma forma deficiente e com numerosas barreiras, algumas delas verdadeiramente intransponíveis, mesmo quando dependem, supostamente, apenas das próprias instituições.

Se continuarmos assim, não vale a pena lutar por mais autonomia universitária, mas sim assistir, estupefactos, à progressão deste estado de disautonomia, em que vivemos, como sucede nalgumas doenças, muito frequentes, como a diabetes, em que os órgãos não se encontram primariamente lesados, mas a doença está nos vasos que os irrigam e nos nervos que os estimulam e que não conduzem bem os estímulos ou mesmo, como muitas vezes sucede, nada conduzem.

Em disautonomia universitária, os diferentes órgãos, leia-se as instituições que constituem o ensino superior, trabalham de forma independente, frequentemente em descoordenação entre si. E a fadiga (administrativa, de regras de controlo ad hoc) instala-se. Durante algum tempo, o sistema parece funcionar, até que os efeitos desse mau funcionamento começarão a ser visíveis. Um sistema em disautonomia compromete a eficácia e a eficiência do ensino superior. Resolver a situação de disautonomia não é falar em (mais) autonomia universitária ou apenas em mais financiamentos. Resolver consiste em assegurar uma ligação fiável, célere e duradoura entre as várias partes do sistema de ensino superior antes que seja demasiado tarde e a doença se torne irreversível.

António Rendas e Pedro Pita Barros

Universidade Nova de Lisboa


2 comentários

Proximo objectivo: top 50? (e mais outro ranking)

Nem de propósito, saiu mais um ranking, desta vez das universidades com menos de 50 anos e a nível mundial – no top 50, em lugar 46 está a Universidade Nova de Lisboa, a única portuguesa a figurar neste ranking QS.

Curioso é também a predominância das universidades asiáticas neste ranking das 50 com menos de 50 anos – sinal da dinâmica dessa parte do mundo.

Nota: como estas avaliações se baseiam em informação que tem de ser dada pelas próprias universidades, poderão existir escolas importantes que não estão incluídas apenas por isso. De qualquer modo, “os critérios do QS ranking valorizam a reputação junto das entidades empregadoras, a internacionalização do corpo docente e ainda o rácio docentes/estudantes.”

E venha o próximo ranking !


1 Comentário

Top 100 global

Há mais 5 anos, em 2007, o Governo Sócrates pelo então secretário de estado Manuel Heitor, promoveu a ideia de fazer chegar um MBA português ao top 100 mundial. Dificilmente uma escola só por si o conseguiria fazer. Apostou-se numa colaboração Univ Nova – Univ Católica, em parceria com o MIT, para lançar o The LisbonMBA. Conseguiram-se parceiros nacionais que apostaram na ideia. As duas escolas tiveram que se esforçar por criar um MBA diferente dos outros, para poder ser atractivo. Conseguir ser inovador num mundo muito competitivo.

O resultado está hoje à vista, no ranking do financial times, aqui, lugar 61 do mundo.

É o fruto do trabalho de muitas pessoas ao longo destes anos, mas sobretudo dos directores das duas escolas que avançaram e montaram o programa, José Ferreira Machado (U Nova de Lisboa) e Fátima Barros (U Católica Portuguesa), e da directora executiva durante a maior parte deste tempo de construção, Belén de Vicente, e sua equipa. Que Fátima Barros e Belén de Vicente tenham outras actividades no dia de hoje em nada diminui a contribuição decisiva que deram para chegar aqui. Também é uma vitória dos parceiros nacionais do The LisbonMBA, que mantiveram a disponibilidade para sustentar o projecto até este momento, do empenho dos professores das duas escolas que deram o seu melhor esforço para o sucesso do programa, e do arriscar dos alunos num programa novo e que hoje se torna reconhecido a nível global.

No momento em que a asfixia fiscal e burocrática cai sobre as universidades portuguesas, será preciso resiliência para manter o projecto. No momento em que ocorre a saída para o estrangeiro de muitos investigadores nacionais pelo deteriorar das condições de trabalho em Portugal face às ofertas que surgem do exterior, será importante que esta vitória seja vista como uma possibilidade de exportação de serviços de elevada qualidade e elevado valor acrescentado, com inovação e voltado para a internacionalização.

Declaração de conflito de interesses: a visão apresentada tenta ser isenta, mas é importante que se lembrem que sou professor da Universidade Nova de Lisboa, uma das instituições participantes. Não participei na gestão executiva do LisbonMBA nem dei aulas ao programa.


1 Comentário

fundações e universidades

No meio da discussão sobre as fundações e o seu financiamento, surgem as universidades que passaram a fundação há cerca de três anos. Essas universidades não pretendem deixar de ter o estatuto de fundação, argumentando que quando se assumiram esse estatuto houve o compromisso do estado em ter um período inicial de 5 anos no final do qual se avaliariam as vantagens e desvantagens desse modelo.

Esta situação é um exemplo perfeito da incapacidade de os governos portugueses conseguirem ter políticas consistentes e duradouras o suficiente para produzir resultados.

Quando o governo anterior lançou a ideia de as universidades poderem ser fundações, para serem geridas de forma diferente, incluindo na sua forma de financiamento (contrato plurianual), optou e bem por uma evolução voluntária. Em lugar de forçar todas as escolas a terem o mesmo modelo, permitiu que cada universidade escolhesse se queria ou não aderir à nova modalidade. Três universidades avançaram, outras não.

Na altura, a minha opinião era simples, o modelo em si mesmo era interessante, a contratação plurianual permite um planeamento a mais longo prazo, dando maior consistência a projectos de desenvolvimento das universidades que se queiram lançar. Tinha uma grande dúvida: a capacidade do estado se conseguir comprometer com a lógica de relacionamento que está associada. Embora não tivesse participado em nenhum processo de decisão, não sabendo por isso os motivos pelos quais se escolheu um ou outro rumo, fiquei satisfeito por a minha universidade não ter avançado para o estatuto de fundação. Devido à incerteza sobre o parceiro da relação (o governo), pareceu-me ser claramente preferível não ser um first-mover e aprender com a experiência das universidades que avançassem primeiro. A actual discussão só vem dar razão a essa prudência nas decisões. As actuais universidades que são fundação vão perder tempo e gastar energia a defender a sua permanência num modelo de governação institucional que lhes deveria dar estabilidade.

Infelizmente, estas situações são frequentes. No início de 2010, as universidades assinaram com o governo de então o chamado “Contrato de Confiança“, em que para um financiamento adicional de 100 milhões de euros, as universidades assumiam o compromisso de formar com qualificação superior mais 100,000 pessoas nos quatro anos seguintes. Havia também o compromisso do governo não baixa o financiamento das universidades (com a curiosa e afinal necessária ressalva de ser apenas na legislatura em curso). Ora, o cumprimento deste contrato de confiança por parte do governo desapareceu já. Na altura da sua assinatura, colocava-se a questão às universidades se deveriam criar programas e estruturas especiais para cumprir o objectivo dos 100,000 qualificados no ensino superior adicionais em 4 anos.  Face ao historial de compromissos não cumpridos pelos sucessivos governos, tudo apontava para que fosse mais sensato não mudar muito. E o curso dos acontecimentos veio confirmar essa visão.

Destas experiências, e de outras semelhantes que certamente existirão a diversos níveis, desde projectos mais pequenos a outros maior envergadura, resulta que se a universidade tem muitas vezes incapacidade de se reformar e adaptar às exigências da sociedade, a falta de um relacionamento com o estado financiador da universidade pública que seja credível em termos de estabilidade de regras, conduz a que mesmo os esforços de mudança da universidade sejam derrotados dessa forma.

Como não acredito que haja um preconceito particular do estado e dos sucessivos governos para com o ensino superior, só posso pressupor que o mesmo se passa noutras áreas. E o estado e a sua incapacidade de cumprir os compromissos que assume são um problema ainda por resolver. O que será certamente dificultador do desenvolvimento da actividade económica.

Aparentemente, até agora apenas as empresas privadas com contratos de parcerias público-privadas conseguiram encontrar forma legal de obrigar o estado a cumprir (infelizmente, a um preço muito elevado para todos os contribuintes, dadas as taxas de remuneração garantidas que conseguiram assegurar). Deverão as universidades fundação ir estudar como esses contratos foram estabelecidos e pedir para passarem do estatuto de fundação para uma parceria público-privada se querem estabilidade de regras?

nota: sou professor numa universidade pública que não é fundação.