de acordo com o Financial Times, a posição do novo governo começa a ser conhecida, e tem alguns pontos interessantes:
1) as propostas surgem em duas linhas: a) colocar os pagamentos da dívida em função do crescimento económico; b) transformar parte da dívida em pagamento de juros perpétuos, o que faz com que o pagamento da dívida não tenha realmente prazo final. Qualquer uma destas soluções não altera a obrigação de pagamento. Não há menção a redução do valor das taxas de juro, provavelmente porque são já baixas – apesar do maior risco, a taxa de juro média na dívida grega é mais baixa do que a paga por Portugal, Irlanda, Espanha, França, Itália, e por uma razão simples – a dívida grega está sobretudo nas mãos de instituições que fizeram o resgate financeiro do país. As alterações na dívida seriam sobretudo na dívida a instituições oficiais, e não a credores privados. Mas sem perdão de dívida, a confiar na notícia reportada.
2) O compromisso do governo grego, segundo o mesmo artigo do financial times, é o de manter um excedente estrutural nas contas públicas (isto é, receitas maiores que as despesas sem juros), mesmo que não consigam cumprir as promessas eleitorais feitas. Prometem também ir atrás da evasão fiscal, com o argumento de ser credível no caso do Syriza por não terem recebido dinheiro de grupos económicos para a campanha eleitoral. Não conheço o suficiente da situação grega para saber quanto é o valor da evasão fiscal em causa e dos vários casos de “poder de mercado” (rendas excessivas na terminologia portuguesa recente).
Em qualquer caso, é uma base de partida para discussão muito diferente da “não pagamos”, que talvez tenha sido usada como forma de colocar as expectativas para qualquer negociação num ponto extremo, e curiosamente o compromisso, se real e aceite pelo governo grego acaba por não ser distinto do que Portugal tem que cumprir – défice estrutural positivo.
O que fica por saber é qual o grau de compromisso efectivamente presente com estas propostas. Isto é, porque é que os credores deverão acreditar que o governo grego, actual e futuros, irá respeitar este compromisso, que provavelmente significa que várias medidas dos governos dos últimos anos se terão que manter. Perceber esse aspecto será central nas negociações.
3) Reconhece a necessidade de apoio do BCE ao sistema financeiro grego; e muito provavelmente não vai ser apenas uma questão de poucos meses; logo, o governo grego vai ter muito mais que negociar.
Aos poucos, o radicalismo inicial do discurso vai dando origem a propostas para discussão. E se houver algum tipo de acordo, será interessante ver como politicamente todos irão “salvar a face”.