A grande incerteza europeia do momento é o que vai ser o comportamento do novo governo grego. Como bem descreve Ricardo Reis, as opções disponíveis não são muitas nem especialmente atractivas. Sobretudo agora que os novos governantes gregos vão ter que lidar com outros governos e instituições europeias em vez de falar para dentro do seu país para ganhar votos. E a incerteza não se desfaz (a propósito da qual, um excelente texto de Paulo Sande como leitura sugerida).
O que podemos encontrar neste braço de ferro?
A favor do Governo grego:
– elevado nível de dívida pública – será necessária uma qualquer solução, embora dificilmente venha a ser uma solução “sem dor” para os gregos;
– vontade (?) de eliminar a corrupção e os diferentes cartéis e grupos de poder que estão instalados;
Contra o Governo grego:
– pensar que é possível voltar ao que era o emprego público e os apoios públicos às mais diversas actividades
– pensar que não existe uma “restrição orçamental” (para o Governo)
E não é claro que o “esticar a corda” não tenha mais riscos para a Grécia do que para os restantes países da União Europeia e da zona euro em particular.
Tomando a situação actual, sem crescimento na Grécia dificilmente conseguirão pagar a dívida; mas o crescimento grego não surgirá automaticamente apenas por despesa pública; a Grécia tem um problema de longo prazo, não um problema conjuntural de baixa procura; neste contexto, nas negociações referentes à dívida grega, o problema não é só saber se esta dívida toda actual pode ou não ser paga, é saber também como é que se evita que volte a acontecer de novo (na Grécia, e em certa medida como evitar que o argumento se repita nos outros países com problemas de dívida pública). E a esse respeito, não há nenhuma ideia que tenha surgido, sobre como limitar a possibilidade de voltar a suceder o mesmo.
A médio e longo prazo, a própria exigência grega de só falar com as instituições europeias, desfazendo a troika, diminui ou aumenta as possibilidades de uma cedência hoje poder ser tomada como precursora de cedências futuras? Há, pois, mais aspectos em jogo do que apenas o Syriza cumprir os primeiros pontos do seu programa eleitoral (e a negociação parece ser o primeiro e mais importante, que justifica a aliança estabelecida – se e quando houver uma negociação concluída, esta coligação poderá ser mantida?).
Para uma primeira semana, não deixou de ser a “agitação” prometida, veremos que solução será encontrada.