Momentos económicos… e não só

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1 de maio, dia Pingo Doce, uma vez mais? e com Continente a fazer o mesmo!

informação recebida por SMS:

1Maio,dia de poupanca especial no Pingo Doce,tem +100 produtos com 50% desconto imediato alem da promocao da semana.Este ano vale por 2.Saiba como na sua loja.So para si,50% em: MAçA GRANNY SMITH,ALFACE FRI EMB PD KG,ALFACE FRISADA p/PM2446026919762,ate 6un

Haverá luta para chegar à alface frisada?

Ou seja, três anos depois, volta-se, ainda que de forma menos agressiva, só em alguns produtos, aos 50% de desconto. Sobre o que se passou há 3 anos, ver aqui e aqui.

E desta vez o Continente faz a mesma coisa, durante três dias:

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Será que voltaremos a ter intervenção da Autoridade da Concorrência?

(em 2012 aplicaram uma multa, que foi depois reduzida, ver aqui)


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da série “empresas portuguesas”: GALP

como uma das principais empresas nacionais e a empresa líder na venda de combustíveis está naturalmente sob observação face à recente entrada em vigor das regras que obrigam à venda de combustíveis não aditivos. Numa primeira fase, as estratégias das várias empresas têm um ponto em comum – não disponibilizam as três “qualidades” de combustível, retirando uma delas. Umas retiram a “qualidade” mais cara, outras a “qualidade” intermédia, já que a “qualidade” mais baixa é agora obrigatória. O termo “qualidade” está entre aspas para assinalar que todos os combustíveis respeitam as condições técnicas de venda, e que as diferenças estão na quantidade e tipo de aditivos usados.

A maior parte das discussões e comentários centrou-se no efeito sobre os preços, e logo no primeiro dia. A observação geral foi os preços não terem baixado para o nível observado nesses combustíveis nos postos geridos pelos hipermercados. À partida, essa expectativa era irrealista pelo simples funcionamento do mercado. Em primeiro lugar, a localização dos postos de abastecimento é um factor de diferenciação que tem efeito no preço em mercados onde a fixação dos preços é livre, seja em Portugal seja em qualquer outro país onde essa liberdade de fixar preços esteja presente. Logo, a convergência de preços só seria um resultado desta nova legislação se os consumidores decidissem ir comprar ao ponto de venda com preço mais baixo, independentemente da sua localização. Não o fazem e por isso o preço praticado em cada ponto de venda difere, e essa diferença não é ultrapassada por o combustível ser (dito) “low-cost” ou não. O segundo aspecto é que na prática, como as empresas retiram um produto para disponibilizar outro, têm que atender a dois efeitos distintos – um deles é uma redução de custos, e outro é um possível ganho de maior procura, até por eventual desvio de compras que os consumidores fizessem nos postos localizados nos hipermercados. Se o mercado não for perfeitamente concorrencial, uma redução de custos no produto não significa uma redução de 1:1 no preço ao consumidor final. A melhor estratégia será usar parte da redução de custos para aumentar a margem, além de uma redução no preço ao consumidor final. E se houver desvio de procura, menor pressão existe para baixar os preços para o nível dos praticados pelos postos dos hipermercados. A estes argumentos, adicionam-se os argumentos usuais das petrolíferas de os preços nos hipers serem loss-leaders para atrair consumidores para outras compras (mas como não podem vender abaixo de custo, poderá ser apenas sinal de maior eficiência) e de terem menores custos por terem maior volume de vendas (o que desvia a atenção de os preços praticados não terem apenas a ver com custos mas também com a valorização do ponto de abastecimento aos olhos dos consumidores em termos de comodidade e hábito). Assim, dificilmente iria ocorrer uma redução de preços substancial.

Mas mais interessante e com efeitos mais duradouros a prazo é a escolha de que combustível retirar da oferta dos postos. Ao retirar o combustível de “qualidade” intermédia, cria-se uma diferença de preços maior entre a oferta que fica disponível, o que naturalmente desvia mais consumidores para o combustível de “qualidade” mais baixa; se o produto de “qualidade” mais elevada tem maior margem, há uma maior perda de consumidores, mas mantém-se uma margem mais elevada. Quando uma empresa mantém a “qualidade” intermédia, estará a passar os consumidores da “qualidade” mais elevada, com margem mais elevada, para a posição intermédia (é pouco provável que esses passem a ser consumidores da “qualidade” mais baixa), perdendo a respectiva margem. Em contrapartida, perde menos consumidores para o produto de margem mais baixa. A razoabilidade de uma ou outra estratégia depende do número de consumidores e das vendas em cada um dos produtos. Se a GALP tiver sobretudo vendas no produto de “qualidade” normal, e poucas vendas em termos relativos no “premium”, então a sua melhor estratégia será defender essas vendas à margem da qualidade normal, abdicando do premium. Se outras empresas tiverem maior peso das suas vendas no produto “premium” poderão abdicar do produto intermédio.

Adicionalmente, estas opções também reduzem a concorrência entre as diferentes empresas – as que ficam a vender produtos com qualidade “premium” ganham poder adicional face aos consumidores que valorizam muito essa “qualidade”, mas também as que vendem “qualidade” intermédia ficam com menos concorrentes. Em média, os preços nesses combustíveis poderão subir face a uma situação em que não ocorre a obrigação de ter o produto de “qualidade” mais baixa. O efeito sobre o preço médio, incluindo os consumos em todas as qualidades, não é evidente. Esta será uma boa oportunidade para seguir o comportamento da GALP enquanto empresa líder.

Uma ideia da evolução dos preços pode ser consultada na Entidade Nacional para o Mercado de Combustíveis, e para anos anteriores a 2014, a Autoridade da Concorrência produzia boletins de acompanhamento. Seria interessante que passassem a disponibilizar os preços por tipo de combustível, o número de pontos de venda de cada tipo de combustível, e a possibilidade de obter essa informação em formato excel no site, para todo o cidadão poder fazer o seu acompanhamento.


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Cerâmica Valadares e Autoeuropa

Uma noticia de ontem aqui sobre a nova cerâmica Valadares. O aspecto que mais me chamou a atenção foi o ter passado pouco tempo (para Portugal) até se encontrar uma nova utilização produtiva dos mesmos activos, físicos e humanos, uma vez que irão ser contratados antigos trabalhadores pelo conhecimento que possuem. À frente do projecto irão estar antigos dirigentes da empresa. Desde há muito que um dos problemas de funcionamento da economia portuguesa é deixar que os activos produtivos (equipamento, pessoas, capital organizacional) se perca rapidamente sempre que uma empresa entra em falência. Cabe agora à empresa, à gestão e aos trabalhadores que forem contratados, mostrar que tem capacidade de ser rentável.

No mesmo dia foi dada a notícia de que a Autoeuropa irá parar um dia para acomodar a falta de peças resultante de um incêndio numa das empresas que a fornece. Significa que os riscos de uma gestão muito exigente de stocks são partilhados com os trabalhadores, dando flexibilidade à empresas para manter um elevado padrão de produtividade. Também no sector do calçado (pelo menos) houve “adaptabilidade de horário” (creio ser este o termo), e o hoje é um sector com reputação internacional e fortemente exportador.

É esta capacidade de renovação e de adaptação que tem de ser procurada pelas empresas e trabalhadores e que levará, se generalizada, ao crescimento da economia portuguesa. Não me surpreenderia saber que há ainda muitas empresas paradas com os equipamentos a estragarem-se e os trabalhadores com elevado conhecimento específico a perderem-no, ou empresas onde um pouco de flexibilidade nos horários e dias de funcionamento poderia contribuir para uma gestão mais eficiente.


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venda de medicamentos não sujeitos a receita médica

 

Na semana passada a questão da venda de medicamentos não sujeitos a receita médica em mais locais voltou a surgir. Desta vez, com o destaque dado à posição da ANF – Associação Nacional das Farmácias de que se a venda é livre então deverá ser permitida em mais locais do que os actuais, posição que tem também uma visão favorável do Infarmed, com o pressuposto de que nos mesmos locais não seja vendido tabaco. (ver aqui a noticia)

A posição da ANF tem a ressalva de serem contra a venda desses medicamentos fora das farmácias (no que é acompanhada pela AFP – Associação de Farmácias de Portugal), mas dado que é permitida, então que seja o mais ampla possível.

Apesar de se poder encontrar alguma ironia na posição da ANF há um sentido estratégico mais profundo nessa posição. Olhando para o formato de concorrência na venda de medicamentos não sujeitos a receita médica, encontramos três tipos de agentes económicos: as tradicionais farmácias, as parafarmácias de pequena dimensão e alcance sobretudo local e as redes de vendas, onde se incluem os espaços localizados na grande distribuição retalhista. O que a ANF diz, lendo além do sound bite, é que prefere que as farmácias tenham uma concorrência mais pulverizada do que ter como concorrente poucas cadeias da grande distribuição. Do ponto de vista das farmácias faz todo o sentido ter uma concorrência local, mas que não seja esmagadora. Para o cidadão, fará diferença? há dois efeitos de sinal contrário, e não é à partida possível decidir se domina um ou outro. Por um lado, se as grandes cadeia de distribuição forem mais eficientes (tiverem menores custos), poderão praticar preços menores; por outro lado, se forem poucas, ou muito poucas, as redes de pontos de venda ao cidadão, estas terão capacidade de praticar preços mais elevados, não passando a eficiência conseguida via menores preços aos cidadãos. Ou seja, tem-se um possível efeito de poder de mercado a contrapor-se ao possível efeito de maior eficiência.

Ora, sabemos hoje em dia muito pouco sobre as eficiências de dimensão que possam estar associadas à venda de medicamentos não sujeitos a receita médica e nada sabemos sobre como esses ganhos de dimensão são passados, ou não, aos consumidores finais via menores preços.

Olhar apenas para a evolução dos preços nos locais de venda de medicamentos não sujeitos a receita médica (disponível no site do Infarmed) observa-se que o índice de preços na grande distribuição é mais elevado do que em alguns pequenos retalhistas, e que a grande distribuição tem uma posição de relevo na venda destes medicamentos. Ou seja, se há a presunção inicial de vantagens de dimensão e apresentam preços mais elevados, então ou há custos superiores e a presunção inicial não é válida ou há exercício de poder de mercado. Uma alternativa que não é possível discutir com a informação disponível é se os índices de preços correspondem a quantidades e a produtos distintos (sendo o índice de preços consistente ao longo do tempo para cada entidade, mas não sendo igual entre entidades), não sendo o texto esclarecedor quanto a este aspecto.

Do que sabemos dos primeiros 5 a 6 anos da liberalização da venda destes medicamentos, com recurso a um censo das vendas nas farmácias de Lisboa (por facilidade de recolha), e usando um cabaz de 5 produtos comuns, a pressão concorrencial fazia-se sentir – no sentido em que nas zonas com mais parafarmácias as próprias farmácias tinham preços mais baixos para estes produtos – mas não era muito importante em termos quantitativos. Claro que há fortes limitações de generalização por se ter apenas Lisboa e 5 produtos, e por não ter dados mais recentes, mas tudo indica que a pressão concorrencial existe mas fraca. O principal benefício para os cidadãos será então a existência de mais pontos de venda, e não a redução do respectivo preço. O que ajuda também a perceber porque será para a ANF mais relevante a diluição do poder de mercado de redes concorrentes face a uma maior pressão nos preços que as próprias farmácias pudessem ter.

(Para os medicamentos sujeitos a prescrição, a actualização da sua evolução numa noticia da Marlene Carriço no Observador, disponível aqui)


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liberdade de escolha, TAP e outras companhias

As queixas sobre o serviço da TAP são frequentes entre os portugueses, e não há quem não tenha uma história para contar de atrasos, cancelamentos, bagagens perdidas, etc. Apesar disso continuamos a usar mais a TAP do que outras companhias para as mesmas rotas aéreas. Haverá um certo elemento de carinho para com a TAP. Num tempo de crescente concorrência no transporte aéreo, o haver valorizações diferentes dos consumidores para vários aspectos de comodidade permite às companhias aéreas ter várias estratégias. Nos preços é hoje claro que diferentes dias de procura em websites têm diferentes resultados em termos de preços. Mas também visitas repetidas provocam subidas de preço para as mesmas rotas (nalguns casos, basta colocar o browser em “private window”, para retomar preços mais baixos!).

Encontrei agora um outro elemento de valorização – o poder escolher o lugar no avião quando se faz check-in online. Numa viagem na Iberia, feita em grupo, a atribuição de lugares é inicialmente feita pelo sistema automático, e qualquer mudança custa 15 euros por lugar. Na TAP essa marcação e mudança de lugar não tem qualquer custo e é facilmente realizada. Por enquanto, o sistema da Iberia aponta ainda para juntar em linha os passageiros da mesma reserva. Mas pais com filhos pequenos podem querer outra disposição (por exemplo, 2 + 2 com duas janelas, em vez de 3+1, com duas coxias – era a preferência das crianças por duas janelas). Ou seja, este custo poderá ser ou não relevante, dependendo de fazer check-in online ou não (não testei a saber se check-in ao balcão implica custo na mudança de lugar), e do valor que se dá a esta escolha. Pessoalmente gosto de ter a possibilidade de mudar o meu lugar sem custos, mesmo que não o faça na maior parte dos casos. E esta é uma vantagem que a TAP tem sobre a Iberia.


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trabalho em curso… concorrência na área da saúde

Colocado a discussão pública documento sobre concorrência e condições de concorrência na prestação de serviços de saúde, para contribuições de todos os interessados

http://ec.europa.eu/health/expert_panel/consultations/competition_healthcare_providers_en.htm

Resumo em cinco linhas: concorrência é um instrumento, não um fim em si próprio; concorrência não é sinónimo de privatização (ou vice-versa); concorrência não é sinónimo de liberdade de escolha (ou vice-versa); condições para concorrência  na prestação de cuidados de saúde diferem de país para país, de área para área, de momento para momento; é necessário uma avaliação cuidada de cada caso, dentro de princípios gerais. A introdução de concorrência na prestação de algum tipo de cuidados de saúde não é uma solução universal para a resolução de múltiplos problemas.


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Gato Fedorento na gestão da PT?

A PT SGPS que é accionista da Oi que é dona dos activos da PT Portugal que estão para ser vendidos à Altice adiou a sua Assembleia Geral. A PT SGPS como accionista da Oi pode impedir que a Oi venda à Altice os activos da PT Portugal. Preciso sempre de escrever detalhadamente estas ligações dada a confusão que facilmente geram. Ora, este detalhe é essencial para se perceber que

a) se a PT SGPS parar a venda dos activos da PT Portugal à Altice, significa que a PT Portugal continua nas mãos da Oi, logo é empresa brasileira, e como não faz parte da estratégia da brasileira Oi (que já assumiu não ter uma estratégia lusófona global e sim local no Brasil), não é claro qual será o rumo dado às operações em Portugal;

b) se a PT SGPS parar a venda dos activos da PT Portugal à Altice, a PT SGPS não fica a gerir os activos da PT Portugal (só para reforçar o ponto anterior);

c) se a PT SGPS parar a venda dos activos da PT Portugal à Altice, a actual gestão da PT Portugal continuará em gestão corrente sem poder verdadeiramente pensar a longo prazo;

c) se a PT SGPS parar a venda dos activos da PT Portugal à Altice, sem haver outra entidade que possa entrar na concorrência para os adquirir, e apenas por “birra nacional” face aos “erros” de gestão da PT com o investimento na Rioforte, está-se a prolongar a falta de rumo estratégico de longo prazo, o que a Nos e a Vodafone, principais concorrentes da PT nas telecomunicações em Portugal, agradecem.

Ou seja, como os “erros” de gestão não são reversíveis, devem ser vistos como um custo afundado da actividade, e ver-se daqui para a frente qual a melhor opção para a PT Portugal como empresa. Não sendo recuperável a situação pré-fusão com a Oi, e não tendo a Oi interesse em Portugal como mercado, a venda é inevitável.

O adiamento obtido agora não trará provavelmente novos compradores da PT Portugal, e não trará uma nova definição estratégica da Oi para o mercado português. Servirá quando muito para melhor se compreender o que foi feito no passado recente, mas sem verdadeiramente alterar a venda à Altice.

Entretanto, Armando Almeida, à frente da PT Portugal, que disse há uns meses não lhe ter sido dito que a empresas estava à venda, tem-se mantido silencioso. Espero que por esta altura tenham falado com ele, quem vende e quem compra a empresa que está a gerir.

Todo este último ano da PT parece ter sido criado pelos Gato Fedorento, que passaram da publicidade para a condução estratégica da empresa, não fora os muitos milhões “enterrados” no BES.


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Pacto para a saúde (4)

Saltando alguns dos tópicos, que virão a ser tratados nos próximos dias, é interessante pegar no ponto “Que liberdade de escolha?”. O ponto de liberdade de escolha é diferente de concorrência que é diferente de privatização. Pode-se ter liberdade de escolha para o cidadão (para o doente) dentro do sector público e sem ter concorrência (e sem ter privatização). Importante é saber o que são as consequências da liberdade de escolha, e como é que as instituições do Serviço Nacional de Saúde reagem a essa liberdade de escolha, e que instrumentos têm para essa reacção.

Contudo, antes de passar a essa discussão, e como o que parece ser o grande fantasma é a questão de concorrência com o sector privado, será útil conhecer um pouco mais das percepções das pessoas sobre este aspecto, pelo que proponho um rápido questionário (adaptado de outro contexto, e em inglês): aqui

Analisarei os resultados daqui a uns dias.


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O tumulto da privatização da TAP

A greve da TAP para o final do ano relançou a discussão sobre a privatização da TAP, defendida por uns, e a sua manutenção como empresa pública, defendida por outros. Cada lado procurando encontrar as contradições do outro lado.

Nesta discussão, muitos têm partido de uma das duas seguintes posições:

a) as empresas devem ser públicas, até argumento suficiente em contrário (talvez com a nuance de “as grandes empresas devem ser públicas, até prova em contrário”).

b) as empresas devem ser privadas, até argumento suficiente em contrário.

Ora, nesta discussão, tenho sentido a falta de clarificação num ponto fundamental, embora alguns dos comentários o tenham aflorado – o que se pretende do sector de transporte aéreo?  – para depois então se ter a capacidade de discutir a melhor forma de atingir esse objectivo.

Em particular, e vivendo-se numa economia de mercado, interessa identificar que factores fazem com que o funcionamento do sector privado neste campo tenha “falhas” que justifiquem a intervenção pública, e esses têm sido pouco claros, sobretudo no aspecto de terem alternativas de actuação que atinjam os mesmos objectivos (por exemplo, ligações às ilhas podem ser feitas subsidiando directamente os passageiros qualquer que seja a companhia; ou fazendo uma concessão temporária de serviço, sem necessidade de operar uma companhia). A escala que dantes era necessária atingir e que poderia gerar a necessidade de ter uma empresa pública já não é necessária hoje, e há claramente alternativas, concorrentes, que o podem fazer.

Apenas o “prazer” de ter uma empresa pública de aviação o poderia justificar, mas está-se realmente disposto a pagar por isso?


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PT, Oi e credibilidade intertemporal

Segundo as últimas notícias, a Oi terá tomado a decisão de vender a PT Portugal à Altice. Além da curiosidade de saber se já falaram com Armando Almeida (que dizia há tempos não lhe terem dito – então – que a PT Portugal ia ser vendida), a cronologia de toda a operação da PT com a Oi, com a suposta fusão que afinal já não vai ser, mostra como os anúncios empresariais devem também ser lidos à luz da lógica de credibilidade intertemporal (que não se aplica apenas às políticas públicas) – se uma empresa, ou conjunto de empresas, ou empresários, anunciar uma decisão futura que vai contra os seus melhores interesses nessa data de tomada de decisão, então não lhe devemos dar crédito. Esta preocupação assume no caso da PT especial acuidade, pois os vários intervenientes quererão anunciar que têm planos “fantásticos” para o desenvolvimento da empresa, para fazer passar a aceitação da operação (será tanto verdade para a Altice como para qualquer outra empresa, fundos de investimento e parceiros e incluindo Isabel dos Santos se vier a anunciar objectivos para a PT).

A descrição de Nicolau Santos no Expresso é reveladora de como esses interesses de cada uma das partes se sobrepuseram sempre aos anúncios realizados sobre intenções de desenvolvimento. Mais do que intenções, é necessário saber que compromissos sérios cada concorrente a ficar com a PT Portugal está disposto a assumir. Até lá, a perspectiva de desmantelamento da PT Portugal não pode ser descartada.