Momentos económicos… e não só

About economics in general, health economics most of the time


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o serviço público da RTP

Apesar das várias tentativas de definição de serviço público de televisão que vão sendo feitas, há sempre qualquer coisa que está a mais ou qualquer coisa que falta, mas uma definição que se aproxima bastante do que é elemento essencial é dada pela seguinte afirmação: “Se concessionarem a minha Antena 1 terei menos possibilidades de fazer perguntas difíceis e incómodas ao Ministro da Saúde. A este e aos próximos. E provavelmente terei menos hipóteses de contar histórias que aborreçam o meu novo patrão. É isso que o serviço público me oferece: Liberdade total e absoluta e com o escrutínio dos meus concidadãos e dos poderes públicos legitimamente eleitos para produzir notícias de saúde.” [Jorge Correia, via Facebook]

Serviço público é a capacidade de escrutínio dos poderes públicos. É essa a parte que contribui para a qualidade da democracia e da liberdade.


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encerramento da maternidade alfredo da costa (2)

Agora sim, alguns números sobre a actividade de partos na zona de Lisboa
(embora a Maternidade Alfredo da Costa tenha alguma outra actividade para além dos partos, esta é a principal).
Os valors são baseados nos episódios classificados nos GDHs 370 – 375, 650 – 652
O primeiro passo foi perceber onde nascem as pessoas do concelho de Loures, para ter uma ideia dos principais hospitais afectados pela abertura do novo hospital de Loures, admitindo que haverá uma preferência por esse hospital (mais perto da zona de residência).
Assim, 70% dos partos correspondentes a pessoas que indicaram viver no concelho de Loures ocorreram na Maternidade Alfredo da Costa, 19% no Hospital de Santa Maria, 5,4% no Hospital de São José, 2,1% no Hospital S. Francisco Xavier e 2,4% em outros 9 hospitais diversos.
Olhando apenas para os 4 hospitais mais relevantes, o quadro tem a informação sobre o número absoluto de partos nesse hospital (qualquer que seja a origem geográfica), o número de partos no hospital que tem como origem  geográfica o hospital de Loures e a diferença, que será uma previsão (tosca) do número de partos caso todos os partos com origem no concelho de Loures se desloquem para o novo hospital. O número para o total de partos na Maternidade Alfredo da Costa não é exactamente o mesmo referido em notícias na imprensa, tendo como fonte uma médica da Maternidade, mas é suficientemente próximo para se estar dentro das magnitudes relevantes.
Total de partos vindos do concelho de Loures Total de partos no hospital Total de partos s/ Loures
Hospital de São José 168 2008 1840
Maternidade Dr. Alfredo da Costa 2172 5304 3132
Hospital de São Francisco Xavier 65 2861 2796
Hospita de Santa Maria 592 2622 2030
(nota: números referentes a 2010)
Sobre estes números,  o Hospital de Santa Maria parece sofrer pouco, já a MAC é quem perde mais, e podia absorver todos os partos que restam no Hospital de  Santa maria, ou os do Hospital S. José.
A questão é saber se é melhor deslocar os cerca  de 3132 partos que se podem prever para a Maternidade Alfredo da Costa nos outros hospitais, nomeadamente H. Santa Maria e H. São José ou fechar a maternidade numa destas unidades e passar todos os partos referentes a ela para a Maternidade Alfredo da Costa.
O principal contra desta solução é como ambos o H de S. José e o H. de Santa Maria têm ensino universitário de Medicina, não faz muito sentido encerrar as maternidades dessas unidades.
Assim, a alternativa mais lógica fica a ser fechar a maternidade do H. S. Francisco Xavier, direccionando a respectiva actividade de partos para o H. de S. José e para a Maternidade Alfredo da Costa, mas isso fará pouco sentido também dada a população servida pelo H. S. Francisco Xavier.
Estas observações beneficiariam de ter informação sobre as capacidades das diversas unidades hospitalares em causa, o que não consegui recolher (ainda, pelo menos), mas de qualquer modo creio que permitem uma visão mais clara – a abertura do novo hospital em Loures retira um número substancial de partos da Maternidade Alfredo da Costa. Esta fica então com capacidade por utilizar. O efeito sobre outros hospitais é menor, e o que mais é afectado depois da Maternidade Alfredo da Costa é o Hospital de Santa Maria.
A capacidade disponível na MAC é capaz de absorver toda a actividade de partos de um dos dois hospitais associados com Faculdades de Medicina (Hospital de Santa Maria – Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, Hospital de S. José – Faculdade de Ciências Médicas). Mas precisamente por estes últimos hospitais serem universitários, fará mais sentido concentrar a actividade neles do que retirar de lá actividade, um argumento diferente da questão de unidades monovalentes (como a MAC) vs integradas em hospitais gerais. Assim, para manter a actividade da MAC sem haver capacidade instalada não utilizada, a solução teria que passar por deslocar actividade de outro hospital da zona de Lisboa. Só que os únicos com actividade suficiente seriam o Hospital de S. Francisco Xavier ou parte da actividade do Hospital de Amadora Sintra. Servindo esses hospitais sobretudo populações ao redor de Lisboa, a centralização dentro de Lisboa aparenta ser uma solução menos razoável do que deslocar as equipas da Maternidade Alfredo da Costa para outras unidades hospitalares.
(Nota final: estas informações e opinião poderão ser corrigidas se entretanto se obtiver informação mais actualizada ou mais completa. Agradeço aos leitores do blog que me enviaram sugestões, mesmo que a minha opinião não vá de encontro à sua).


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encerramento da maternidade alfredo da costa

num primeiro momento, tinha decidido não escrever sobre este tema. como aparentemente se está a entrar numa escalada (sem grande sentido a meu ver), será bom procurar assentar ideias, e o primeiro passo para isso é procurar informação adicional, de forma a que a carga emocional do assunto possa ser temperada com alguma racionalidade. A minha “lista de informação desejada” é:

– qual a capacidade instalada para partos em Lisboa, antes e depois da abertura do novo hospital de Loures

– onde foram realizados, antes da abertura do novo hospital de Loures, os partos de grávidas oriundas desse concelho?

– qual o peso dos partos oriundos do concelho de Loures em cada um dos hospitais de Lisboa que receberam os nascimentos?

– quantos partos tem, em número absoluto, cada hospital que não são oriundos do concelho de Loures?

pode-se responder com o número total de partos e também apenas com os partos que não tiveram complicações, se se quiser

a resposta a estas perguntas permite perceber em que medida tem que haver um reajustamento dos equipamentos disponíveis face à abertura do novo hospital de Loures, e que movimentos de concentração de actividade são possíveis ou desejáveis.

Para os profissionais e para a população, ainda antes de incluir o aspecto económico-financeiro, não terá especial interesse maternidades em que não existe actividade suficiente.

E no aspecto económico-financeiro, quanto é que os contribuintes estão dispostos a pagar por capacidade instalada e não usada é a pergunta que tem de ser feita. Mas ainda antes de lá chegar, só pelos aspectos técnicos, com a informação adequada se conseguirá perceber qual é o melhor rumo a seguir.

Se alguém souber destes dados, importa-se de indicar onde se pode obter a informação?

(o que conseguir encontrar, disponibilizo)


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….comissões de utentes….

Nova técnica de chamar a atenção dos meios de comunicação social – entitular-se Comissão de Utentes, ver a lista, certamente ainda provisória e incompleta, aqui no original:

Comissão de Utentes de Auto-Estradas
Comissão de Utentes das Auto-Estradas do Interior
Comissão de Utentes das A 23, A 24 e A 25
Comissão de Utentes da A 23 do Médio Tejo
Comissão de Utentes contra as Portagens
Comissão de Utentes da Linha do Sado
Comissão de Utentes de Transportes da Margem Sul
Comissão de Utentes da Saúde de Lisboa
Comissão de Utentes de Centros de Saúde de Lisboa
Comissão de Utentes da Linha de Sintra
Comissão de Utentes da Linha da Azambuja
Comissão de Utentes dos transportes públicos de Setúbal
Comissão de Utentes do Hospital de S. Bernardo
Comissão de Utentes de Saúde do Sado
Comissão de Pais (muitas)

Seria curioso saber quantas pessoas estão inscritas em cada uma destas comissões, pergunta que nunca lhes foi feita, que me lembre de ter visto.

Ser a favor da sociedade civil e da sua expressão é diferente de aceitar que pequenos grupos se auto-entitulem representantes

dessa mesma sociedade civil.

 


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um desabafo sobre comunicação

De vez em quando dou por mim a ler os documentos que os Governos vão publicando; não apenas o que sai no Diário da República mas também outras fontes, e de entre elas o portal do Governo. Decidi abrir um dedicado aos 100 dias do Governo de Passos Coelho, aqui. E deparei com esta frase de entrada:

“Nunca outros fizeram tanto em tão pouco tempo; porém este muito sabe a pouco, quando se conhece a dimensão dos problemas que o País enfrenta e tudo aquilo que ainda falta fazer, para colocar Portugal no caminho do crescimento económico”

e de repente senti-me cansado e desmoralizado. Esta frase ou é conclusão ou é propaganda sem substância. Se é conclusão deveria vir no final da listagem das medidas do Governo (e já agora apresentarem algures ou uma ligação ou uma descrição das medidas que “outros” fizeram no mesmo tempo).

O resto da informação contida é útil e interessante, podia ser melhorada com uns links para os diplomas legais e documentos oficiais quando existam, mas enfim, não é crítico. Se mantiverem o hábito de regularmente, digamos no final de cada trimestre, fazerem um resumo desta natureza, aumenta certamente a proximidade do cidadão ao Governo e ao que é feito, não sendo as diversas contestações que vão surgindo as únicas fontes de informação sobre o trabalho desenvolvido.

Mesmo assim, pensei que seria melhor que apenas descrevessem o que fizessem, bem como o que falta, e deixar aos leitores tirar essa conclusão de “nunca outros fizeram tanto em tão pouco tempo”, porque se os leitores não retirarem essa conclusão, então a afirmação cai na categoria da propaganda e não da conclusão.

Até pode ser que esta seja a forma certa de comunicar com a população portuguesa, e então sinto-me desanimado por não estar em sintonia.

Enfim, foi um desabafo, talvez passe com o tempo; talvez as introduções dos próximos documentos sobre medidas adoptadas sejam, a meu ver mais felizes. Sim, porque espero que haja mais documentos destes e regulares.