recebi há dias, de uma pessoa de fora de Portugal, quatro perguntas e tive alguma dificuldade em responder de forma que fosse liberta dos meus preconceitos técnicos e de cidadão português.
Como foi um exercício de síntese, deixo as perguntas para que cada um também possa pensar no que seriam as suas respostas (deixo também as minhas respostas, mas o desafio é mesmo cada um responder às perguntas em duas linhas ou menos – muito mais haveria para dizer em cada pergunta). As perguntas ilustram também as preocupações de quem nos olha de fora.
1. Qual a situação actual da economia portuguesa?
Triste. Recessão mais forte do que esperado pelas projecções oficiais. Desemprego mais elevado. Risco de desemprego estrutural fixar-se em valores muito elevados é grande.
2. Qual a situação política actual?
Mais tensa desde Setembro de 2012. Nas últimas duas semanas pareceu haver mais flexibilidade para um entendimento com a oposição por parte do Governo. Maioria no Parlamento aparenta ser estável. Discurso do Presidente da República no 25 de Abril incendiou a oposição.
3. Como está a decorrer a implementação do programa de ajustamento?
Na componente formal, são adoptadas as medidas exigidas e as leis decorrentes são publicadas. É menos claro se a essa componente formal corresponde uma transformação estrutural. As empresas parecem ter passado a fazer um esforço sério (de sobrevivência) para exportarem mais. As famílias reduziram o seu consumo, sobretudo de bens duráveis. No sector público, é pouxo claro o que possa ter mudado. Cortar salários, como foi feito, não é mudança estrutural.
4. Consequências da decisão do Tribunal Constitucional?
A primeira foi emocional: o sentimento de que há limites ao que um Governo pode fazer, o que em momentos de desconfiança para com os agentes políticos tem algum valor. Em termos económicos, vai obrigar o Governo a procurar outras fontes de poupança de despesa, restando saber se será por corte geral ou se por começar a redefinir uma maior eficiência e campo de intervenção público.
5. Qual a atitude dos Portugueses perante a União Europeia?
Não encontro uma rejeição da União Europeia enquanto tal, nem uma animosidade especial contra a Comissão Europeia. A saída de Portugal da zona euro não é uma solução com grande apoio.
6. Qual o caminho futuro para Portugal?
Caminho longo de recuperação. Há a necessidade de ter liderança política e económica clara e esclarecida, com melhoria do processo de decisão pública. Dois aspectos chave para as políticas públicas internas: o risco de desemprego estrutural, e o “controle” da economia pelo Estado (não é só impostos, mas todos os contratos de concessão, exclusividade, licenciamentos, protecções mais ou menos encapotadas).
Gostar disto:
Gostar Carregando...