Momentos económicos… e não só

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Das leituras recentes de investigação, o efeito mortífero do dia de recebimento do salário

é dos mais curiosos. De acordo com uma análise feita com dados suecos sobre os funcionários públicos, há um aumento da mortalidade devida a enfartes cerebrais, ataques de coração e problemas do sistema circulatório, no dia em que é recebido o ordenado.

Os autores têm um cuidado metodológico grande a procurar garantir que é um efeito causal (receber o ordenado provoca risco de mortalidade) e não apenas uma coincidência, explorando a situação de nem todos os funcionários receberem o ordenado no mesmo dia ou na mesma data e do motivo do óbito. Além do tipo de mortalidade, os dados revelam também que esta resposta em termos de mortalidade é mais forte para quem tem menores rendimentos. Aliás, o efeito “letal” de receber o ordenado desaparece para quem tem níveis de rendimento mais elevados.

Conseguem também verificar que este efeito de mortalidade não é por antecipação no curto prazo de uma situação de ocorreria no curto prazo (ter um enfarte no dia de receber o salário em vez de ter esse mesmo enfarte uma semana depois, por exemplo).

Em termos de mortalidade adicional por ano, a estimativa dos autores é de 96 mortes prematuras devido a este efeito, numa população empregada de 4,7 milhões de pessoas. Não sendo um efeito muito elevado, faz pensar se não haverá também outros custos de stress ainda por contabilizar (ansiedade de limitações financeiras que não resulta em reacções físicas que levam à morte) e quais os mecanismos que poderiam ajudar a mitigar este efeito.

Em particular, fica a curiosidade de saber se pagar semanalmente poderia levar a uma diferente gestão pessoal que evitasse os picos associados com o recebimento mensal do vencimento. Não foi um aspecto explorado no trabalho porque só tinham dados de recebimento mensal, mas fica a ideia para investigação futura.

 


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International Forum on Innovation on Mental Health

que decorreu no início de Outubro, tem aqui disponíveis os documentos das apresentações, e fotos para quem tiver curiosidade: a apresentação de Michael Marmot sobre Determinantes sociais da saúde mental e os comentários, meu e de Harry Minas (de que recomendo a leitura pois foi uma visão complementar à de Marmot bastante interessante).

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Saúde mental, “universalismo proporcional” e Sir Michael Marmot

Na sexta-feira passada tive a oportunidade de participar no International Forum on Innovation in Mental Health (programa aqui) como comentador de um documento elaborado pela equipa de Sir Michael Marmot sobre “Social Determinants and Mental Health”.

O documento trata os aspectos de determinantes sociais da saúde mental de forma análoga a outros documentos sobre o papel das desigualdades em dimensões sociais e económicas na saúde da população.

Um dos conceitos que introduz (adapta) é o de “proportionate universalism”, com a intenção de procurar reduzir o gradiente sócio-económico na saúde.

No meu comentário propus que a audiência respondesse a uma simples questão, para ver qual o sentido de acção preferido em termos de intervenção. Num próximo post discutirei em mais detalhe esta ideia, com base nos resultados obtidos nas respostas. Quem quiser saber um pouco mais, ver aqui, responder e ver o comentário.