Momentos económicos… e não só

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da série “empresas portuguesas”: PT

Ainda hesitei se a PT deveria figurar entre as empresas portuguesas, uma vez que a Oi é brasileira mas dado que a EDP foi alvo de atenção no post anterior, avancemos.

Saiu ontem um comunicado da Comissão Europeia sobre a compra da PT pela Altice, dando conta de duas decisões. A primeira de autorização da compra da PT pela Altice condicional ao compromisso da Altice vender as suas outras operações de telecomunicações em Portugal. Como os compromissos são propostos pelas empresas, não há dúvida que será este o caminho. Este compromisso mantém a actual estrutura concorrencial em Portugal se quem comprar não for outro operador de telecomunicações em Portugal. A frase usada pela Comissão Europeia, “The Commission concluded that the transaction, as modified by the commitments, would raise no competition concerns.”, não sei se é totalmente válida se for a NOS a comprar o que a Altice tem que vender. Veremos que surge como comprador. Em caso extremo, é até possível que a Altice prefira fechar a ONI e a Cabovisão a não poder comprar a PT.

A segunda decisão foi a de não aceder ao pedido da Autoridade da Concorrência portuguesa para ser esta última a fazer a avaliação da operação. Creio que esta decisão é sobretudo uma vontade da Comissão Europeia em afirmar a sua vontade de olhar para as operações de concentração nas telecomunicações, pois será de supor que os compromissos assumidos pela Altice com a Comissão Europeia fossem também assumidos se a entidade interlocutora fosse a Autoridade da Concorrência. A celeridade do processo parece estar presente nas intenções da Altice e este compromisso de venda das outras empresas no sector das telecomunicações que tem em Portugal é o mais óbvio e garante esse celeridade.

Sendo anunciado que a Altice terá uma estratégia de emagrecimento de custos na PT, veremos nos próximos tempos se essa estratégia se traduzirá também numa menor qualidade de serviço, técnico e de atendimento, ao cliente. A Vodafone e a NOS são as principais candidatas a beneficiar desse movimento.


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sobre a fusão Optimus – Zon, no dinheirovivo.pt

as minhas dúvidas,  e de resto os desejos de um Feliz Natal a todos.


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fusões de empresas de transportes – a gestão da procura

No seguimento da discussão de ontem, hoje pretendo discutir a racionalidade da fusão das empresas de transporte urbano à luz da gestão da procura.

A outra área de ganhos das fusões será do lado da gestão da procura – uma visão integrada de todos os modos de transporte poderá trazer uma melhor estrutura de preços e uma utilização mais racional dos diferentes modos de transporte e definição das respectivas redes de cobertura.

Neste ponto, não encontrei evidência internacional que analisasse a questão. Há aqui que usar alguns princípios da teoria de regulação económica. Em particular, parece-me relevante o resultado de que uma empresa monopolista regulada por “price-cap”, isto é, tendo que respeitar um índice de preços, eventualmente com evolução temporal anunciada, em que cada preço é ponderada pelas vendas respectivas, tende a estabelecer a estrutura de preços relativos (preços de metro face a preços de autocarro, por exemplo) que o regulador também fixaria, e fá-lo de uma forma descentralizada. Há apenas que ter o cuidado de assegurar que o índice de preços não é demasiado generoso para a empresa.

Dadas as características que aparentemente existem de monopólio natural nestas actividades, a regulação acabará por ser necessária, dado que a introdução de concorrência não é vantajosa (implicará custos mais elevados). Resta, porém, saber se as obrigações de serviço universal que sejam impostas poderão anular este resultado da teoria de regulação económica.

Adicionalmente, há que considerar dois aspectos potencialmente negativos destas fusões:
a) as empresas resultantes ficam sem concorrência de outros meios de transporte, o que a prazo as poderá levar a terem maiores custos apenas por falta de pressão para serem eficientes; o contra-argumento é que não se colocam em situação pior do que serem, como são hoje, empresas públicas.
b) estas grandes empresas ficam mais refém de sindicatos, e sujeitas a que greves criam mais perturbação, por afectarem toda a empresa, do que greves parcelares por meio de transporte como é mais comum quando são empresas separadas e especializadas no seu modo de transporte.
c) não é claro que empresas de autocarros não possam ter concorrência em zonas urbanas, sendo preciso conhecer melhor a dimensão mínima requerida para o efeito.

Tudo por junto, se à partida tinha alguma desconfiança quanto a estas fusões, a existência de economias de gama / diversificação, do lado dos custos, e uma regulação apertada em termos de “price cap” poder gerar decisões adequadas em termos de gestão da procura, sugerem que se olhe com cuidado para a ideia.

Em cima destas considerações técnicas, adiciono apenas a importância de separar de vez as decisões operacionais das empresas das decisões de investimento decididas pelo Governo e impostas às empresas; talvez fosse vantajoso ter um administrador não executivo com a única missão de zelar para que a condução da empresa não seja influenciada por decisões políticas do Governo que sejam abusivas do ponto de vista empresarial.


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fusões de empresas de transportes: existe alguma vantagem?

Ainda no seguimento das notícias sobre as transformações nas empresas de transportes, nomeadamente as planeadas fusões, pareceu-me que seria demasiado ligeiro comentar sem procurar alguma informação adicional. Em particular, estava interessado em saber se já existem exemplos deste tipo de fusões, e quais os seus efeitos.

À partida, é possível pensar-se que existem dois tipos de ganhos possíveis – por um lado, uma melhor gestão da procura, dado que em qualquer caso são todas empresas de actividade regulada; por outro lado, ganhos do lado dos custos, nomeadamente economias de gama (ou diversificação), e não tanto economias de escala. A usual palavra “sinergias” serve para quase tudo, mas convém dar-lhe conteúdo.

Uma rápida procura de literatura internacional sobre este tipo de operações não revelou grande informação:

– “Potential gains from mergers in local public transport: an efficiency analysis applied to Germany”, Matthias Walter, Astrid Cullmann, 2008, consideram diferentes tipos de fusões, envolvendo autocarros, metros de superfície e eléctricos. De acordo com os resultados obtidos, existem ganhos de juntar as diferentes companhias, e parte dos ganhos está em diversificação geográfica dos mercados (o que não estará em causa em Portugal).
– “Economies of Scale and Scope in Urban Public Transport”, Matthias Walter, 2009 – coloca de algum modo em questão as conclusões do estudo anterior: “From the finding of slight diseconomies of scope we conclude that bus and rail-bound services should not be integrated on the cost side” ou seja, não encontra vantagem, de acordo com a evidência observada para a Alemanha, em integrar serviços de autocarros com serviços de transporte que usam carris (e podemos incluir aqui como aproximação o metro).
– “Economies of scale and scope in local public transportation”, Medhi Farsi, Aurelio Fetz, Massimo Filippini, 2007, analisaram diversos tipos de transporte na Suiça, cobrindo autocarros, eléctricos e metros de superfície, encontrando evidência de economias de escala e de economias de diversificação, o que favorece uma grande empresa por cidade, cobrindo as diversas áreas de transporte, como forma de obter menores custos operacionais. As estimativas mais baixas apontam para ganhos de custos, tudo o resto constante, da ordem dos 10%. Naturalmente, para extrapolar para as cidades portuguesas será preciso ver as dimensões das empresas suíças analisadas e verificar qual a posição relativa das empresas portuguesas.

Assim, olhando apenas dos lados dos custos, parece fazer sentido a junção das empresas, sendo uma bilhética comum um dos campos onde esses custos podem ser recolhidos.

(continua amanhã, com o lado da procura)