Ainda no seguimento das notícias sobre as transformações nas empresas de transportes, nomeadamente as planeadas fusões, pareceu-me que seria demasiado ligeiro comentar sem procurar alguma informação adicional. Em particular, estava interessado em saber se já existem exemplos deste tipo de fusões, e quais os seus efeitos.
À partida, é possível pensar-se que existem dois tipos de ganhos possíveis – por um lado, uma melhor gestão da procura, dado que em qualquer caso são todas empresas de actividade regulada; por outro lado, ganhos do lado dos custos, nomeadamente economias de gama (ou diversificação), e não tanto economias de escala. A usual palavra “sinergias” serve para quase tudo, mas convém dar-lhe conteúdo.
Uma rápida procura de literatura internacional sobre este tipo de operações não revelou grande informação:
– “Potential gains from mergers in local public transport: an efficiency analysis applied to Germany”, Matthias Walter, Astrid Cullmann, 2008, consideram diferentes tipos de fusões, envolvendo autocarros, metros de superfície e eléctricos. De acordo com os resultados obtidos, existem ganhos de juntar as diferentes companhias, e parte dos ganhos está em diversificação geográfica dos mercados (o que não estará em causa em Portugal).
– “Economies of Scale and Scope in Urban Public Transport”, Matthias Walter, 2009 – coloca de algum modo em questão as conclusões do estudo anterior: “From the finding of slight diseconomies of scope we conclude that bus and rail-bound services should not be integrated on the cost side” ou seja, não encontra vantagem, de acordo com a evidência observada para a Alemanha, em integrar serviços de autocarros com serviços de transporte que usam carris (e podemos incluir aqui como aproximação o metro).
– “Economies of scale and scope in local public transportation”, Medhi Farsi, Aurelio Fetz, Massimo Filippini, 2007, analisaram diversos tipos de transporte na Suiça, cobrindo autocarros, eléctricos e metros de superfície, encontrando evidência de economias de escala e de economias de diversificação, o que favorece uma grande empresa por cidade, cobrindo as diversas áreas de transporte, como forma de obter menores custos operacionais. As estimativas mais baixas apontam para ganhos de custos, tudo o resto constante, da ordem dos 10%. Naturalmente, para extrapolar para as cidades portuguesas será preciso ver as dimensões das empresas suíças analisadas e verificar qual a posição relativa das empresas portuguesas.
Assim, olhando apenas dos lados dos custos, parece fazer sentido a junção das empresas, sendo uma bilhética comum um dos campos onde esses custos podem ser recolhidos.
(continua amanhã, com o lado da procura)
11 \11\+00:00 Outubro \11\+00:00 2011 às 10:32
Caro Pedro
As economias de escala e as economias de serviço são um velho tema. E os artigos que referes e que já conhecia apontam para a necessidade de uma boa reflexão “on the job”. Por comparação que experiencias temos em Portugal fora do Sector dos Transportes?
Exemplo 1- O caso da SIBS, saído da Banca de Proximidade Nacionalizada, serviu para 31 bancos terem uma unidade de serviços partilhados com visivel economia de custos.Mas sobretudo com um Modelo financeiro simples e eficaz tecnológicamente. Com algumas vantagens em economia de serviços para um pequeno País. E sem grande mão de obra directa envolvida.Logo sem grandes problemas sindicais.Descontando o sempre recorrente tema da taxa multibanco tudo corre sem problemas e concorrência local.
Exemplo 2- O caso dos SUCH foi o que se sabe. Incapacidade organizativa e processual com os hospitais a não obedecer porque…E na Europa há mais exemplos inglórios do mesmo tipo.Porque enquadrados num ambiente em que “ninguem manda”.serviços.Não para as economias de escala, mas para a eficácia.
Conclusão proposta: voltando aos transportes e vendo o que se passou na privatização da RN e da integração da Portugália na TAP, com alguns bons resultados:”fusionar empresas” de serviços é por vezes “confusionar” do lado da oferta se não houver “mão de ferro na gestão.Porque há os milhares de postos de trabalho, há as centenas de quadros “acomodados” esperando a reforma (vamos lá ver…). Há os gestores do sector, há…do verbo haver, etc.Mas o que tem de ser tem muita hipótese de acontecer.Troikamente falando por enquanto.
Estou mais numa evolução a dois tempos: etapa da criação de usp e etapa da prestação integrada de serviços em que o “freguês perceba que vai pagar menos ou pelo menos o mesmo.Em dois anos.Mas a curto prazo com a clarificação do que se quer e vai fazer.
E conviria que houvesse uma etapa prévia: esclarecer bem, empresa a empresa onde e como se caiu nisto. O que me parece difícil, porque os “interesses em rede ” da evolução aconselham o silencio ruidoso.Que só os sindicatos perturbarão gritando.
Abraço
Francisco
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11 \11\+00:00 Outubro \11\+00:00 2011 às 22:17
Caro Francisco,
Esperemos que não seja apenas “confusionar”, a tarefa com os transportes das áreas urbanas é bem mais árdua. Na tua parte final, fazia também a dois tempos:
primeiro tempo, separar o lastro do passado que não seja responsabilidade da gestão, e dar à nova gestão (conjunta) as condições para gerir; segundo tempo, como dizes “esclarecer bem, empresa a empresa onde e como se caiu nisto”. O primeiro tempo é de pragmatismo. O segundo tempo é de responsabilidade.
abraço.
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