O tema desta semana no Gabinete de Crise foi a nova app stayaway covid, o programa pode ser ouvido aqui. O resumo da minha participação segue abaixo, como usual.
Número da semana: 13% – proporção de portugueses que se revelaram contrários ou fortemente contrários à ideia de instalação de uma app para fazer o seguimento dos contatos de quem esteja com COVID-19 confirmada.
É o valor mais baixo dentro dos países europeus com quem temos feito um trabalho de comparação do apoio às políticas seguidas:
Portugal: 13% contra (19% indiferentes)
Reino Unido: 13% contra (26% indiferentes)
Itália: 15% contra (23% indiferentes)
Dinamarca: 16% contra (25% indiferentes)
França: 25% contra (33% indiferentes)
Alemanha: 25% contra (28% indiferentes)
Holanda: 25% contra (30% indiferentes)
(amostras de cerca de 1000 pessoas em cada país)
Numa app voluntária se apenas os claramente favoráveis instalarem a app, não se atingirá um valor de adesão superior a 70% em nenhum país e em vários fica-se abaixo dos 50% – em França, quase 2 milhões de pessoas instalaram a aplicação, quase 500 mil desinstalaram pouco depois (informação de final de junho, após três semanas disponível). Na Noruega, a app foi suspensa em meados de junho por problemas de privacidade (atualização permanente da localização da pessoa via telemóvel, tinha sido instalada por 1,5 milhões de utilizadores e tinha 600 mil ativos (cerca de 10% da população, 16% da população com mais de 16 anos).
Análise da semana –
Piorou ligeiramente o número de novos casos, em Lisboa e fora de Lisboa, mas ainda sem problemas de congestão nos serviços de saúde, aumentaram os óbitos também ligeiramente; nos internados seja em UCI ou não, continuou a melhoria, mas há um desfasamento temporal entre a subida de novos casos e os internamentos. Sinais mistos esta semana.
O desafio imediato – controlar surtos; nomeadamente nos lares. Pensar melhor o que pode ser feito ativamente, em vez de ser apenas reativo. Desafio a 1 mês, a reabertura do ano escolar (podem voltar a existir surtos nas escolas). O desafio em 2 meses – como ter a “máquina da saúde pública” para o outono, nomeadamente nos transportes e eventualmente empresas e locais de trabalho.
Média de novos casos diários por semana (semana “Gabinete de crise”, de 6ª a 5ª seguinte)
Lisboa e Vale do Tejo | Resto do País | Total nacional | |
8 a 14 de maio | 119 | 110 | 229 |
15 a 21 de maio | 159 | 69 | 228 |
24 de julho a 30 de julho | 155 | 58 | 213 |
31 de julho a 6 de agosto | 111 | 59 | 170 |
7 de agosto a 13 de agosto | 132 | 80 | 212 |
Nota: valores arredondados à unidade
Média de valores diários por semana (semana “Gabinete de crise”, de 6ª a 5ª seguinte)
Óbitos | Internados | Internados em UCI | |
8 a 14 de maio | 11 | 763 | 114 |
15 a 21 de maio | 13 | 636 | 104 |
24 de julho a 31 de julho | 3 | 408 | 46 |
31 de julho a 6 de agosto | 2 | 382 | 41 |
7 de agosto a 13 de agosto | 4 | 363 | 35 |
Nota: valores arredondados à unidade
Alerta: as aplicações digitais, a lançada agora oficialmente ou outras, não substituem o processo tradicional de identificação de contactos (é um alerta para as autoridades de saúde não relaxarem, para não reduzirem as equipas de saúde pública) – pela necessidade de abarcar pessoas que não instalam a aplicação, pela necessidade de ter informação mais detalhada.
Mesmo que a aplicação tenha a capacidade tecnológica de realizar o que se espera dela – identificar sem falhas quem esteve próximo, ou suficientemente próximo, de uma pessoa com COVID-19, há que pensar como se incluem populações vulneráveis ou quem não tem telemóvel por opção. Há também que assegurar que não transmitida mais informação do que o estritamente necessário para o que se pretende, e que essa informação não acaba por ser usada para outros fins.
Esperança da semana: A esperança é que a tendência decrescente de novos casos COVID-19 em Portugal seja retomada na próxima semana, resultado das precauções e cuidados da população portuguesa, tornados de algum modo permanentes enquanto o vírus da COVID-19 andar em circulação. A esperança é que o número mais elevado de ontem tenha sido excepcional nesta “rampinha negativa”.
Nas últimas semanas a “mobilidade” medida pela Google aumentou consideravelmente em Portugal na categoria de praias, parques, marinas, etc. Nas últimas semanas conciliou-se esta mobilidade com redução de casos. Aproveitar o Verão está, até agora, a ser compatível com o controle da pandemia; é essencial que o continue a ser.
Portugal está novamente a contraciclo da Europa, uma Europa onde o crescimento do número de novos casos COVID-19 levanta preocupação, e ainda estamos longe do período mais temido, anunciado para o Outono.
Sobre a aplicação stayaway covid, recebeu a bênção oficial com o Decreto-Lei no 52/2020 de 11 de agosto. Uma pessoa fica a saber que tem a COVID-19, médico tem que dar código para incluir na aplicação, a aplicação avisa depois quem esteve perto dessa pessoa com risco de contrair a COVID-19, mas o médico precisa de ter “perfil” no sistema, que é dado por alguém da DGS, o sistema cruza dados sobre códigos gerados por cada telemóvel, e depois avisa utilizadores em risco para contactarem os serviços de saúde – a utilização da app é voluntária, e o contacto com o sistema de saúde também (a DGS não fica a saber que alguém esteve próximo de uma pessoa com covid-19 e não contactou o SNS).