Mais uma semana, mais uma análise do Gabinete de Crise da Rádio Observador, com a companhia da Sónia Dias (ENSP).
Número da semana: 21% – a percentagem de pessoas, que numa sondagem a uma amostra representativa da população portuguesa feito pela Nova SChool disse que hesitaria em tomar uma nova vacina contra a covid-19.
Por outro lado, 75% diz que tomaria, e 5% que não. Ora normalmente em Portugal as taxas de vacinação são muito elevadas, acima dos 95%. É de esperar que esta incerteza quanto à COVID-19 não se transporte para a vacina habitual da gripe, a ser tomada no próximo Outono. Vai ser importante também para evitar que haja muita gente a necessitar de ir aos serviços de saúde na mesma altura em que se poderá ter a chamada segunda vaga da COVID-19.
Tema da semana: a grande incerteza que ainda existe sobre a COVID-19 e como funciona o vírus. Ainda há muito que não sabemos, o que dita precauções por essa incerteza. Ainda esta semana a OMS veio reconhecer as incertezas sobre a transmissão do virus através de superfícies, não se sabendo muito bem qual a real importância. Pelo sim pelo não vamos limpar tudo (importante para restauração e transportes públicos, por exemplo). A honestidade no conhecimento científico, quando todos preferíamos ter certezas, é difícil de gerir. E conforme se vai aprendendo, o que hoje é dito, amanhã pode ser alterado face ao que se aprende entretanto.
Neste mundo de incerteza, como olhar para o processo de desconfinamento em curso? os últimos dias têm mostrado um país algo dual, com Lisboa e a sua cintura de concelhos a comportar-se de um modo distinto do resto do país, como expresso no número de novos casos. Só com os dados disponibilizados diariamente não é possível conhecer as causas subjacentes a este crescimento e porque é diferente nesta zona face ao resto do país. Dependendo das causas que lhe estejam por detrás, poderá vir a ser necessário medidas específicas, ou desconfinamento mais lento (à semelhança do que Espanha fez com Madrid e Barcelona, que avançaram mais lentamente que as restantes regiões.
A vantagem de escrever um dia depois é que hoje foi dada informação adicional sobre essa evolução na zona de Lisboa. Retirando do jornal Público: “
“Sobre este tema, Marta Temido considerou que os focos localizados em Lisboa não se devem às medidas de desconfinamento, mas a “relaxamento nas pausas” do trabalho. “Provavelmente, são pessoas que nunca deixaram de ir trabalhar. O que se passa é que, no cumprimento de medidas de distanciamento e higiene, poderão não estar a ser tidas todas as cautelas. E pode haver contextos específicos de habitabilidade e deslocação para o trabalho. E é sobre estas condições de vida que estamos a procurar incidir [para identificar causas]”, explicou.”
A acompanhar nos próximos dias, a ver se à identificação das causas se consegue estabelecer uma intervenção que as neutralize.
Mito da semana: para ir à praia este ano será preciso autorização. Não é verdade, existem regras, baseadas no “uso responsável” (respeitar o distanciamento fisico). Vai possível ter alguma normalidade no Verão, desde que respeitadas as “regras sociais”. E se não houver esse distanciamento físico, cada praia poderá ser encerrada nessa altura. O comportamento de cada um será a chave para que todos possam usufruir de cada praia.
Esperança da semana: nos últimos dias, parte do crescimento do número de novos casos da COVID-19 tem estado associado a surtos em empresas. Aqui a esperança é que sejam utilizadas ideias inovadoras, por exemplo, de testes de grupo, testes realizados em empresas que estejam a regressar à atividade. Se o grupo testado junto for negativo, todosos membros do grupo são negativos à COVID-19, se o grupo testar positivo, há que testar individualmente. Gastam-se assim, em média, menos testes e consegue-se respostas mais rápidas. Este sistema tem sido usado nos Estados unidos e no Gana, por exemplo.