Esta semana inicialmente tinha pensado num tema para o futuro, mas afinal acaba por ser um comentário a mais uma decisão na área da saúde – a eliminação de taxas moderadoras nos cuidados de saúde primários e nos exames pedidos pelo SNS. Aqui mais do que a racionalidade das medidas, chamou-me a atenção o argumento de se estar a procurar aumentar o acesso aos cuidados de saúde – ora, se é essa a preocupação então o primeiro passo deveria ser perceber onde estão as despesas das famílias com gastos de saúde – olhando para a conta satélite da saúde, os números mais recentes dizem que do total pago directamente pelas famílias cerca de 30% vai para consultórios privados, cerca de 25% vai para despesas em farmácias (muita desta despesa em medicamentos comparticipados), e menos de 2% é gasto em taxas moderadoras em cuidados de saúde primários do SNS. Sobre a despesa com meios de diagnóstico prescritos pelo SNS não se consegue separar do total, sendo este total cerca de 10% de toda a despesa das famílias. Assim, se a preocupação é aliviar a despesas das famílias não se entende a opção de ir pelas taxas moderadoras. Adicionalmente, 62% da população está isenta de taxas moderadoras, incluindo situações de dificuldade económica e de doença crónica. Tudo isto levou à crónica de hoje, que pode ser ouvida aqui.