Portugal, Grécia e Irlanda foram países que tiveram resgates internacionais, a Espanha “apenas” ao seu sector bancário, como é conhecido. A base de dados AMECO da Comissão Europeia realiza dois cálculos que ajudam a ver as diferenças entre estes países, antes e depois, dessas situações – o primeiro é o cálculo do PIB potencial, que em termos simples é o que a economia poderia produzir de forma estável e regular com base nos recursos disponíveis e eficiência na sua utilização, e o segundo o gap entre o PIB observado e o potencial (quando o gap é positivo, a economia consegue estar acima do seu potencial, logo terá pressões de inflação e salarial; quando é negativo está-se em períodos de recessão).
O primeiro dá uma ideia da capacidade estrutural de produção da economia, enquanto o segundo mostra a distância a que se está desse potencial. Olhando para os valores destes quatro países desde 2000, vemos que a Irlanda apesar do sobressalto dos anos da troika, acaba por retomar uma linha de crescimento forte do PIB potencial. E apesar de tudo, o seu afastamento do PIB potencial durante os anos de crise foi de curta duração. A estrutura produtiva da Irlanda recuperou sem grande problema. A Grécia por seu lado teve um “afundamento”, em termos de crise/recessão mas também em termos de potencial.
Portugal, neste panorama, e apesar das dificuldades sentidas, teve uma quase estabilidade do PIB potencial, e a recessão não foi tão forte quanto o verificado em Espanha e na Grécia. Mas a preocupação aqui não é tanto efeito de ciclo (gap do PIB) e sim a falta de crescimento esperado no PIB potencial.
A discussão do orçamento português, interna e externamente, não se pode esquecer deste aspecto – não é apenas um problema de dinamizar a procura interna (que actuará sobretudo no gap) como não é apenas um problema de cumprir regras orçamentais. A questão foi, é e vai ser nos próximos anos como é que dentro das regras orçamentais se consegue melhorar o crescimento do PIB potencial. Para planos A e planos B (ou C…) que sejam discutidos, fazer sempre a pergunta “como é que afecta o PIB potencial?”. Só mantendo essa preocupação presente teremos possibilidade de melhorar a economia, e o nível de vida da população.

gap do PIB

PIB potencial
8 \08\+00:00 Março \08\+00:00 2016 às 09:54
Seria interessante (se comparável) incluir também os dados da Islandia e de como resultou a abordagem deles à crise estando fora da zona Euro.
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8 \08\+00:00 Março \08\+00:00 2016 às 23:27
A Islândia tem uma evolução similar à da Irlanda, embora a um nível menor. A Islândia tem cerca 320 mil habitantes, algo entre o concelho de Sintra e o concelho de Gaia. A comparação com a Islândia é sempre mais delicada por essa pequena dimensão do país, mas provavelmente vale a pena estudar com mais cuidado esse caso.
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8 \08\+00:00 Março \08\+00:00 2016 às 10:17
O post suscita obviamente uma pergunta incontornável para a discussão que propõe: em que medida as regras orçamentais constituem um obstáculo ao crescimento do PIB potencial. Ou de outra maneira : há, em Portugal hoje , investimento ou despesa pública “produtiva” a curto/médio prazo? Porque só assim contribui para o crescimento do PIB potencial ? C/MP porque a longo prazo “estaremos todos mortos”.
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8 \08\+00:00 Março \08\+00:00 2016 às 23:32
O investimento público em Portugal (e o privado) tiveram nas últimas décadas (com excepção dos últimos anos) valores relativos à dimensão da economia que não eram baixos em comparação internacional, mas o retorno que daí se retirou foi modesto. Há várias explicações avançadas, desde a pouca capacidade de escolher bons investimentos até ao incentivo em investir em sectores de bens não transacionáveis, com taxas de aumento da produtividade baixas mas retorno elevado via poder de mercado (o que na gíria passou a ser conhecido como “rendas excessivas”). O crescimento do PIB potencial vem do investimento em activos produtivos, do crescimento da força de trabalho (efeito limitado pelo desemprego elevado) e pelos aumentos de produtividade (que resultam também de investimento, de inovação, seja de produtos seja nas organizações, e de expansão dos sectores de actividade mais produtivos à custa do menores produtivos numa dinâmica inter-sectorial, e de saída de empresas menos produtivas).
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8 \08\+00:00 Março \08\+00:00 2016 às 23:25
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Comentário:
A questão é se a criação de um ‘gap’, que normalmente se supõe ser transitório, não acaba por afectar o próprio potencial produtivo (o PIB Potencial).
A Irlanda é um bom exemplo. À primeira vista, fechou o Gap e está a todo o vapor. Mas se olharmos para aquilo que era a expectativa passada em relação ao PIB Potencial (por exemplo, através da previsão para o PIB Potencial feita em 2010), a Irlanda está hoje muito longe da trajectória que se esperava que ela trilhasse há uns anos.
Isto foi um hot topic nos anos 80, após os choques petrolíferos. Mas parece que agora está a regressar
http://www.voxeu.org/…/great-recession-s-long-term-damage
Pedro Pita Barros: não serão independentes, e o caso da grécia é um bom exemplo disso – a “destruição” de capital humano, e provavelmente fisico (falta de renovação e manutenção de equipamentos, activos produtivos que se deterioraram, etc) – deve ter contribuído para um gap que se tornou estrutural em termos de menor potencial. A questão que se pretendi ilustrar foi a de que o nosso potencial anda sem alteração há alguns anos,, e que o nosso gap a fechar é pequeno. Fechar esse gap por políticas de procura não será suficiente para fazer “arrancar” o potencial, suspeito.
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