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Inovação como um direito dos Portugueses (7)

4 comentários

A sexta linha de atuação no documento BCG é “criar rede de centros de referência e respetivos centros afiliados em áreas terapêuticas específicas”. Há neste ponto dois aspectos diferentes.

O primeiro é a forma de organização, ter decisões terapêuticas centralizadas e apoio à terapêutica geograficamente descentralizado. O outro é saber em que áreas há realmente ganhos associados com concentração de actividade. O relatório da BCG utiliza informação para a cirurgia de cancro retal e proporção de mortes em hospitais suecos 2009-2011. Para Portugal, há o trabalho de Gisele Braun “Volume – outcome effect in a National Health Service: The portuguese case” que utiliza os GDH em Portugal, 2004-2008, e encontra que esta relação de volume – melhor desempenho se encontra apenas em alguns dos 21 GDH analisados, entre os quais se incluem o tratamento de AVCs, infecções respiratórias, procedimentos da bacia, prótese de anca, por exemplo, mas não se encontraram esses efeitos em tratamentos de oncologia. Convém atualizar esta informação e análise, mas claramente não se pode importar acriticamente os resultados de outros países, precisamos de saber o que se passa por cá.

De qualquer forma, a própria ideia de especialização tem que ser vista à luz da possibilidade de se ter uma população que cada vez mais tem múltiplas patologias, o que cria desafios para especialistas demasiado especializados. Haverá aqui uma tensão que será necessário tratar.

A linha de atuação 7 é “medir e divulgar os resultados em saúde”. É algo que será necessário fazer. Incluindo informação sobre as condições iniciais de cada doente, para que a análise que se realize tenha em consideração o ponto de partida.

Conclusão: o estudo tem o interesse de analisar caminhos de intervenção para acelerar a introdução da inovação e de esses caminhos terem sido tratados com atenção; mas o que é vantagem também desvantagens, pois sendo o único desafio que trata o dos medicamentos, deixa de lado o muito mais de desafios presentes no sistema de saúde; por outro lado, não há referência às margens da indústria farmacêutica, aceitando-se acriticamente que os preços propostos são adequados. Dificilmente tal corresponderá à verdade, mesmo atendendo aos elevados custos da investigação e desenvolvimento dos novos medicamentos. Instalar-se a noção de partilha de risco é perigosa, e devia focar-se na noção alternativa de partilha de valor. No pagamento por capitação não se fala das condições que é necessário satisfazer para que possa ter reais efeitos, em particular não se fala do que fazer com os hospitais que não atinjam os resultados desejados.

Ou seja, temos aqui um início de discussão, mas ainda não uma solução global pronta a ser aplicada.

Autor: Pedro Pita Barros, professor na Nova SBE

Professor de Economia da Universidade Nova de Lisboa.

4 thoughts on “Inovação como um direito dos Portugueses (7)

  1. Estimado Professor, este estudo da BCG está disponivel online? Cumprimentos,

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  2. Recebido via LinkedIn:
    “Uma vez mais os comentários do Prof . Pedro P Barros são diretos e precisos. Resumindo, antes de aumentarmos a especialização precisamos conhecer a realidade do pais. E não podemos ficar apenas pela contabilização pouco precisa de GDH. O processo de candidatura a Centro de Referencia (a decorrer até ao fim do mês) tem a particularidade de começar um longo e arduo caminho na real caracterização das capacidades técnicas dos nossos Servicos Clinicos (pelo menos entre aqueles que se candidatam) estabelecendo uma estratégia de report de resultados e qualidade de servico essenciais para nos podermos comparar com entidades extra nacionais. A comparação com os suecos não deve ser feita de ânimo leve pois as diferenças são muitas (até nos doentes) mas é um ponto de partida para o trabalho que agora, finalmente, se inicia. O passo seguinte passa por reconhecer/penalizar os servicos pela sua performance. Por exemplo, passando parte do financiamento pelos resultados alcançados de acordo com as bitolas entretanto acordadas como apropriadas aos nossos doentes.”

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