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Estudo para a Ordem dos Médicos (6)

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A sétima secção do trabalho para a Ordem dos Médicos foca numa leitura global sobre como foi afectada a qualidade dos cuidados prestados. Estando a atenção focada na qualidade dos cuidados prestados, não é porém definido o que foi apresentado como “qualidade dos cuidados”. Qualidade neste contexto torna-se algo demasiado amplo – qualquer coisa que um médico não goste do que tenha sucedido nos últimos anos pode ser enquadrado como menor qualidade. Sem ser dada uma noção de qualidade, as perguntas devem ser na verdade interpretadas como lendo satisfação com o exercício da profissão. E esta será um aspectos dos mais influenciados potencialmente pela auto-selecção na resposta ao questionário.

Assim, os números devem ser lidos como dizendo que 80% dos médicos sentiu algum impacto no exercício da sua actividade nos últimos anos. Se for esta a melhor leitura, até diria que o valor é baixo face ao que seria esperado encontrar (todos ou quase todos terem sido afectados, sobretudo no sector público).

As respostas merecem algum tratamento adicional, para análise de regularidades que possam estar presentes. Por exemplo, nos hospitais EPE 84% dos médicos dizem que as reformas no SNS já afectaram a qualidade dos cuidados que prestam e 27% considera não ter condições necessárias para tratar os doentes conforme as leges artis. O que deixa um grupo grande que foi afectado mas que nem por isso deixou de poder tratar de acordo com as leges artis. E 85.2% dos médicos que responderam e trabalham nos EPE considera que o SNS não consegue acomodar mais cortes sem comprometer os cuidados prestados, valor elevado mas natural de defesa do status quo, por um lado, e da potencial auto-selecção nas respostas, por outro lado.

Numa apreciação global, os resultados do estudo têm que ser vistos com bastante cuidado por conta da forma como as perguntas foram feitas (ou como se presume que tenham sido feitas uma vez que o questionário usado não foi disponibilizado em anexo ao estudo), e da forma como a amostra se auto-seleccionou. Apesar disso, vários dos resultados são plausíveis no sentido dos efeitos detectados. Sobretudo os que tenham a ver com a experiência directa dos médicos. Mais incertos são os resultados que se baseiam unicamente nas percepções que os médicos possuem.

Autor: Pedro Pita Barros, professor na Nova SBE

Professor de Economia da Universidade Nova de Lisboa.

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