Ainda na análise do estudo para a ordem dos médicos, a sexta secção trata da situação dos médicos. Por um lado, esta informação deverá ser mais fiável porque diz respeito aos próprios. Por outro lado, o enviesamento por auto-selecção na resposta poderá ser mais significativo. Os resultados são, tal como em secções anteriores, plausíveis na direcção do sentido encontrado (a magnitude poderá ser empolada pela auto-selecção na resposta).
Interessante a conclusão de “os médicos mais novos no sector público tendem a estar mais motivados, realizados e menos esgotados do que os colegas no sector privado, situação que se inverte à medida do tempo de trabalho”, pois está em linha com outros estudo. Ter os médicos das UCSP (centros de saúde tradicionais) a sentirem maiores dificuldades financeiras que os médicos das USF é igualmente esperado. E também era de esperar que nos hospitais fosse nas PPP a menor presença de dificuldades económicas, depois EPE e depois SPA.
A comparação com o sector privado é mais delicada, pois a opção por estar apenas no sector privado poderão não estar desligada das dificuldades económicas (e já agora, o que é dificuldade económica pode ser diferente de pessoa para pessoa, sem saber como foi feita a pergunta não é possível saber que amplitude de interpretação pode ser dada), e ligado também à carga de trabalho em cada um dos sectores. Também se deve pensar aqui em termos de expectativas que tivessem face ao que recebem. De um ponto de vista económico era interessante ver também se esta característica de dificuldade económica tem associação com zonas geográficas especificas e maior ou menor presença de médicos nessas zonas, no que respeita à actividade no sector privado.
É referida uma análise estatística da probabilidade de emigrar (suponho que a variável em estudo seja se alguma vez pensou ou está a pensar emigrar), em função de características e condições individuais. Contudo, as regressões logísticas realizadas não são apresentadas. A referência às mesmas é feita na nota de pé de página 2, que indica os factores potencialmente explicativos utilizados. Esses factores explicativos, tal como apresentados, não contemplam a idade e a situação conjugal, dois aspectos que podem ter impacto importante na decisão de emigrar ou não (eventualmente com efeito não linear na idade). A conclusão de que a realização profissional pode ser um factor para emigração mais forte do que o ganho de remuneração é interessante, e enquanto tal fornece um argumento adicional para pensar como se pode atrair médicos para zonas com necessidade dentro de Portugal (uma versão de “vá para fora cá dentro”).
7 \07\+00:00 Julho \07\+00:00 2015 às 12:04
FLUXOS MIGRATÓRIOS
Bom dia Prof., a propósito do último parágrafo:
No DR 2ª série de ontem (6/7/2015) são publicados deliberações de rescisão de contrato de função pública de oito internos (!) de especialidade (Medicina Interna, Oftalmologia, Anestesiologia, Pediatria e Radiologia) do Centro Hospitalar do Baixo Vouga E.P.E., relativos ao mês de Abril. Presume-se que o referido centro hospitalar, estando afastado dos grandes centros urbanos, é periférico e carenciado.
Quais as motivações para tão estranho (epi)fenómeno colectivo? Rescindiram porque as condições de Internato oferecidas são péssimas, a nível organizacional já que a nível financeiro é igual para todos, e os internos procurarão nova especialidade por concurso (mais provável) ou terão ofertas fora do país, mais atraentes financeiramente e com melhor projeto profissional, para obterem especialização (menos provável)?
Considero esta situação grave e um aviso vermelho à gestão dos RH do MS. Quando se discute tanto a “sustentabilidade” financeira do SNS, deveria-se verdadeiramente estar preocupado com a “sustentabilidade” educacional/formativa do mesmo. A migração de médicos do sector publico para o privado afecta principalmente uma subpopulação de profissionais aptos para dar formação aos mais novos, entre os 30 e 50 anos. É do meu conhecimento, que recém especialistas com pouco mais de 1 ano de pós graduação são tutores de internos da especialidade. É melhor que nada…A médio-longo prazo, daqui a 10 anos, com certeza que existirá SNS, mas pelo actual curso de acontecimentos a sua garantia ou “qualidade” assistencial estará necessariamente comprometida com prejuízo para a população…mais carenciada. Um verdadeiro abacaxi!
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