O meu texto sobre a Madeira aqui publicado há uns dias, recebeu comentários do blog mãos visíveis e de oefervescente.
Embora não seja muito dado a réplicas e tréplicas, desta vez julgo valer a pena a clarificação.
Do blog mãos visíveis, contestam as implicações que sugiro retirar da experiência da Madeira com base em dois argumentos:
a) questões de linhas divisórias de esquerda e direita, que honestamente não entendi; não me pareceu que defendam que uma despesa pública é boa se for feita por um governo de esquerda e é má se for feita por um governo de direita; eu pelo menos não o defendo. Como só chamei a atenção para o esperado multiplicador da despesa pública em termos de crescimento, a base das propostas dita Keynesianas que são feitas, poder ser mais ilusório do que garantido, olhando para uma tentativa da sua utilização dentro da República de Portugal.
b) que o próprio crescimento da Madeira será mais ilusório que real, devido à zona franca, que não gera riqueza via produção de bens ou serviços na Madeira. Curiosamente, a minha leitura é que esse aspecto apenas reforça o meu ponto – a enorme despesa pública realizada na Madeira não conseguiu ter efeito multiplicador visível que permitisse depois pagar a dívida gerada para fazer essa despesa.
Do blog ofervescente, o amigo Vladimiro, aponta para ser necessário completar a análise, relembrando
a) que a dimensão de outras dívidas de empresas não é muito diferente;
b) que há um regime dominante na Madeira via controle da administração pública
c) que podem haver outros buracos ainda não detectados pelas entidades competentes.
Certamente que esses aspectos poderão ser eventualmente verdade, mas convém fazer uma separação de argumentos.
Como referi acima, apenas assinalei que podemos interpretar a despesa pública da Madeira financiada por dívida como um caminho de crescimento e desenvolvimento económico que falhou. Nada mais.
Agora, se quisermos comparar a situação da dívida da Madeira com outras situações, seja de empresas seja do Continente como um todo, devemos ter o cuidado de calibrar e a) ver valores per capita, b) ver a sua dinâmica de evolução; e c) ver o processo pelo qual a dívida foi criada e mantida. Sobre o aspecto de regime dominante da Madeira, não conheço em detalhe a situação da região, mas um bom indicador, para quem o quiser calcular, será ver quantas empresas importantes têm nos seus orgãos de gestão de topo pessoas que também possuem cargos políticos de relevo, e verificar pelo momento das nomeações se o trajecto foi da vida política para as empresas ou vice-versa. Se forem muito poucas, temos uma situação, se forem muitas, outra, eventualmente mais preocupante. Mas aqui o meu desconhecimento da realidade local não permite formar uma opinião mais forte.
26 \26\+00:00 Setembro \26\+00:00 2011 às 09:13
Pedro
O debate que proporcionaste é compensador.Porque esclarecedor mais que clarificador.
E, por mais voltas que se dêem aos ultimos 20 anos da nossa querida história económica, só há um principio/máxima que encontro para caracterizar onde chegámos e porque aqui chegámos em função da actuação dos “grandes Lideres que sucessivamente fomos elegendo: “os cães ladram e a caravana passa”.
Dai que ler as duas crónicas deste fim de semana no Publico possa ajudar a esclarecer onde estamos.E saber se chega…porque houve uma geração que tudo permitiu em nome de uma “espécie de desenvolvimento económico” que mais não de que “uma espécie de magazine trágico”.
Voltámos à Madeira.Ao invés de “já chegámos à Madeira”.Só que desta vez com o “bicho da madeira” a ter os mesmos e mais buracos que aqueles que todos sabiam.
Somando os 3 blogs, e em sinergia de abordagens,direi que: “temos europa que é cega e portugal que usa óculos escuros para fazer de cego”:))
Abraço
FVRoxo
GostarGostar
26 \26\+00:00 Setembro \26\+00:00 2011 às 09:14
Nota complementar:As duas crónicas do Vasco Pulido Valente no Publico.Pulidas e Valentes como sempre:))
GostarGostar
Pingback: O Estado Monstro (das Bolachas) | Mãos Visíveis
29 \29\+00:00 Setembro \29\+00:00 2011 às 10:02
Obrigado pela citação 🙂
No fundo creio que da análise aos 3 blogs é possível perceber que o problema da Madeira tem uma complexidade bastante maior que a da simples avaliação de carácter de AJJ (que é a abordagem dominante dos jornalistas e comentadores de serviço) e sobretudo que os diversos problemas existentes já lá estavam há muito tempo.
É espantoso verificar que ninguém ficou surpreendido com o que sucedeu e que a única verdadeira novidade foi a forma e não as consequências do que por lá se passa. E não é menos surpreendente que os mesmos que nos últimos dias têm fritado AJJ em azeite não fazem o mínimo esforço para perceber como foi possível tolerar este modelo económico e de governação no espaço democrático nacional.
GostarGostar