Nos últimos anos, generalizou-se a criação de rankings. No caso das universidades, saiu agora a versão 2015 do ranking preparado pela Universidade de Leiden (aqui). A existência de rankings tem o problema de levar as universidades a procurarem melhorar apenas nas dimensões que são contabilizadas no ranking, perdendo relevância os restantes aspectos. Ou seja, os rankings produzem informação útil sobre desempenho relativo das instituições, que vai perdendo relevância à medida que as universidades se ajustam para satisfazer os rankings.
Exemplificando, uma universidade que tome como parte da sua missão ensino e investigação científica, procura melhorar nessas duas dimensões. Mas se houver um ranking que contabilize apenas a produção científica, então o ensino tenderá a ficar em segundo plano só para tentar que a universidade melhore a sua posição no ranking. Essa não precisa de ser uma decisão explícita ou sequer consciente, basta que a universidade procure contratar apenas professores que publiquem muito, independentemente da atenção que dão às aulas. Tomar os rankings como a única medida de desempenho relevante das universidades é errado, tal como é errado medir a importância das universidades apenas pelas suas ligações às empresas ou pela sua dimensão absoluta. Dito isto, a interpretação de rankings deve ser cautelosa também por outra razão – com um realidade de intervenção em muitas áreas de conhecimento, é natural que numa área esteja uma universidade à frente, e noutra área esteja outra universidade. E a aposta em diferentes áreas pode ser resultado de opções estratégicas de cada universidade.
As figuras seguintes apresentam um conjunto de quadros retirados do site da Universidade de Leiden e que podem ser facilmente reproduzíveis por quem quiser fazer. É um ranking baseado na produção científica. Naturalmente universidades maiores terão maior número de publicações científicas, mas não necessariamente com maior qualidade média (qualidade media pelo chamado impacto normalizado, baseado em quantas vezes cada publicação foi utilizada – citada – por outros cientistas, aspecto que também difere de área científica para área científica).
Depois de expostas as cautelas a ter, o que acontece nos valores de 2015 em Portugal?
– usando indicadores independentes da dimensão da instituição, a Universidade Nova de Lisboa é a que surge como melhor classificada este ano. Título de jornal sugerido: Universidade Nova de Lisboa assume liderança na investigação científica em Portugal. Declaração de interesses: trabalho na Universidade Nova de Lisboa.
– nas áreas de Ciências Sociais e Humanidades e de Ciências e Engenharia Biomédica, a Universidade Nova de Lisboa tem essa liderança;
– na área de Ciências da Vida e da Terra, a Universidade do Minho surge à frente;
– na área de Engenharia e área de Matemática e Ciência da Computação, a Universidade do Porto destaca-se
– olhando apenas para valores absolutos, é inevitável que a Universidade de Lisboa apareça à cabeça. Titulo de jornal sugerido: A Universidade de Lisboa lidera no número de publicações.
– mas se for dada primazia à ligação de colaboração com a indústria, a Universidade de Coimbra surge no primeiro posto.
A diversidade é assim a norma dentro da Universidade portuguesa, e tentar estabelecer rankings vai chocar contra essa diversidade.
De um ponto de vista da instituição onde estou a colaborar, Universidade Nova de Lisboa, é recompensador ver a classificação obtida na investigação, resultado de uma evolução positiva nos últimos anos, apesar da situação de crise (os dados usados correspondem aos anos 2010-2013). O conhecimento científico encontra-se assim espalhado pelo país, nas principais universidades. Curiosamente todas no litoral.
No final, cada universidade pode usar a versão do ranking que mais gostar. Colocando-me numa lógica de produtividade cientifica descontando o papel do efeito dimensão (maior pode não ser mais eficiente), a posição global da Universidade Nova de Lisboa leva-me a cumprimentar todos os meus colegas que contribuíram com as suas publicações para este progresso.
(Adicionado: leitura recomendada sobre rankings – Leiden Manifesto for Research Metrics)




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