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o que correu mal?

3 comentários

Estão em processo de encerramento ou encerraram mesmo diversas farmácias concessionadas dentro do espaço de hospitais (ouvir noticia da TSF aqui). Dois problemas estão presentes nesta notícia e neste problema:

1) a decisão de concessão da exploração das farmácias em espaço do hospital – é a ideia errada, ou é a aplicação da ideia incorrecta? nomeadamente, nos termos que foram aceites na concessão? Esta questão é legítima pois em concursos desta natureza – se há um “valor” em ter esta concessão, mas a sua magnitude exacta é desconhecida, então cada candidato baseia-se nas estimativas que faz, e o que tiver a estimativa mais optimista acabará por ganhar o concurso, mas depois perder dinheiro – este problema é conhecido como a maldição do vencedor (winner’s curse – ver aqui para um tratamento mais informal, ou aqui para uma discussão formal). Evitar este problema implica regras claras e adequadas, e sofisticação suficiente de quem se candidata para reconhecer o eventual problema. Enfatizar apenas a receita obtida pelo hospital, adicionado à tradicional “renegociação em caso de dificuldades” é caminho quase certo para ter problemas deste tipo. Claro que podem existir outras explicações, incluindo as regras do concurso terem sido mal desenhadas; ou a própria ideia não ser boa. Seria importante que de forma serena se procedesse a uma avaliação destas situações, não no sentido de encontrar culpados (uma espécie de desporto nacional semelhante à caça à raposa no Reino Unido), e sim perceber que mecanismos não funcionaram e porquê.

2) o segundo problema é a incapacidade do sistema judicial em conseguir tornar rapidamente disponíveis activos produtivos – o ter os equipamentos fechados, qualquer que seja o uso que lhes seja destinado pelo hospital, é um custo para a sociedade do processo de decisão judicial – proponho que o Ministério da Justiça pague ao hospital o valor correspondente a 1/2 das rendas que seriam recebidas durante a concessão do equipamento. Não com o objectivo de dar receita ao hospital e sim com o objectivo de fazer reflectir sobre o sistema de justiça os custos da sua incapacidade de manter activos produtivos em função. Este é aliás um problema genérico de competitividade do país.

Autor: Pedro Pita Barros, professor na Nova SBE

Professor de Economia da Universidade Nova de Lisboa.

3 thoughts on “o que correu mal?

  1. Totalmente de acordo com o Pedro Pita Barros. E a ideia de reflectir sobre os tribunais parte dos prejuízos que a morosidade da justiça induz na economia poderia estender-se a outras situações e até deveria traduzir-se na redução dos proveitos dos agentes judiciais

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  2. Houve também uma alteração das regras do jogo constituida pela baixa do preço dos medicamentos que pode ter furado as contas inicialmente feitas e que poderá ser suficiente para justificar uma revisão do valor da concessão do espaço.

    Só que o Estado Hospital concessionário é uma entidade diferente do Estado Ministério da Saúde negociador dos preços dos medicamentos.

    E hoje em dia muitos senhorios estão a aceitar baixar as rendas, para manterme bins inquilinos, quando estas estão acima do valor de mercado.

    António Alvim

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  3. Pingback: quando se (tenta) deita(r) fora uma boa ideia, por uma má aplicação | Momentos económicos... e não só

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