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crise económica e saúde (4)

3 comentários

Ainda sobre os indicadores associados com a crise económica e impacto sobre saúde, será mais razoável olhar para a mortalidade acima dos 65 anos (ou esperança de vida aos 65 anos), para perceber se a crise económica tem afectado a capacidade do sistema de saúde satisfazer as necessidades acrescidas da respectiva franja da população.

olhando para a evolução recente da esperança de vida aos 65 anos, dados do INE, vendo a respectiva tendência observa-se que não há qualquer alteração significativa nos últimos 4 anos, o tempo da crise. Significa que os efeitos da crise não foram, pelo menos até agora, suficientemente pronunciados para ultrapassar a capacidade de resposta do sistema de saúde português. Não significa que não ocorram situações que deveriam ser evitadas, e com as quais se deverá aprender para que não se repitam, mas não corresponde (ainda?) ao ruir do sistema e saúde e da sua capacidade em servir a população.

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Sobre os efeitos sobre comportamentos de risco de consumo de álcool e de tabaco, não consegui encontrar informação útil.

Quanto a respostas do sistema de saúde, podemos ordenar em vários aspectos: redução da cobertura da população residente em Portugal? formalmente, não houve aqui alteração; redução dos serviços abrangidos? não houve alteração; aumento das taxas moderadoras e copagamentos? houve um aumento, mas também um alargar das situações de isenção, pelo que o efeito é à partida ambíguo, e não se encontrou grande reacção no comportamento da população; aumento do seguro privado por redução do seguro público? não se encontram efeitos pronunciados neste campo, o seguro privado tem um maior significado em número de apólices do que em financiamento/pagamento de cuidados de saúde, onde é ainda uma fracção pequena do total; capacidade de gerar poupanças e eficiência no sistema? a política do medicamento baixou custos mas ainda não alterou a dinâmica de crescimento do consumo, as reduções de salários dos profissionais de saúde têm desafios próprios, já explorados aqui, a propósito de um debate sobre o mesmo tema.

Falta apenas perceber melhor o que se estará a passar com os doentes crónicos. A retomar na medida da informação disponível num futuro próximo.

Autor: Pedro Pita Barros, professor na Nova SBE

Professor de Economia da Universidade Nova de Lisboa.

3 thoughts on “crise económica e saúde (4)

  1. Bom dia Professor,

    Em relação aos dados de acessibilidade das consultas, é possível saber se a acessibilidade diminuiu nas consultas hospitalares e nos CSP, nomeadamente o tempo de espera para primeira consulta nos hospitais e se a ter existido algum impacto ele foi relevante? Quanto à questão do alargamento das isenções, não seria importante olhar também para o número de taxas moderadoras pendentes que os não isentos deixam de pagar? A nível do local de trabalho tenho notado essa tendência mas não disponho de ferramentas para observar isso a nível global.

    Em relação às doenças crónicas não seria interessante avaliar os anos de vida sem doença da população ou saber se houve um acelerar da reta correspondente à incidência de diabetes, hipertensão, doença metabólica, hepatite C, neoplasias e tuberculose nos últimos anos?

    Em relação às doenças mentais, não tendo havido um aumento do número de suicídios que seja relevante, não seria importante comparar se possivel, o número de individuos empregados com diagnóstico de Depressão e o número de dias de trabalho médio perdido por cada individuo comparativamente com os anos pré crise ou número de suicidios notificados em individuos que tenham perdido o posto de trabalho no ano anterior?

    Bom fim de semana

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  2. Em relação à relação da crise financeira e da mortalidade, parece-me que não seria de esperar uma alteração significativa em termos de mortalidade a menos que estivéssemos num cataclismo em que já não houvesse comida nos supermercados, em que a violência estaria a aumentar vertiginosamente… Assim, penso que se os efeitos desta crise se fizerem sentir na mortalidade, será sempre daqui por uns anos, por pessoas que deixaram de tomar os seus anti-hipertensores e anti-diabéticos, que deixaram de frequentar consultas médicas de seguimento e passaram a recorrer ao médico apenas por urgências… Hipertensão arterial, diabetes, obesidade, tabaco, doenças respiratórias crónicas como a asma e a dpoc, só se repercutem na mortalidade geral décadas depois.

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