Retomando o livro de Mário Centeno sobre o mercado de trabalho, o elemento seguinte que é tratado em detalhe é o papel dos contratos de trabalho, que procuram resolver três problemas com um único instrumento – regulação do risco (protecção dos trabalhadores), assimetria de informação (sobre o quanto cada uma das partes investiu na relação, e sobre a melhor forma de organizar a relação para que seja produtiva) e dependência mútua (no sentido em que cada um dos lados pode tentar aproveitar-se dos investimentos que o outro tenha feito).
Estas incertezas têm como efeito reduzir o interesse das partes investirem em tornarem a relação produtiva – se um trabalhador souber que será dispensado com elevada probabilidade ao fim de seis meses ou ao fim de dois anos, a partir de certa altura o seu pensamento estará mais no novo emprego que terá de encontrar no que focar-se em ser produtivo e em se empenhar no actual emprego. Do mesmo modo, se uma empresa estiver a pensar dispensar um trabalhador a curto prazo, os recursos que está disposta a investir na sua formação e treino são naturalmente menores. De ambos os casos resulta que a produtividade do trabalhador é menor desde que se antecipe a sua saída num prazo relativamente curto. Provavelmente uma das razões para uma menor produtividade dos trabalhadores em geral, e para um menor crescimento da produtividade em média ao longo dos últimos vinte anos poderá ter estado na crescente importância dos contratos a prazo, que levam a pouco investimento de ambas as partes. Se estes contratos afectarem desproporcionadamente novos trabalhadores que entram no mercado de trabalho, não chega a ocorrer o seu desenvolvimento profissional no máximo potencial.
Claro que os problemas de produtividade da economia também estão associados com o tipo de sectores que se desenvolveu mais, para onde foi direccionado mais investimento, de bens não transaccionáveis, mas não se deve negligenciar o papel que o próprio funcionamento do mercado de trabalho poderá ter tido num abrandamento geral do crescimento da produtividade dos trabalhadores.
4 \04\+00:00 Abril \04\+00:00 2013 às 09:27
Não são só os contratos de trabalho a prazo que afectam o compromisso de ambas as partes na produção; as políticas de recursos humanos e a cultura organizacional são factores que não se podem descurar e que fazem toda a diferença…
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5 \05\+00:00 Abril \05\+00:00 2013 às 09:24
Esses factores creio que se podem incluir dentro do que Mário Centeno chama genericamente “investimentos” específicos das partes, mas talvez mereçam de facto distinção à parte, nomeadamente a cultura organizacional, por ser resultado de “investimentos” e não uma decisão directa. Bem lembrado.
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