O puzzle (no Diário Económico de 06.Fev.2012)
Há mais de meio século que a Europa Ocidental procura construir um espaço comum, político e económico. Nos dias que correm, o económico tem peso considerável, A falta de crescimento económico e o desemprego estão na frente das preocupações.
A criação de uma identidade europeia levará, sem ignorar as raízes de cada um, à capacidade e disponibilidade para circular no espaço europeu, como turista e como trabalhador.
O Primeiro-Ministro italiano falou sobre mobilidade entre postos de trabalho (e na quebra de monotonia), gerando reações que se assemelham às vistas em Portugal a propósito de se sair da “zona de conforto” (eventualmente mesmo emigrar).
As reações observadas nos dois países, Portugal e Itália, traduzem o muito que ainda falta fazer em termos de construção europeia, em particular na facilidade em encarar a mobilidade dentro do espaço da União Europeia, em termos de emprego e dinâmica económica. Daqui é fácil saltar para a conclusão de que parte da solução dos problemas do emprego a nível europeu tem que passar pela mobilidade dos trabalhadores. Mas essa é a parte mais evidente, e, até certo ponto, mais contestada. Há contudo outra parte, mais ignorada no debate público.
Para que um país (uma região) possa integrar o espaço económico europeu é necessário que pense em como atrair trabalhadores de todo esse espaço. As políticas de emprego em Portugal não podem ser apenas pensadas para os desempregados portugueses. É muito mais interessante pensar em que políticas de emprego permitem atrair trabalhadores, empresários e empresas, de toda a União Europeia. E se formos capazes de definir ambientes de trabalho e regras de funcionamento do mercado de trabalho português que sejam apelativas globalmente, então também serão atrativas para os portugueses.
Os desafios da mobilidade internacional e da mobilidade entre postos de trabalho, que tanta discussão têm gerado em Portugal e Itália, têm de ser vistos como um elemento de um desafio mais geral: como tornar Portugal um local de trabalho interessante para qualquer europeu. Pensar desta forma implica encaixar muitas peças de um puzzle complicado: mercado de trabalho, mas também mercado da habitação, segurança social em diferentes países, assistência da doença, educação para filhos, relação com a administração pública, etc… É este puzzle que temos de montar, se quisermos futuro para além dos tempos da troika. Teste simples para saber se cada peça encaixa: é amiga de trabalhadores “europeus”, portugueses ou não?
8 \08\+00:00 Fevereiro \08\+00:00 2012 às 08:54
A mobilidade do trabalho no espaço europeu já existe e está garantida supostamente… não se concretiza e não se concretizará porque existem uma barreira que não se pode remover – a panóplia de línguas que é falada na Europa.
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8 \08\+00:00 Fevereiro \08\+00:00 2012 às 11:18
Obrigado pelo comentário Aida.
A mobilidade legal é uma coisa, a mobilidade efectiva é diferente. O meu ponto é que devemos pensar em políticas de promoção de emprego que possam ser úteis também nessa mobilidade no espaço europeu, e que são essas as que também melhor promoverão o emprego em Portugal.
Vejamos, se a lingua é uma barreira, então quando se quiser promover cursos de formação profissional tenha-se em alternativa português para estrangeiros ou uma língua comunitária (o inglês, francês ou alemão, por exemplo). Facilita-se a mobilidade para quem não for português, mas também é útil para quem for português. Enfim, não é mais do que uma ideia em resposta ao comentário.
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