Momentos económicos… e não só

About economics in general, health economics most of the time


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pão e circo, perdão fado e futebol

Faltam 100 dias para o campeonato europeu de futebol, que servirá de distracção;

Por uns dias, falar-se-á menos de resgate, mercados financeiros, austeridade, execução orçamental, défice público, troika, etc…

Logo veremos o resultado… por agora, vamos ao jogo de hoje 😀


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“O percurso da saúde: Portugal na Europa” (3)

No capítulo 2 do livro de Correia de Campos e Jorge Simões, a introdução apresenta logo no início uma das principais questões para a União Europeia no campo da saúde. Escrevem os autores: “Um espaço de interesse comum, como é a União, tem de procurar tratar de forma equitativa todos os cidadãos, aceitando que os EM, na sua liberdade plena, organizem os cuidados de saúde de acordo com o conjunto de valores e princípios nacionais e europeus, reconhecidos como integrando o conceito de Modelo Social Europeu.”  O restante da secção introdutória deste capítulo apela à noção de cooperação entre os Estados Membros.

Existem aqui dois planos diferentes.

Num deles, com um mesmo objectivo, a prossecução do interesse nacional por cada país só não contribui para o interesse da União Europeia como conjunto de países se houver algum tipo de externalidade das decisões de um país sobre os outros. Só nesse caso a cooperação entre países terá vantagens óbvias. Assim, há que procurar identificar nas restantes secções quais são esses efeitos de externalidade entre países que tornam crucial a coordenação.

No outro plano, bem diferente, há que saber se o entendimento do que é “equitativo” é o mesmo em todos os países da União Europeia. Culturas diferentes e visões diferentes da responsabilidade individual dos cidadãos perante a sua saúde pode ditar que uma solução que é “equitativa” segundo os valores de um país não o seja noutro país da mesma União Europeia. Todos podem aceitar facilmente o princípio de “tratar de forma equitativa todos os cidadãos” mas terem entendimentos diferentes do que tal significa e implica.

Assim, se no primeiro plano, e identificadas as fontes de externalidade, é fácil pensar que a coordenação é a solução adequada, no segundo plano, só depois da explicitação dos valores de cada país poderemos dizer se a coordenação leva a um resultado compatível com o princípio enunciado ou se, por outro lado, vai gerar situações de imposição de valores de uns países sobre os outros.

 


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o tema no dinheirovivo.pt de hoje, o adivinho

O lançamento periódico de previsões de variáveis económicas, com pequenas mudanças nas décimas, por quatro ou cinco entidades diferentes, começam a correr o risco de ser mais uma corrida entre elas para ver quem acerta do que um elemento de decisão e de compreensão para os agentes económicos. As reacções às últimas estimativas produzidas pela Comissão Europeia, e antes dessas as previsões do FMI, do Banco de Portugal, do Ministério das Finanças, da OCDE, dos gabinetes de estudos dos bancos, etc…, fazem lembrar a antiga figura do Adivinho, o que motivou o artigo de hoje no dinheirovivo.pt :

 

 

 

O adivinho

27/02/2012 | 09:34 | Dinheiro Vivo

Este ano vamos novamente assistir à produção de várias previsões sobre a realidade económica. Em particular, seremos regularmente informados dos números de crescimento económico produzidos pelas várias entidades nacionais e internacionais, através dos seus modelos de análise. O primeiro desses valores saiu a semana passada indicando (prevendo?) uma redução do PIB per capita real em 3,3% para este ano, baixando do valor de 3% anteriormente “previsto”. Muitos comentários se produziram a propósito deste valor e do significado que possa ter e do que possa obrigar para o pedido de um segundo resgate financeiro a Portugal.

Com a discussão permanente destes números entra-se definitivamente num mundo em que predomina a figura do “Adivinho”, aquela pessoa que gostaríamos que nos trouxesse a imagem do futuro, de preferência um bom futuro, mas na sua ausência que seja capaz de prever a desgraça.

Contudo o mundo do adivinho é menos interessante do que se possa pensar. As previsões, as profecias, são apenas isso, e não são ainda a realidade. A economia não funciona exatamente como um relógio, e embora o nosso conhecimento permita antecipar alguns efeitos e resultados, não há uma certeza absoluta. O funcionamento da economia é determinado pelo somatório das decisões de consumo, trabalho, investimento, que cada cidadão toma em cada momento. É por esse motivo que o crescimento da economia não pode ser decretado por um qualquer Governo nem o desemprego desaparecer apenas porque se anuncia que assim será.

A construção de conceitos como o PIB real per capita pretende capturar num indicador simples uma medida da criação da riqueza no país. Não é porém uma verdade absoluta, nem capta todas as dimensões que possam ser consideradas. Mais, de um ponto de vista técnico, todas as previsões, incluindo as do PIB per capital em termos reais, envolvem incerteza que faz com que -3% ou -3,3% não seja assim tão diferente como potenciais resultados. Aliás, deveria ser dada mais atenção aos intervalos de previsão para estes valores e não nos centrarmos apenas no valor médio dessas previsões.

Assim sendo, a adivinhação em torno do que será o valor do PIB não deve ser tornada em obsessão e sim ser tomada como um exercício que indicia um caminho e uma evolução possível, mas incerta e passível de ser influenciada e alterada.

Mais importante que entrar na discussão desta ou daquela previsão, do que descobrir qual é o melhor Adivinho, importa ter um rumo para a ação governativa, e capacidade de gerar propostas, de todos os lados, que sejam passíveis de discussão séria.

Frequentemente, as previsões realizadas não explicitam de forma clara quais as políticas que admitem irão ser seguidas pelos Governos, por exemplo. E a pressão para sejam adoptadas ou mudadas políticas económicas que foram admitidas como permanentes nessas previsões é grande.

Antecipo que neste momento o leitor esteja já a pensar na importância que estas previsões têm para as “expectativas”, e para o papel que essas “expectativas” possuem no desenvolvimento da actividade económica. Contudo, a partir do momento em que a produção de previsões tem em conta as “expectativas” e em que a formação dessas “expectativas” reconhece esse aspecto da elaboração de previsões de variáveis económicas, volta-se ao mundo do Adivinho. É por isso relevante que a produção de previsões para variáveis económicas siga um processo que seja tecnicamente auditável – isto é, que quem tiver o conhecimento técnico suficiente, com a informação disponível, consiga replicar a forma de obtenção dessas previsões. De outro modo, cada entidade que faz previsões é apenas uma versão moderna do antigo Adivinho.

É um passo que teremos de fazer,  em geral, passar de Adivinho a Analista. O que só se consegue com análise tecnicamente fundamentada, conhecida e que possa ser repetida de forma generalizada. Só assim as ditas “expectativas” poderão ter fundamento. E as previsões serem vistas mais do apenas fruto de um exercício de um Adivinho.
Nova School of Business & Economics
ppbarros@novabase.pt
Escreve à segunda-feira
Escreve de acordo com a antiga ortografia


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actividade académica, seminário em Maynooth, National University of Ireland

Aproveitando para rever velhos amigos, também deu para conhecer mais de perto a sensação na Irlanda quanto ao ajustamento da economia. A perspectiva pessimista é dominante. Mas por outro lado a capacidade de aumentar a carga fiscal na Irlanda parece ser substancial. Maior do que em Portugal. Mas se temos por vezes a sensação em Portugal de que a Irlanda está já a recuperar e no bom caminho, essa não é, ainda pelo menos, a opinião geral na Irlanda.

Algumas imagens do campus da Universidade:


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como vender equipamentos e dispositivos de saúde me tempos de crise?

Um problema interessante que me foi recentemente colocado é o de como os serviços de saúde podem adquirir dispositivos de elevado custo. Tradicionalmente, esses equipamentos são comprados com pagamento à cabeça, com esforço elevado nesse momento.

A questão que naturalmente se coloca é a possibilidade de fazer essa aquisição com pagamento faseado ao longo do tempo, sabendo-se que o equipamento tem uma vida média determinada, digamos 5 anos.

Num contexto de funcionamento normal da economia e do sistema bancário, a resposta mais simples seria quem adquire contrair um empréstimo, pagando depois o equipamento ao longo do tempo. O juro envolvido seria o custo para quem compra de fazer esse deferimento do pagamento. Sendo uma questão de alisamento de despesa ao longo do tempo, é uma operação financeira que deveria ser facilmente coberta pelo sistema financeiro.

Contudo, no momento actual, as dificuldades de acesso ao crédito dificultam, ou tornam mesmo inviável, este caminho.

Será então que os vendedores de equipamentos podem ou devem optar por sistemas de pagamento com faseamento ao longo da vida útil do equipamento? Financeiramente, corresponde a uma prática que já existe em muitas áreas, com instituições próprias.

Se houve vantagem meramente financeira, então esse sistema já deveria ter emergido como forma de venda de equipamento uma vez que seria uma oportunidade de negócio não explorada.

Colocando-se agora a questão, há que perceber com mais detalhe os custos e os benefícios que estejam envolvidos.

Numa situação de ausência de crédito, esta pode ser uma forma de realizar a venda para quem tem o equipamento para venda, aceitando-se que o vendedor conceda implicitamente crédito ao comprador. O custo dessa concessão de crédito acabará por ficar incluído no preço do equipamento, embora possa existir uma certa partilha desse custo entre vendedor e comprador. Não será muito claro, uma vez que as características da operação financeira implícita não serão facilmente distinguíveis na transacção.

Esta solução apresenta o risco, para o vendedor, de não ser pago tudo, ou de ser pago tardiamente. Obriga à elaboração de um contrato plurianual.

Se o contrato for credível no sentido de a instituição de saúde não ter a capacidade legal ou de facto de negar pagamento a tempo e horas, então será uma forma de contornar as restrições financeiras do comprador, embora as colocando do lado do vendedor pois este terá de possuir a capacidade financeira de produzir e pagar os custos do equipamento, mas só receber ao longo do tempo. Será sobretudo uma solução possível para grandes empresas, para as quais o mercado nacional seja apenas uma pequena parte das suas operações.

As soluções de “renting” e “leasing” estão testadas noutros ambientes, mas não é claro que sejam facilmente transportáveis para a área da saúde (nomeadamente, a credibilidade que possa ter manter a utilização de um equipamento quando existe a pressão para adopção de outro mais moderno, e mais caro normalmente).

 

Agora, pode ser que existam outras soluções. Fica à discussão o tema.


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o relógio

Num destes dias passei por uma instituição pública, para participar numa reunião.

Sala austera, sem ser desconfortável. Reparei na existência de um relógio de pé alto. A funcionar perfeitamente. Relógio que tem a particularidade de precisar de ser dada corda regularmente. Esta não era a sala principal da instituição. Nas outras também provavelmente existem relógios similares. Aos quais alguém tem que dar corda. O relógio estava com as horas certas e a andar. Alguém lhe tem dado corda. Será que existe um funcionário apenas com a missão de dar corda aos relógios todos? Ter como descrição funcional garantir que todos os relógios de pé alto estão a funcionar e a horas? Será que quando esse funcionário (ou funcionária, não vale a pena discriminar) se reformar será substituído por outro com a mesma função? Será que ninguém repara e os relógios simplesmente deixarão de andar a horas?

Vou mas é beber uma água, da torneira, que aqui não se paga o trabalho de lavagem dos copos. Bom dia de trabalho a todos.

 

(a imagem foi retirada da internet, e é vagamente similar ao relógio de que falo)

 


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o texto habitual no dinheirovivo.pt

Acompanhar a “transformação estrutural”

20/02/2012 | 00:00 | Dinheiro Vivo

Passaram-se praticamente 9 meses desde a elaboração do Memorando de Entendimento, e pouco mais de 6 meses sobre a entrada em funções do novo Governo. Não deixa de ser pouco tempo para avaliar se as mudanças introduzidas vão ou não produzir efeitos. Mas é tempo suficiente para verificar se os principais compromissos estão ou não a ser cumpridos.

Nas próximas semanas vão-se multiplicar as listas de medidas e as opiniões sobre o grau de cumprimento das medidas do Memorando de Entendimento, tanto mais que se encontra em curso mais uma das avaliações trimestrais levadas a cabo no âmbito do Memorando de Entendimento.
Mais importante do que contabilizar quantas medidas foram adoptadas ou quantas ficaram pelo caminho, é relevante saber se os objectivos finais podem ou não ser alcançados, quer em termos globais quer por áreas temáticas.

As duas avaliações de progresso já realizadas, com direito a relatórios e versões revistas do Memorando de Entendimento, revelam que pequenos ajustamentos vão sendo possíveis, mesmo que não apareçam nas primeiras páginas dos jornais.

A questão da flexibilidade na utilização de instrumentos parece não se colocar de forma aguda desde que o objectivo seja atingido. Mas convém ter em mente que em breve seremos avaliados, como país, pelos resultados que produzirmos e não pelas promessas que fizermos ou pelas medidas que adoptarmos se não houver eficácia nestas.

De forma simplificada, a economia portuguesa tem duas grandes metas a alcançar: melhores contas públicas e “transformação estrutural” (usando a terminologia adoptada nos documentos deste Governo).

Se para a primeira meta existem critérios relativamente precisos sobre o que significa o seu cumprimento, na segunda meta o acompanhamento do que sucede é bem mais complicado. No entanto, atingir a primeira meta sem a segunda de pouco valerá. Assim, é de todo o interesse que se conheçam os critérios pelos quais podemos conhecer a evolução no caminho para a meta da “transformação estrutural”.

Antecipo-me já à primeira tentação de resposta – a publicação de legislação não corresponde a cumprir meta alguma, e sim a criar as condições para que possa ser alcançada. Não nos podemos limitar a enumerar diplomas legais como sinónimo de alteração estrutural. É preciso saber, conhecer, o que se está a alterar.

Sabemos que o desemprego está a níveis muito elevados, e em particular o desemprego jovem. De tal modo que a nível da União Europeia há preocupação global com esse problema. Sabemos que temos um novo acordo na Concertação Social, que vai ser usado no combate político.

Mas teremos que saber como é este novo acordo contribui de factor para reduzir o desemprego e o desemprego jovem, em particular. Para que isso suceda, é necessário que sejam criadas mais empresas e / ou que as actuais contratem novos colaboradores.

Para que tal suceda nas muitas pequenas e médias empresas que existem, quem está à frente delas precisa de conhecer de forma clara qual o custo de contratar um novo trabalhador incluindo o custo de o dispensar se a evolução da actividade da empresa for desfavorável.

Sabe-se em quantas pequenas e médias empresas os seus dirigentes têm uma estimativa adequada da alteração dos custos laborais com o novo acordo na Concertação Social? Quem quiser contratar mais ou abrir uma nova empresa consegue perceber facilmente o que é implicado pelas novas regras?

É das respostas e estas, e a outras perguntas desta natureza, que poderemos vir a conhecer melhor se a “transformação estrutural” se está a dar, ou não. E sem essa transformação de pouco valerá a prazo o esforço nas finanças públicas. Não é fácil, nem rápido, ganhar este conhecimento, mas tal só obriga a um esforço redobrado para permanentemente acompanhar a “transformação estrutural”.
Nova School of Business and Economics
ppbarros@novasbe.pt

Escreve à segunda-feira
Escreve de acordo com a antiga ortografia


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“gestores hospitalares ameaçam demitir-se” ?!

A noticia do Expresso desta semana veio confirmar os meus receios, mencionados há duas semanas, aqui, sobre a necessidade de encontrar uma forma adequada de evitar a criação de dívida – atrasos nos pagamentos a fornecedores – no caso dos hospitais, evitando uma paralisia da actividade.

Mas não deixo de notar que se do lado governamental não é apresentada uma solução, também os administradores hospitalares, a crer que a noticia é um relato fiel do teor da reunião, não sugeriram que mecanismo poderá ser usado para garantir de forma credível que não há criação de nova dívida.

Neste contexto, o pior que pode surgir é simplesmente não se aplicar a lei agora aprovada, pelo princípio e pelas consequências inerentes. Se a lei não é aplicável, deve-se claramente estabelecer o que a substitui para alcançar o objectivo pretendido. Pretender que depois se encontra uma solução é mau caminho. Os administradores hospitalares deveriam contribuir com uma proposta de procedimento que assegure esse controle orçamental da despesa pública.


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acompanhamento do Memorando de Entendimento – Saúde

(post gémeo com o blog estado vigil)

Na tentativa de acompanhar a forma como o sector público da saúde está a cumprir o Memorando de Entendimento, foi-me útil a construção de um mapa da evolução dos compromissos assumidos no Memorando (que têm ligeiras mudanças em cada documento revisto que é produzido depois de cada uma das visitas periódicas), e se esse compromisso já está respeitado. Para os que têm data de referência no futuro, estão normalmente sob observação.

É possível que me tenha escapado alguma decisão ou medida, e por isso o mapa anexo está sujeito a revisão conforme for encontrando nova informação mais actualizada. Mas a Janeiro de 2012, a minha recolha de informação deu o seguinte:


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“Fecundidade e desenvolvimento económico nos países da OCDE”

Esta manhã tive a oportunidade de comentar a apresentação de Olivier Thevenon sobre este tema. Deixo aqui uma breve apreciação de dois trabalhos do autor, com as respectivas referências no final.

O desafio de partida apresentado pelo autor é: que relação se encontra entre desenvolvimento económico e fecundidade?

As sucessivas análises de dados têm encontrado uma relação negativa – conforme o rendimento per capita aumenta, a número de crianças na população tende a diminuir, há uma redução da taxa de fecundidade.

Mas, mais recentemente, alguns países de rendimento elevado reverteram ligeiramente esta tendência. Aparentemente, quando o rendimento per capita é suficientemente elevado, o seu crescimento gera um aumento da taxa de fecundidade, mas longe de atingir a taxa de reposição da população.

Porquê esta inversão? os autores identificam como principal factor a existência de mecanismos sociais e legais que permitem conciliar o trabalho feminino com a vida familiar.

Desta relação é fácil passar para a discussão de quais os instrumentos que estão disponíveis para aumentar a natalidade.

A primeira constatação é a de que diferentes países têm adoptado diferentes instrumentos:

– Norte da Europa Continental – incluindo França e Escandinávia – licenças parentais, de maternidade e paternidade, generosas, creches e apoios similares

– países de tradição de língua inglesa – programas de trabalho flexíveis e apoios no local de trabalho

Para ver com mais detalhe estes aspectos, os autores usem uma base de dados de 1982 a 2007 sobre medidas de apoio à família.

Consideram o impacto de cinco tipos de medidas sobre a taxa de fecundidade:

1) despesa em licenças de maternidade, paternidade e outros pagamentos do tipo, por nascimento, como proporção do PIB per capita.

2) despesa em transferências por criança abaixo dos 20 anos em percentagem do PIB per capita

3) despesa em serviços de apoio a crianças com menos de 3 anos, em proporção do PIB per capita

4) número de semanas de licença pagas (maternidade e paternidade)

5) proporção das crianças com  menos de 3 anos que frequenta instalações de apoio

Os autores procuram ver o impacto destas medidas na taxa de fecundidade e numa taxa de fecundidade ajustada para o adiamento do momento de nascimento do primeiro filho.

Utilizam métodos estatísticos avançados para concluir que

a) os principais instrumentos, os que têm mais efeitos, são os apoios de médio e longo prazo – as medidas 2) e 3)

b) de qualquer modo, o seu impacto quantitativo parece não ser muito grande.

Há vários comentários que podem ser produzidos.

Tomemos os factores económicos:

– custo de ter e criar uma criança face ao rendimento disponível

– custo de oportunidade em termos de tempo retirado à actividade laboral e a actividades de lazer

Em que medida as políticas ou as variáveis usadas capturam estes efeitos?

Exemplos de medidas alternativas que podem estar mais próximas:

* apoio concedido face ao custo de ter e criar uma criança

* salário médio das mulheres em idade fértil (ou das mulheres com idade em redor do momento de ter o primeiro filho)

Seria interessante ter também uma visão clara do tempo que as medidas demoram a produzir efeitos.

Seria interessante saber o papel da credibilidade das medidas de apoio em cada país (com que frequência mudam as regras e os valores, por exemplo)

Seria interessante ter para cada país quanto teria de ser usado de cada medida para que fosse alcançada a taxa de reposição da população (o que tecnicamente deve ser uma extrapolação para além do domínio da amostra).

Os resultados indicam que medidas com “permanência” no tempo têm mais efeito – os apoios financeiros de natureza duradoura parecem ser de alguma forma incorporados numa noção de rendimento permanente.

Dois outros aspectos são claros:

– a incerteza criada pela possibilidade de desemprego tem um efeito negativo – se li bem as estimativas dos autores, um aumento de 1% na taxa de desemprego teria que ser compensada com um aumento de 1% do PIB per capita dedicado a apoiar crianças abaixo dos 20 anos para que a taxa de fecundidade se mantivesse inalterada; curiosamente, não é a protecção no emprego que faz a diferença. É mesmo a capacidade de encontrar emprego.

– a aceitação social de nascimentos fora dos modelos de família tradicional, correspondendo a u mudança de normas sociais, é favorável a uma maior taxa de fecundidade.

Tomando Portugal nos dias de hoje:

– elevada taxa de participação feminina no mercado de trabalho

– elevado desemprego e dificuldades de jovens em encontrar emprego

– incerteza quanto à duração de apoios estatais (em geral), não permitindo a sua integração como “rendimento permanente”

– baixos salários, fazendo com que o custo de ter e criar uma criança seja elevado face aos rendimentos (mais do que compensando o baixo custo de oportunidade de cuidar de uma criança).

– cultura de “presentismo” no local de trabalho, dificultando a conciliação trabalho – família.

Todos estes são factores negativos.

Por outro lado,

– apoio dos avós é relativamente comum.

Dos estudos internacionais não é claro o que possa promover uma alteração da situação actual, alteração que tenha baixos custos, nos países do Sul da Europa.

Aspectos que surgem como determinantes:

– perspectiva de longo prazo em qualquer medida que seja adoptada, não há formas rápidas de fazer esta mudança

– influência sobre o estilo de vida e decisões de uma população relativamente jovem

Atacar dois problemas:

– condições financeiras

– custo de oportunidade (e não só  salarial, mas de tempo – actividade lúdicas, incluindo viagens, por exemplo).

Com mais do que um objectivo, será necessário mais do que um instrumento.

Que fazer?

– apoios monetários directos ou indirectos atacam as dificuldades financeiras. Não resolvem porém o aspecto do tempo.

– conciliar a vida de trabalho com a vida familiar. Só trata do custo de oportunidade do trabalho.

– falta lidar com custo de oportunidade do lazer:

* pais irem ao cinema ou teatro ou futebol ou concerto (ou tudo isto)

* país fazerem viagens curtas (dentro ou fora do país)

Como?

– facilitar o apoio dado pelos avós

– facilitar a cooperação e auto-organização dos jovens

– Outras ideias “diferentes”?