Neste processo todo à volta da Caixa Geral de Depósitos há, obviamente, uma componente forte de luta política. Ok. Mas há também uma outra parte fundamental, que é o papel da CGD no sistema financeiro português. A propósito das discussões que correm, lembrei-me de uma entrevista antiga de António Nogueira Leite (aqui), que referi aqui). Nessa altura, em dezembro de 2012, a solução de privatizar a CGD seria uma forma de evitar essa instrumentalização.
O que se tem dito e as necessidades de recapitalização da CGD apontam para que a privatização deva ser encarada como uma opção possível. O facto de se saber que haverá sempre dinheiro público para “salvar” o banco público e a pressão política para que “dê crédito à economia” poderá facilmente gerar situações de atribuição de crédito a maus projetos, mesmo que não haja instrumentalização. Se a esse efeito adicionarmos então os riscos de instrumentalização, e a (aparente) incapacidade de ser uma instituição estabilizadora do sistema bancário, a discussão de privatização surge num plano de eficiência do sistema bancário e não num plano ideológico de intervenção do estado (isto é, se CGD não consegue ser um bom instrumento, não há razão para o manter). A “heresia” da privatização da CGD deverá estar em cima da mesa, em vez de apenas se andar à procura de créditos políticos conjunturais na discussão.
Infelizmente, uma discussão desapaixonada sobre as vantagens e desvantagens de privatização da CGD é bastante improvável (impossível mesmo?)