de Nuno Palma, historiador económico, Portugal no longo prazo; como ponto de partida, sobre quando Portugal se tornou um país pobre (em termos relativos), numa perspectiva histórica (não, não é sobre os últimos 4 anos). A seguir com interesse.
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e um pouco de história económica…
De vez em quando sabe bem “mudar de ares”, no caso, assistir ao “Portuguese Economic History Workshop“, realizado a 12 de Dezembro no ICS. Tive a oportunidade de comentar o texto de Sofia Teives Henriques, “Without steam in the age of coal and dams in the age of electricity: a natural resource explanation for portuguese economic divergence“. Porque o trabalho me despertou a atenção, e pelas ideias que lança, decidi partilhar aqui a minha visão sobre o estudo e sobre as suas implicações e lições. (o restante programa e papers apresentados no encontro podem ser consultados no site indicado acima).
A tese principal é fácil de enunciar depois de ler o texto – na primeira revolução industrial, baseada no carvão, a tecnologia disponível estava adaptada para as características do carvão inglês, e não o carvão português era escasso (logo caro) como diferente do inglês. A estrutura produtiva portuguesa permaneceu trabalho intensiva. Na segunda revolução industrial, baseada na electricidade, Portugal parecia apresentar condições de partida distintas – tinha mais água que carvão, e poderia por isso ter tido um processo de industrialização mais seguro, as faltavam: a) procura de electricidade, dado que não tinha sido construída a base industrial durante o período de carvão que pudesse agora justificar a procura de electricidade como fonte de energia; b) não havia experiência com a tecnologia.
Sendo uma tese interessante, duas coisas chamaram a atenção. A primeira claramente referida no texto – frequentemente a “tecnologia” importada via equipamentos não era totalmente utilizada por falta de capacidade técnica. Ou seja, faltava um factor produtivo complementar, capital humano, sem o qual a própria rentabilidade dos equipamentos e da tecnologia eram menores, além de que não se procedia a uma adaptação generalizada dessas novas tecnologias da época às características dos recursos naturais portugueses. Não era só falta de carvão, havia algo mais em falta. Fica a pergunta de saber se esta interpretação é lícita e se tem algum poder explicativo.
O segundo aspecto é mais subtil, e está associado com o que vem primeiro – a disponibilização de uma tecnologia com uma energia mais barata, que leva ao desenvolvimento de uma base industrial (que parece ser o argumento principal para a falha portuguesa durante o período do carvão); ou é necessário ter uma base industrial adequada para que a nova forma de energia seja plenamente utilizada? (que parece ser o argumento principal para a falhar portuguesa durante o período da electricidade). Querer os dois argumentos ao mesmo tempo, para períodos diferentes, é que a ser a interpretação correcta, necessita de algo mais em termos de discussão e ligação. Um ponto de ligação possível é, a meu ver, o meu primeiro aspecto focado – a falta de capital humano para saber como usar as tecnologias. Enfim… para discussão e esclarecimento pelos historiadores económicos, que sabem muito mais disto e poderão certamente clarificar.
Por o encontro ter sido internacional, o comentário foi feito em lingua inglesa e é nessa versão que o disponibilizo (para poupar o trabalho de tradução, ainda não confio no google translator o suficiente para o fazer automaticamente). (também pode ser visto em formato slide aqui)
1. Getting inside the paper
- Clear research question – did differential conditions of access to coal determine the relative lack of success of the Portuguese Industrial Revolution?
- The arguments are laid out in a nice way
- (and readable to the non-expert )
- My ignorance has an advantage – I can ask any question, even “silly” ones
2. Overview
Main argument:
- First industrial revolution – technology intensive in coal, technology adapted to UK conditions
- Portugal lacked the resources (coal), and did not have an obvious cheap alternative – remained labour intensive
- Second industrial revolution – based on electricity
- Portugal had more water than coal – but lacked:
- Demand for industrial use of electricity – cost from being behind in the first industrial revolution
- No experience with the technology
- Development based on electricity was hindered by low industrial development since coal time
3. Broad issues and questions