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Sporting campeão e covid-19, porquê correr riscos desnecessários?

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Primeiro ponto de ordem, parabéns ao Sporting e aos adeptos do clube, pela vitória no campeonato nacional de futebol.

Dito isto, tudo o resto que esteve à volta do jogo correu muito mal. Num momento em que se vive uma pandemia ainda não totalmente dominada, ter situações que potenciam a transmissão do virus é perigoso, e poderá colocar em causa o esforço realizado desde janeiro. Não tenho pretensão de apresentar previsões catastróficas. Deixo apenas a referência a um trabalho que procurou avaliar, com os dados do inicio da pandemia, os efeitos de transmissão associados com jogos de futebol em Inglaterra. O resumo pode ser encontrado aqui, e a análise completa aqui. E no início da pandemia em Itália e em Espanha em 2020, no que foi o pior período destes países, os jogos de futebol foram apontados como tendo tido papel relevante nesse espalhar do virus. Claro que agora sabemos mais, sobre a transmissão e sobre o tratamento. Porém, o virus é o mesmo, e a biologia não se preocupa com os nossos estados de alma.

O problema não é apenas ter pessoas nos estádios, mas toda a movimentação de pessoas, em transportes e em aglomerações à volta do estádio, geram potenciais contactos. O não ter pessoas dentro do estádio do sporting, mas deixá-las juntarem-se à porta do estádio, e em cafés e restaurantes nas redondezas, com total ausência de distanciamento fisico, sem uso de máscara e com venda de álcool, é um contra-senso. E de certo modo, era antecipável que esta vontade de festa ia estar presente.

Agora, depois do sucedido, há olhar não só para o que falhou, mas também ter uma atenção muito especial ao que se vai passar em termos de contágios nos próximos dias. As pessoas que estiveram presentes nestes festejos deverão ter atenção a sintomas, usar os testes rápidos se sentirem algo fora do normal e contactar um profissional de saúde se tiverem sinais que possam indicar contágio com covid-19. As autoridades de saúde deverão estar preparadas para atuar rapidamente, seja no acompanhamento clinico seja no apoio a isolamento (por doença ou por precaução). Não deverão colocar de parte a possibilidade de cercas sanitárias, decididas rapidamente e de preferência sem as confusões criadas desnecessariamente como sucedeu em Odemira. Se houver sinais de reaparecimento acelerado da covid-19, a antecipação e a decisão rápida são parte da solução.

Claro que pode ter sucedido que todos os que participaram nos festejos fizeram um teste rápido em casa, antes de saírem para a rua, que deu negativo. E que os que não fizeram teste é porque estavam vacinados e não transmitem de forma significativa. Só que não estando muito confiante nisso, é preferível preparar desde já uma resposta rápida, mesmo que não anunciada publicamente, utilizando os instrumentos, incluindo legais do estado de calamidade, à disposição.

Estando em bom curso a vacinação e antecipando-se que o verão pudesse ter já alguma normalidade, esperando que suceda o melhor (não houver um aumento descontrolado de novos casos, a que se seguirão internamentos e mortes), é preciso preparar para o pior. O ter que voltar atrás, para algum tipo de confinamento no pior dos casos, seria dramático a nível social e a nível económico.

créditos da foto: observador aqui (FILIPE AMORIM/OBSERVADOR); à direita, multidão de adeptos reunida à porta do estádio (JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)

Autor: Pedro Pita Barros, professor na Nova SBE

Professor de Economia da Universidade Nova de Lisboa.

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