Momentos económicos… e não só

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sobre o ajustamento do consumo privado,

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é altura de tentar perceber está a acontecer, que é o tema do artigo de hoje para o dinheirovivo.pt. Além da constatação de que o consumo privado se está a ajustar de forma esperada, face à quebra no PIB e no rendimento disponível das famílias, é útil verificar-se que as despesas alimentares estão mais defendidas (como seria de esperar pela sua usual pouca sensibilidade a variações de rendimento. Os gráficos seguintes completam esta visão, com um índice da despesa em consumo privado (valores nominais) no primeiro caso, e no segundo caso as variações percentuais nas componentes do consumo privado vs a taxa de crescimento do PIB (fonte de dados: INE).

Sem culpas nem castigos

19/11/2012 | 00:00 | Dinheiro Vivo

O ajustamento do consumo das famílias portugueses tem merecido os mais diversos comentários. Alguns aspectos económicos básicos parecem estar muitas vezes arredados das discussões mais apressadas. O primeiro desses aspectos é a relação entre tipos de consumo e o rendimento disponível das famílias.

Em geral, o consumo de bens alimentares é menos sensível a variações de rendimento disponível. Significa que em épocas de crescimento aumenta menos do que outros consumos, e em épocas de recessão também decresce menos. Em contraste, o consumo dos chamados bens duradouros (como automóveis e mobiliário) é normalmente caracterizado por responder fortemente a variações de rendimento – quando este último sobe o consumo de bens duradouros sobe ainda mais rapidamente, e quando desce cai mais rapidamente.

No meio, em termos de sensibilidade às condições económicas, fica o consumo de serviços e bens não alimentares, grande categoria que inclui vestuário, calçado, livros, mas também electricidade, água, combustíveis, restaurantes e despesas com saúde (na parte não coberta pelo Serviço Nacional de Saúde), etc.

O segundo aspecto é as famílias guiarem-se nas suas decisões não só pelo rendimento do ano presente, incluindo expectativas de rendimentos futuros. Sempre que essas expectativas são positivas, e se pensa que nos próximos tempos os salários e os rendimentos possam crescer, as famílias consomem mais hoje, pedindo crédito se necessário contra esses rendimentos futuros. Pelo contrário, se tiverem expectativas negativas, tratarão de poupar hoje para um futuro pouco risonho.

Ora, nas condições actuais, a necessidade de corrigir as expectativas de consumo face a uma década de parco crescimento económico e a urgência de estancar o défice público, não deixam esperança de maiores salários futuros no curto e médio prazo. Assim, o ajustamento que se observa no consumo privado é o esperado.

Mas se o sentido do ajustamento é esse, e não se poderia esperar que fosse diferente pelas condições da economia e pelo próprio discurso político, o que se passa na composição desse ajustamento é também importante.

A maior contracção ocorre nos bens duradouros, acima do que seria previsto pela sensibilidade passada, e com protecção das despesas em bens alimentares, que crescem em termos nominais. Por seu lado, as outras despesas em bens não alimentares e serviços decrescem, mesmo apesar de o IVA acrescido na electricidade e na restauração, por exemplo. E a sua descida é também mais forte do que seria previsto com base dos ajustamentos de anos anteriores.

As previsões de recessão para 2012 e 2013 só levarão a um acentuar deste padrão. Face ao discurso de “não se poder viver acima das possibilidades”, é cada vez mais claro que o consumo privado se ajustou rapidamente. As compras de bens duradouros estão em termos nominais ao nível de 1995. Ao contrário do que sucedeu em final de 2008, início de 2009, os consumos alimentares não diminuem. Se há 4 anos o ajustamento foi de choque mas temporário, as características do trajecto actual sugere uma alteração mais permanente.

Tudo por junto, o ajustamento no consumo privado está a seguir um caminho previsível face ao contexto da economia. Sem culpas nem castigos.

 

Autor: Pedro Pita Barros, professor na Nova SBE

Professor de Economia da Universidade Nova de Lisboa.

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