Na passada semana voltamos a evolução negativa, que desde então só se reforçou.
Número da semana: 540 – média do número de novos casos nos últimos três dias (terça, quarta e quinta). Sinal de alerta, para que não entremos na mesma dinâmica que observamos noutros países europeus.
Análise da semana:
Globalmente estamos a ver um aumento global de casos, sem haver um motivo biológico para que tal aconteça (por exemplo, condições ambientais que facilitem mais a transmissão agora do que nos meses anteriores). A minha presunção é que resulta sobretudo do comportamento das pessoas, seja cansaço, necessidade de socialização, balanço diferente dos riscos, ou necessidade financeira de trabalhar. Ou um pouco de tudo isto em doses diferentes, o que é também verdade na gestão dos surtos nos lares.
A existência de brigadas rápidas para apoiar nos surtos, nos lares e noutros locais, aparenta estar a ser tratada, o que tem de fazer parte da resposta pública.
Segundo declarações oficiais, Portugal está preparado para um “recrudescimento da doença”, e logo nesta mesma semana começa-se a fazer a prova disso mesmo, com um aumento muito significativo de novos casos de infeção.
O isolamento do vírus está a criar o vírus do isolamento, que em muitas situações é também ele muito negativo para a saúde das pessoas idosas. Há aqui que fazer um equilíbrio de riscos, e favorecer quebrar o isolamento mantendo uma forte protecção com a existência de testes fáceis e rápidos bem como proteção adequada, de funcionários e de visitantes.
Na discussão sobre “responsabilidades”, esta tem sido colocada nos proprietários dos lares.
Mas mais do que responsabilidades interessa que haja uma atuação rápida e eficaz.
Não nos podemos esquecer que nos lares temos residentes, funcionários, familiares que querem visitar, e profissionais de saúde. A gestão coordenada das atividades de todos implica equilíbrios diferentes. Os residentes têm diferentes autonomias e diferentes necessidades, que pedem respostas diversificadas no seu acompanhamento. Em momento de grande pressão ou de falta de recursos, torna-se mais fácil uniformizar, o que pode levar como resultado a uma certa falta de humanidade nesse acompanhamento. E claro que os receios dos próprios funcionários afeta o seu trabalho (voluntariamente, reduzindo contactos por exemplo, ou involuntariamente). O papel dos profissionais de saúde, do SNS, tem que incluir também o apoio psicológico e funcional, no sentido de sugerir procedimentos ou dar sinais de alerta, dos funcionários dos lares (aspeto que é raramente referido).
Média de novos casos diários por semana (semana “Gabinete de crise”, de 6ª a 5ª seguinte)
Lisboa e Vale do Tejo | Resto do País | Total nacional | |
8 a 14 de maio | 119 | 110 | 229 |
15 a 21 de maio | 159 | 69 | 228 |
24 de julho a 30 de julho | 155 | 58 | 213 |
31 de julho a 6 de agosto | 111 | 59 | 170 |
7 de agosto a 13 de agosto | 132 | 80 | 212 |
14 de agosto a 20 de agosto | 115 | 81 | 196 |
21 de agosto a 27 de agosto | 125 | 115 | 240 |
28 de agosto a 3 de setembro | 154 | 185 | 340 |
4 de setembro a 10 de setembro | 198 | 241 | 439 |
Nota: valores arredondados à unidade
Média de valores diários por semana (semana “Gabinete de crise”, de 6ª a 5ª seguinte)
Óbitos | Internados | Internados em UCI | |
8 a 14 de maio | 11 | 763 | 114 |
15 a 21 de maio | 13 | 636 | 104 |
24 de julho a 31 de julho | 3 | 408 | 46 |
31 de julho a 6 de agosto | 2 | 382 | 41 |
7 de agosto a 13 de agosto | 4 | 363 | 35 |
14 de agosto a 20 de agosto | 3 | 332 | 38 |
21 de agosto a 27 de agosto | 3 | 318 | 41 |
28 de agosto a 3 de setembro | 3 | 338 | 41 |
4 de setembro a 10 de setembro | 3 | 373 | 47 |
Nota: valores arredondados à unidade
Alerta: A passagem ao estado de contingência em todo o país, com a aplicação das mesmas medidas que estavam a ser aplicadas em Lisboa, poderá não ser suficiente para inverter esta tendência recente. Vai depender mais do comportamento e dos receios pós-férias e regresso ao trabalho e às aulas do que do formalismo das medidas anunciadas. É certo que durante algum tempo o crescimento fora da área de Lisboa foi menor do que na capital, mas nas últimas semanas não tem existido diferença sensível, daí que não haja grande motivo para esperar que a mera passagem a estado de contingência altere a evolução recente, e que possam ter que vir a ser adoptadas algumas medidas adicionais.
Nota de esperança: o número de novos casos com contágio via superfícies tem sido muito mais baixo do que o receado inicialmente.Sem retirar importância à limpeza dessas superfícies, pois não deixam de ser fonte potencial de contágio, é um bom sinal não serem o principal meio de passagem do vírus entre pessoas. Importante num momento em que se dá um regresso à utilização de transportes públicos por mais gente.