Um amigo e colega, Francesco Franco, chamou-me a atenção para um recente texto de Amartya Sen, prémio Nobel da Economia em 1998, publicado no Corriere della Sera (quem não souber italiano, pode abrir o link no browser Chrome e ter uma tradução aceitável para perceber o texto), onde descreve a experiência da sua mulher numa ida de emergência ao Serviço Nacional de Saúde italiano, relatando como foi operada a meio da madrugada por um cirurgião que provavelmente não estaria disponível aquelas horas no sector privado em Boston (onde Amartya Sen reside). O interessante da história é Amartya Sen, que tem também experiência de viver em Inglaterra com um Serviço Nacional de Saúde, se ter dado ao trabalho de agradecer de forma tão pública, fazendo o contraponto tão claro com o que teria nos Estados Unidos, com uma outra forma de organização da prestação de cuidados de saúde. Curiosamente, a mulher de Amartya Sen foi tratada no hospital Gemelli em Roma, que está ligado ao Vaticano, e que presta serviços ao Serviço Nacional de Saúde italiano. A satisfação de Amartya Sen com o Serviço Nacional de Saúde italiano é não só mérito do sector público, mas também de como o sector público, neste caso, se associou com um hospital que não é público para a disponibilização de serviços. Há provavelmente mais nesta história do que apenas o confronto público em Itália – privado em Boston.