a propósito da intenção de cobrar 20 (vinte) euros como bandeirada mínima nos táxi a partir do Aeroporto. O argumento (aqui) é que os motoristas estarão fardados e o carro terá ar condicionado. A reacção de um governante, “Como modelo não me parece mal. Ainda me parece melhor se resultar de um acordo alargado” (Sérgio Monteiro, Secretário de Estado dos Transportes) deixou-me numa primeira leitura espantado, esmagado mesmo. Assim de repente pareceu-me que era obrigar os consumidores (os viajantes que chegam às chegadas do aeroporto da Portela) a consumir um produto que não querem forçosamente (motorista fardado, carro com ar condicionado, tarifa a condizer) a um preço para o qual não lhes dão alternativa.
Tomemos pelo lado positivo, oferecer um produto de maior qualidade ao viajante. Ok, nesse caso não bastaria ter uma fila paralela devidamente identificada com as condições praticadas e deixar que fosse o viajante a decidir? liberdade de escolha, concorrência, não são princípios que se querem para o funcionamento da economia?
Claro que o consumidor tem alternativas. Aparentemente se se deslocar à zona das “Partidas” continuará a ter oferta de táxis à tarifa normal (pelo menos a acreditar na notícia do DN, que não vi a proposta de acordo). E se mesmo esta alternativa for suprimida (e não vejo como não se quererá levar o monopólio privado das fardas e ar condicionado para esta zona também, ou fazer com que a tarifa normal nas Partidas deixe de ser opção), restará apanhar o metro até à Gare do Oriente e aí apanhar um táxi à tarifa normal, com a perda de tempo e incómodo acrescidos. Ou então usar a Uber (ilegal? depois desta ideia?) ou uma alternativa que possa surgir. Mas qualquer destas soluções implica um custo adicional, menor ou maior, para o consumidor.
Mas as primeiras impressões são as primeiras impressões.
Depois de reflectir conclui que estava errado, e que não se tratava de criar um monopólio privado. Afinal deve-se ser favorável à iniciativa privada. Sendo assim decidi aderir à ideia, e participar nela. Sendo requisito que o carro tenha motorista fardado e ar condicionado a funcionar, reclamo ser entidade fiscalizadora das condições de cada táxi antes deste apanhar o passageiro para verificação das exigências legais, em situação de exclusividade. Pelos meus serviços cobrarei 10 euros por viatura inspeccionada, acrescido de um subsídio de risco de 1,5 euros, caso o taxista não queira deixar o local na circunstância de não ter as condições legais preenchidas para o exercício da actividade e se exalte (enfim, sabemos que não é provável, afinal está fardado, mas ainda assim, é melhor prevenir). Apenas a minha empresa (a constituir) será certificada para a prestação deste serviço. Acresce ainda 1 euro ao serviço para pagar à ANA a disponibilização das instalações para os funcionários que procederão à verificação de cada veículo.
Encontro-me à procura de um parceiro da área ambiental para proceder aos testes adequados no interior do veículo para confirmar a ausência de elementos prejudiciais à saúde, que isso de ar condicionado pode ser complicado e é preciso defender o condutor do veículo e os passageiros na sua saúde. O serviço será obrigatório, com natureza semanal. Naturalmente, apenas esta nova empresa a constituir estará devidamente certificada para prestar o serviço, que terá o valor de 20 euros por viatura por semana. A contratação de um pack anual terá um desconto de 10%.
A dignidade do exercício da actividade de motorista de aeroporto em Lisboa terá de ser assegurada por fardamento condigno, que uma estilista minha conhecida assegurará a preços em conta, e com renovação anual do fardamento, num exercício de contínuo acréscimo de valor no serviço prestado. Será também dada formação em línguas aos condutores, com um processo de recertificação anual, sem a qual não estarão habilitados para exercer a actividade. Encontra-se já em constituição a única empresa que será certificada para esta formação específica, “Inglês, alemão, francês, italiano e espanhol para turistas que apanham táxis” – o mandarim deixo para as empresas de outros sectores especializadas no mercado asiático e que poderão assim expandir a sua actividade. Para que não copiem, ficam já avisados que o nome da empresa é “euros4taxis”.
É também fundamental criar uma “carta dos direitos e deveres do consumidor de serviço de táxi no aeroporto de Lisboa”. Por exemplo, o taxista fardado deverá ter o direito de excluir passageiros que manifestamente aparentem ter uma constipação, pois a mesma poderá ser exacerbada pelo uso do ar condicionado do veículo. Estou disponível para juntar uma equipa técnica de juristas e economistas para a elaboração desta carta, numa comissão com um mandato de seis meses para apresentação de proposta, e obviamente deverá ocorrer posterior fiscalização, com a criação de uma Entidade Reguladora do Serviço de Táxi no Aeroporto (ERS-TaxA), essencial para receber as reclamações que possam ocorrer no sector.
Estas propostas, além de inovadoras e de ajudarem a cumprir a missão da Antral de dar a cada passageiro um condutor fardado e um carro com ar condicionado nas melhores condições, reúnem também um consenso alargado, pelo menos entre amigos e família creio que o conseguirei, e dinamizam o emprego na economia portuguesa.
PS. Que a Antral tente criar um monopólio privado local no Aeroporto de Lisboa, parece-me até natural. Que lhe seja dada essa oportunidade é contraditório com a campanha da Autoridade da Concorrência “com concorrência todos ganhamos”
18 \18\+00:00 Maio \18\+00:00 2015 às 21:00
E ja para nao falar do papel que a Uber podia ter nisto…
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19 \19\+00:00 Maio \19\+00:00 2015 às 07:14
adorei a ironia
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Pingback: Também quero um monopólio privado | O Insurgente
19 \19\+00:00 Maio \19\+00:00 2015 às 20:50
desenvolvimentos:
Câmara de Lisboa diz que ainda não há acordo final para bandeirada 20 euros nos táxis do Aeroporto:
http://www.jornaldenegocios.pt/empresas/transportes/detalhe/camara_diz_que_ainda_nao_ha_acordo_final_para_bandeirada_20_euros_nos_taxis_do_aeroporto.html (18 Maio 2015, 14:45)
Governo está contra tarifa especial de 20 euros nos táxis do Aeroporto de Lisboa: http://www.jornaldenegocios.pt/empresas/transportes/detalhe/governo_contra_tarifa_especial_de_20_euros_nos_taxis_do_aeroporto_de_lisboa.html (19 Maio 2015, 14:54)
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20 \20\+00:00 Maio \20\+00:00 2015 às 13:10
Pelo que um taxista me contou, a própria economia da actividade de taxista está de pantanas: as licenças para taxis são emitidas pela câmara, são limitadas, e estão congeladas há anos. Logo, as pessoas que têm carro com licença sub-alugam o seu carro ao motorista que quiser exercer, mas o motorista é o responsável por todos os custos, incluindo a renovação da licença. I.e. o intermediário não gera qualquer valor, mas tem o seu depósito garantido no final do mês e independentemente das flutuações da oferta.
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20 \20\+00:00 Maio \20\+00:00 2015 às 13:10
das flutuações da procura.*
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