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Os anos da crise, satisfação e utilização dos serviços de saúde

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por Manuel Villaverde Cabral e Pedro Alcântara da Silva. Na passada sexta-feira, 20 de Março 2015, na sessão do 3º aniversário Stent for Life, Manuel Villaverde Cabral apresentou os primeiros resultados de um inquérito que, conjuntamente com o seu co-autor Pedro Alcântara da Silva, vêm a repetir periodicamente desde 2001 (a segunda edição teve lugar em 2008, e agora houve outra referente a 2013).

Dos resultados que apresentaram retive os seguintes elementos, que complementam os últimos posts sobre a crise e a saúde da população portuguesa:

1) houve um aumento do seguro privado

2) houve um aumento da utilização do sector privado, com a contrapartida de queda do SNS;

3) houve um aumento do número de pessoas que refere utilizar a ADSE (suponho que seja utilização privada);

4) sobre o grau de satisfação com os serviços de saúde, retive que não houve grandes alterações nos últimos 5 anos, com uma ligeira melhoria nos scores de satisfação, por um lado, e que um elevado número de pessoas não tem qualquer resposta a dar sobre o serviço Saúde24 (cerca de 3/4 das pessoas não responde/não sabe), por outro lado.

5) na parte de utilização de serviços de saúde encontraram um crescimento das consultas de rotina sem estar doente, com diminuição do motivo “porque se sentiu doente”, que pode indicar uma maior atenção à prevenção.

6) no aspecto de deixar de utilizar /comprar cuidados de saúde por motivos financeiros, que recebe sempre grande destaque, a comparação 2008 – 2013 não mostra grandes alterações – nos medicamentos basicamente não muda a percentagem de pessoas que refere ter abdicado de compra (pelo menos uma vez no último ano), o que mesmo assim gera alguma surpresa. Houve descidas significativas nos preços dos medicamentos, e não houve alterações na comparticipação dos cidadãos que contrariassem essas descidas de preços. Dos restantes cuidados de saúde inquiridos (médicos, dentistas, óculos, meios de diagnóstico e terapêutica), só no caso dos óculos houve uma maior abdicação de consumo em 2013 do que em 2008, e no caso do recurso a médicos até houve menor abdicação por motivos financeiros em 2013 do que em 2008.

7) No papel das taxas moderadoras, as variações de utilização são muito pequenas e de sentido contrário consoante se fala de centros de saúde ou meios de diagnóstico e terapêutica (reduziu-se o número de pessoas que indicou não ter utilizado um serviço público  devido ao seu pagamento em 2013 face a 2008), hospitais (aumento do número de pessoas que indicou não ter utilizado um serviço público em 2013 face a 2008 devido às taxas moderadoras). Em qualquer caso, os valores são baixos, e provavelmente não diferentes entre si em termos estatísticos. Aspecto que é consistente com um desvio de utilização dos hospitais para maior recurso aos cuidados de saúde primários, e que é também consistente com outros estudos sobre os efeitos das taxas moderadoras sobre a utilização de cuidados de saúde.

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Autor: Pedro Pita Barros, professor na Nova SBE

Professor de Economia da Universidade Nova de Lisboa.

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