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sistemas informáticos na administração pública

4 comentários

o (agora) famoso CITIUS tem captado as últimas atenções, com a capacidade que dita pronta para o “salto” afinal não o estava. O colapso do sistema e a sua repercussão mediática irá ditar a procura de culpados.

Mas seria bom que houvesse uma “revisão geral” a toda a informática do sector público, pois se algumas coisas funcionam bastante bem, outras parecem permanentemente à beira do colapso. Recolhendo experiências diversas nos últimos meses: autoridade tributária – em geral funciona bem, avisam-me das minhas facturas da sorte e das obrigações fiscais, mandam emails e por vezes ainda cartinhas todas seladas (com aquele ar misterioso que sempre tiveram sobre o seu conteúdo, mesmo que sejam alterações de morada); registos e notariado – consultas e certidões normalmente conseguem-se sem problemas, fazer registos nos serviços tem dias – nem sempre  se consegue fazer tudo online, e a deslocação aos serviços deixa sempre uma história para contar. Pelo menos no Campus de Justiça, há estacionamento fácil, os funcionários conseguem resolver os problemas, mas sem deixar de ter o comentário sobre o que cidadão faz (ou não faz)  e sobre o sistema informática. Numa dessas visitas, fui informado que o sistema vinha desde 1982, com actualizações, e que por isso não importava a informação electrónica do cartão do cidadão. Para fazer um registo tive que preencher um papel onde se pedia a data de emissão do cartão de identificação, que como tenho cartão de cidadão não consta, fui informado que é para colocar a data de validade, que não consta do impresso nem vai constar, e que o nome no impresso tem que coincidir com o nome no registo electrónico, confirmado à minha frente, com o que consta no écran do “sistema”. Claro que se o “sistema” falhar se tem que recomeçar tudo. Felizmente não falhou desta vez.

Sobre sistemas informáticos nos centros de saúde, apesar de melhorias recentes, os médicos continuam a olhar mais tempo para os écrans do que para os doentes. Nas palavras de uma doente, relatadas por uma médica de família, “Oh, Sra Dra pode deixar de olhar para aí e falar um pouco comigo?” (não sei se está literal, pelo menos próximo estará). E no meio do processo os écrans desaparecem e transformam-se (essa vi mesmo acontecer).

Ou seja, não é só o CITIUS que tem problemas; provavelmente muito mais sistemas e funcionalidades estão no limite, só que actualizar sistemas informáticos custa uma fortuna que o estado não tem para gastar; assim, a (falta) reforma informática do estado um dia ainda nos vai custar muito caro.

Autor: Pedro Pita Barros, professor na Nova SBE

Professor de Economia da Universidade Nova de Lisboa.

4 thoughts on “sistemas informáticos na administração pública

  1. Creio que o problema a nível dos sistemas informáticos, além de estarem desatualizados relativamente à sua função original, prende-se com o facto de não comunicarem muitas vezes com outros softwares ou concorrentes ou complementares, verificando-se perda ou duplicação da informação. Além do mais, muito do hardware onde correm é manifestamente obsoleto, sendo que o “parque” informático deve ser substituído onde se verifique tal situação.

    Quando aos sistemas informáticos nos CSP, além dos pontos acima referidos, revestem-se de uma perda de eficiência considerável: permitem recolher uma quantidade muito maior de dados e centraliza-los, reduzindo também o número de erros, mas fazem perder tempo útil de consulta na inserção bem como desviam a atenção do profissional relativamente ao utente, simplesmente para fazer input de dados, diminuindo a satisfação dos utentes e dos profissionais.

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1205599/

    O multitasking é uma palavra muito bonita de se pronunciar mas com 2 mãos, 2 olhos, 2 orelhas e uma cabeça, é difícil olhar para a esquerda e para a direita ou para a frente ao mesmo tempo…
    O que mais gosto é a cara de espanto quando estou a falar com utentes e a escrever ao mesmo tempo sem olhar para o ecrã

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  2. Sobre os centros de saude confirmo. O que me reforma a convicção que é uma profunda patetice não adoptramos a escolha livre dos medicos de familia como tem alguns paises, nas terras que têm oferta sufeciente.

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  3. Pedro
    Sobre este tema do muito que ja vi, permite-me 3 comentarios:
    1-Nao ha uma AP mas tantas quantos os ministerios e seus subconjuntos.Incluindo a Alocal queé percecionada como AP. Logo, Centenas de grandes e pequenas quintas.Com grande heterogeneidade de processos de trabalho e enquadramento institucional e legal.Para alem de tecnologias de informação.
    2-Com o que ja se investiu nos ultimos 15 anos, pelo menos, nosSI/TICs Nos Serviços Públicos devíamos estar muito melhor.Mas também não estamos no caos.Faltou o recurso à interoperabilidade que a SIBS representou para os Bancos ( sendo tudo muito mais fácil aqui porque estamos a falar muito de transações num sector muito normalizado).
    3-Na saúde o impulso troika deu alguma esperança.Mas, muita coisa tendo avançado com especial interesse no caso da PDS, continuou na heterogeneidade de sistemas,de hardware e pouca normalização de processos ( que não são decreto lei ou portarias ) combinada com as quintas e condados a nível nacional.Deu no que deu, como deu no caso dos sistemas dos CSP, uma confusão conhecida e muito mediatizada.
    Não havendo também aqui caos, houve falta de prudência em algumas etapasHá sobretudo uma espécie de guerra dos100 anos de um SNS com 35 anos e que quer ter tudo ao nível do melhor, muitas vezes nas TICs/SI com opções e decisões megalómanas
    Abraço

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  4. A principal razão para este panorama diferenciado é a ausência de gestão e estratégia integradas nos SI da AP. Mesmo o caso de sucesso da AT não é total, pois a realidade dos impostos aduaneiros é bastante diferente da do IRS, IVA ou IRC, seja como for é bastante distinta relativamente aos outros grandes organismos da AP, muitos dos quais com SI críticos para o apoio às suas actividades e que se encontram à beira da ruptura ou já entraram mesmo em colapso como parece ser o caso do MJ. Este quadro negro infelizmente é também um reflexo de como o poder político vem tratando as TI na AP de à cerca de 30 anos para cá , desprestigiando os seus profissionais, retirando-lhes direitos e regalias e promovendo a substituição dos mesmos com o recurso ao outsourcing,. Tudo isto foi feito sem uma visão estratégica ou sequer algum tipo de controle de custos ou preocupação de acautelar o interesse publico, consequência dos tempos idos em que havia sempre dinheiro para contratar mais uma empresa para colmatar uma nova necessidade ao nível das TI. Agora a redução drástica dos orçamentos dos organismos por via do quadro orçamental existente leva à ocorrência de hiatos nestas contratações e os organismos já depauperados de quadros próprios de TI ficam completamente entregues à sua sorte. Não será portanto certamente coincidência, não ser esta a realidade da AT pois… pertence ao Ministério das Finanças.Para isto também muito terá contribuído a gestão de topo da maior parte da AP, na sua grande maioria composta por quadros vindos dos partidos políticos, com capacidades de gestão já medíocres, em muitos casos envelhecidos, pois ser presidente de um organismo de topo da AP é encarado neste país como um prémio de uma carreira política e portanto sem qualquer tipo de preparação para a importância das TI nas suas organizações ou até sensibilidade para essas matérias.

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