Os comentários à nova versão do novo documento estão segundo a ordem de leitura, e para facilidade vou colocando as páginas que os suscitam.
(p. 6) – refere-se a disponibilidade para o “compromisso político e a negociação social” para o pós-troika (pós-17 de maio), como se houvesse uma grande liberdade de decisão depois dessa data; haverá maior flexibilidade, mas certamente não existirá grande capacidade para passar a aumentar a despesa pública. Suspeito que seja apenas “frase para encher”, uma vez que não se vê que processo estruturado será criado para incluir os contributos de qualquer “discussão pública”.
(p.8) – “Nos próximos anos, o foco terá de estar, também e decisivamente, nas reformas e medidas que favorecem o investimento.” – aumentar a capacidade de investimento implica também aumentar a poupança interna (a menos que se queira novamente recorrer a poupança externa… empréstimos do exterior?); mas com os tímidos sinais de retoma começam já a surgir as tentações de aumento de consumo (e de bens duradouros importados). Embora um mês não faça uma tendência, as notícias de março de 2014 do INE não são sossegadoras: “As exportações de bens aumentaram 1,7% e as importações de bens 6,0% no 1º trimestre de 2014, face ao período homólogo (+5,2% e +7,5% respetivamente no período de dezembro de 2013 a fevereiro de 2014). O défice da balança comercial aumentou 621,7 milhões de euros e a taxa de cobertura diminuiu 3,5 pontos percentuais (p.p.) para 81,9%. Em março de 2014 as exportações de bens diminuíram 1,3% e as importações de bens aumentaram 2,1% face ao mês homólogo (respetivamente +4,4% e +5,9% em fevereiro de 2014). ”
Pode haver alguma esperança que o aumento das importações seja resultado de aumento de investimento, mas não ainda sinal de que assim seja, o que o INE nos diz é ainda demasiado vago “acréscimo registado no Comércio Intra-UE (generalizado à quase totalidade dos grupos de produtos, mas em especial nos Veículos e outro material de transporte, Combustíveis minerais e Máquinas e aparelhos”, pois pode ser investimento ou consumo.
Embora fosse melhor que o crescimento do PIB estivesse apoiado no crescimento das exportações e do investimento (que constrói capacidade produtiva para o futuro, e potência aumentos de produtividade seja dentro de cada sector seja aumentando a produção nos sectores mais produtivos), a possibilidade de se ter (e querer?) um aumento do PIB conduzido pelo consumo, em ano pré-eleições legislativas, para mostrar retoma económica, não é de excluir como objectivo político. Veremos se depois a prática corresponde a esta intenção.