Um dos temas favoritos dos últimos anos tem sido a comparação da economia portuguesa com as outras economias que receberam igualmente ajuda financeira internacional e estiveram sujeitas a um programa de ajustamento, a Grécia e a Irlanda. Curiosamente, a Espanha escapa a estas comparações, por a ajuda externa ter sido direccionada apenas para o sistema bancário.
Com o aproximar do final do programa de ajustamento em Portugal tem sido comum falar-se em “saída à irlandesa” ou equivalente. A discussão deixa quase a noção de ser uma questão de gosto ou mesmo estética. Contudo, é importante olhar para os fundamentos a prazo das diversas economias.
A esse respeito, um indicador útil é o chamado PIB potencial, presente na base de dados AMECO da Comissão Europeia, que dá a visão do que é o potencial produtivo de cada economia. Essa visão é complementada com o desvio em cada ano face a potencial produtivo. Este desvio traduz o problema de conjuntura. As figuras seguintes apresentam estes indicadores. No caso do potencial produtivo estão em índice, com duas possibilidades: 1986 = 1 (início da integração europeia formal de Portugal) e 2002=1 (para apanhar os tempos da zona euro).
Os desvios face ao PIB potencial estão em percentagem do valor do mesmo ano.
Da primeira figura, os aspectos mais notáveis são:
a) o grande crescimento da Irlanda antes do euro; depois do euro, mesmo tendo crescido mais, não é tão diferente assim.
b) a Irlanda teve uma redução do seu potencial produtivo depois do início da crise, mas nos últimos dois anos, tem uma recuperação – quer em crescimento do seu potencial, quer em aproximar-se desse potencial (redução do “gap”).
c) a Grécia afunda-se com a crise, e nas duas componentes – redução acentuada do seu potencial produtivo, e aumento do “gap” da produção efectiva face ao potencial.
d) Portugal tem uma evolução média geral de potencial produtivo desde a entrada na CEE (1986) que é melhor do que a grega ou a espanhola até meados da década de 2000. Como é conhecido, o tempo do euro foi de fraco crescimento potencial da economia portuguesa, e desde 2010 o produto potencial tem vindo a baixar. Em termos de “gap”, a recessão ficou a meio caminho entre a situação grega e a irlandesa, e para 2014 prevê-se uma aproximação ao valor potencial. O problema da economia portuguesa, a verificarem-se estes valores, será para 2015 e anos seguintes um problema de aumentar o potencial da economia portuguesa em termos produtivos, e não um problema de “fechar” a diferença entre procura agregada e oferta produtiva potencial (é uma forma imprecisa, mas rápida de transmitir a ideia).
e) a Espanha passa bastante despercebida por cá, nestas comparações, mas acaba por ser o país com o qual somos mais parecidos em termos de evolução.
Assim, para se perceber como Portugal é visto lá de fora em termos de potencial de crescimento, que possa determinar investimento estrangeiro produtivo em Portugal, e investimento financeiro (financiamento da dívida por exemplo), é melhor olharmos para o que se passa com Espanha do que com a Irlanda ou a Grécia. O termos tido em comum com estes dois últimos países um programa de ajustamento formal não corresponde aos fundamentos de cada uma das economias.
14 \14\+00:00 Abril \14\+00:00 2014 às 09:41
Hum. Não me é claro o que significa “PIB Potencial” e “potencial produtivo”, em particular o que significa “potencial”. Por exemplo, o que é que distingue “PIB Potencial” de “PIB”? Como se mede este potencial?
Tem alguma sugestão ou referência que introduza os termos? Parece-me serem conceitos fundamentais para perceber o este momento económico.
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14 \14\+00:00 Abril \14\+00:00 2014 às 10:09
PIB potencial = o valor que seria alcançado se os recursos disponíveis fossem plenamente utilizados de forma eficiente; não é algo que se observe directamente, e é necessário proceder ao seu cálculo por métodos estatísticos.
Existe na Comissão Europeia um grupo de trabalho dedicado ao tema em http://europa.eu/epc/working_groups/output_gaps_en.htm
Em termos simples, descreve o máximo que a economia poderia produzir de forma permanente com os recursos produtivos (trabalho, equipamento, tecnologia) que tem disponíveis. A sua evolução depende do crescimento da população activa, do investimento que substitui e/ou aumenta a capacidade produtiva e da eficiência da tecnologia e da sua utilização.
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14 \14\+00:00 Abril \14\+00:00 2014 às 13:23
Um conceito interessante. Obrigado pela explicação 🙂
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