Na discussão sobre a rentabilidade das farmácias e sobre a viabilidade do seu modelo económico, houve uma troca de impressões com o Mário Peliteiro, que comentou no seu blog e num post anterior; para que cada um possa formar a sua opinião, deixo aqui números de 2010 sobre o custo médio por receita de uma amostra de farmácias, excluindo pagamentos de juros dos custos para não considerar o impacto de investimentos realizados, e uma linha que corresponde ao valor médio por receita aviada. Os valores dos custos correspondem ao ano de 2010, e a linha ao valor estimado para Maio de 2012 (de lá para cá já baixou),
A maioria das farmácias da amostra encontra-se com custos acima dessa linha. Daí a afirmação de que o modelo económico de funcionamento das farmácias tem problemas a resolver – quem quiser entrar, e sem ter que pagar juros de empréstimos, terá que fazer melhor que muitas das farmácias que estão no mercado. E se fosse fácil fazê-lo porque é que muitas destas farmácias ainda em actividade não o fariam?
Apesar das manifestações de entrada firme referidas pelo Mário Peliteiro, bastará que estejam concentradas geograficamente, para que não se consiga fazer a renovação da rede de farmácias e da sua sobrevivência económicas pela eficiência acrescida que novas farmácias pudessem ter face às que já estão em funcionamento. Ainda assim, as 465 não seriam suficientes para renovar integralmente todos os casos de custo médio acima da receita média (e que por isso em média estarão a perder dinheiro). Entretanto foram tomadas medidas que permitem às farmácias reduzir os seus custos.
Como estes valores eram de 2010, actualizar com valores de 2012 quando estiverem disponíveis dará uma imagem mais correcta da situação actual (naturalmente!).
A meu ver, da extensão do problema resulta que não há uma solução única que automaticamente resolva esta questão: a redução de custos terá limites, e não será possível para todas as farmácias na dimensão necessária; a saída de algumas farmácias será provavelmente inevitável, sendo que essa saída poderá ser compensada por alguma entrada; as intenções de entrada mesmo que se verifiquem todas e sejam dispersas geograficamente provavelmente não substituirão integralmente por farmácias mais eficientes todas as que se encontram acima da linha de receita média; há ainda que contar com o optimismo de quem entra e com os casos em que terão encargos financeiros que poderão a médio prazo fazer com que encerrem se não houver alteração do modelo económico.
É esta situação argumento para limitar a entrada? não, certamente que não. Como também não devem ser adoptadas medidas que simplesmente recompensem maus investimentos feitos. Mas mesmo descontando esses aspectos todos, creio ser difícil defender que não há um problema no sector da distribuição e dispensa de medicamentos por efeito das várias reduções de preços e de margens que ocorreram nos últimos anos.
15 \15\+00:00 Abril \15\+00:00 2013 às 23:25
Caro Pita Barros,
Conta-se que um velho e rico empresário, aí por meados da década de 90, estando há muito tempo a negociar a compra de uma farmácia para a sua filha preferida por cerca de 100.000 contos (era muito dinheiro na altura), um dia perdeu a paciência e disse à ainda mais velha farmacêutica: ou me vende hoje a botica por 150.000 contos, o triplo da sua facturação, ou nunca mais me vê a cara. A senhora vendeu a botica e o industrial ofereceu à filha um emprego para a vida, aquilo que ela mais ansiava.
A minha mulher é economista, trabalha na banca de empresas, e quando comprei uma farmácia fez uns cálculos concluindo que eu nunca conseguiria o retorno do investimento, levaria a família à falência, colocando em causa o futuro dos nossos filhos. O divórcio esteve no horizonte. Felizmente correu bem e ainda hoje perdura o matrimónio.
Estas histórias pretendem ilustrar que no universo das farmácias, como noutros talvez, a racionalidade económica nem sempre é óbvia, que a formação do preço de venda de um destes estabelecimentos é complexo e não se resume a rentabilidades esperadas dos capitais investidos; muito por isso as farmácias atingiram – atingem? – valores absurdos e, mesmo com algumas dificuldades financeiras não se encontram muitas farmácias no mercado (está em curso uma oferta pública de compra no meu blogue – Compro farmácia, qualquer uma, no triângulo Porto-Famalicão-Viana por 250.000 euros http://goo.gl/a3NZj – e ainda não recebi nem uma resposta). O que quer dizer que se porventura abrissem concursos, em Bragança, Elvas, Póvoa de Varzim ou, claro, Lisboa, não faltariam concorrentes, a dinamizar o mercado de arrendamento, do mobiliário, informática, etc., criando emprego jovem e estimulando a concorrência.
Ah, quase me esquecia, concordo com o seu último parágrafo.
PS1- Se alguém tiver uma lista das farmácias que já fecharam em 2013 (esperam-se 600 no ano, logo já terão fechado umas 200), agradeço, pois factos valem muito mais que cálculos e previsões de economistas (com o devido respeito ; )
PS2- Se souberem de alguém em dificuldades que queira vender uma farmácia, qualquer uma, no triângulo Porto-Famalicão-Viana por 250.000 euros avisem-me por favor, que estou interessado e tenho muitos amigos provavelmente interessados.
Grande abraço
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16 \16\+00:00 Abril \16\+00:00 2013 às 10:30
Caro Mário
Vamos dar publicidade à sua oferta de aquisição por 250.000 euros!
Quanto às 600 farmácias encerrarem esse número não é meu. Mas as dificuldades com a margem das farmácias pode ser vista de varia forma – por exemplo se tomar o tempo de atendimento de um medicamento (5 min) e der um valor de recursos humanos a esses 5 min qual a margem que tem de obter num medicamento para compensar? Se nao compensar tem que haver subsídios cruzados.
E a preocupação não é com a saída de farmácias, é com saindo umas ou muitas não haja quem tome o seu lugar. Mas não será improvável que haja ajustamentos na estrutura de custos que consigam melhorar a situação. Duvido é que mesmo com factores emocionais à mistura se paguem valores muito elevados por uma farmácia.
Abraço
Pedro Pita Barros
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16 \16\+00:00 Abril \16\+00:00 2013 às 10:10
Muito interessante esta análise (e acredito que esteja desactualizada) mas a facturação de uma farmácia, e acima de tudo o seu lucro, não provém apenas do receituário mas também da medicação não sujeita a receita médica e, principalmente, dos OTCs e derivados e que possuem margens mt superiores (mesmo com a maior concorrência que acarretam).
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16 \16\+00:00 Abril \16\+00:00 2013 às 10:22
Os dados sao de 2010. As receitas decorrentes de outros produtos além dos medicamentos sujeitos a receita medica não são assim tão grandes. Mesmo com margens brutas de 30% será difícil que compensem as perdas de margem por redução de preços no que é a maior parte das suas vendas. Adicionalmente esses outros produtos têm tambem sensibilidade à actual conjuntura e as suas vendas em média baixaram. Não há evidência com dados de 2012 de capacidade de aumentar essas vendas.
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16 \16\+00:00 Abril \16\+00:00 2013 às 10:28
Certo,
a minha pretensão era apenas a de tentar justificar o facto de a maioria das farmácias continuarem ainda abertas pois acredito que os dados dos MSRM são calamitosos…
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16 \16\+00:00 Abril \16\+00:00 2013 às 15:49
Boa tarde,
Há que ter em conta que os ditos otc’s já não são o que eram, precisamente para compensarem as perdas os MSRM e também pelas perdas a que os espaços de venda de MNSRM obrigaram.
Caro Peliteiro,
Não há farmácias à venda, com ou sem dívida, por esse valor. Por agora, entretanto poderá haver se esta política de baixa de preços continuar. Não vamos conseguir suportar os custos operacionais.
Não é racional vender moléculas a preços inferiores ao custo de produção e isso eu sinceramente suspeito que já está a acontecer.
Cumprimentos.
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17 \17\+00:00 Abril \17\+00:00 2013 às 00:55
O Peliteiro tem razão na questão da falta de racionalidade do mercado farmacêutico. A diferença é que, como demonstra o Prof. PPB (não só aqui, mas em vários outros locais), a bolha estoirou – e um mercado (o da compra e venda de farmácias) que crescia à custa da fezada num crescimento eterno dos preços (de transacção das farmácias) finalmente encontrou uma parede que inundou de realidade muitas loucuras que por aí se fizeram. Na verdade o valor que o Peliteiro propõe andará seguramente muito próximo do real valor médio das farmácias (à luz do que hoje entendemos como critérios de racionalidade económica).
No entanto, ou as farmácias pertencem a proprietários históricos que não precisam do dinheiro (pois passaram anos a acumulá-lo e a farmácia tornou-se para eles uma questão de honra), ou então simplesmente não podem ser vendidas a esse preço, pois isso representaria um prejuízo brutal (dados os custos essencialmente financeiros existentes).
Acho que o fim do sector farmacêutico tal como o conhecemos ainda vai no adro… e felizmente para ti, Peliteiro, não aparecerá ninguém a vender-te uma farmácia por esse valor. A tua mulher pode continuar descansada 🙂
Para terminar, já o escrevi várias vezes nos últimos 5 ou 6 anos, a única solução para a actual situação passará pela abertura do mercado a agentes com um “nervo” financeiro muito superior aos actuais – e isso será a única forma de assegurar a estabilidade no abastecimento de medicamentos, evitar o flagelo da tentação pela exportação paralela e aguentar as investidas da troika…
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17 \17\+00:00 Abril \17\+00:00 2013 às 20:48
Pois não Vladimiro, bem sei que ninguém me vende farmácia nenhuma, por minorca que seja, por 250.000 euros. Estão a ser vendidas no mínimo a 1 milhão, sempre mais que o volume de vendas anual – o que faz inveja à Mota-Engil, à PT ou mesmo à Microsoft e o que seguramente os melhores economistas, como o Prof. Pita Barros, não conseguem explicar.
Assim, voltando ao início da conversa, se há quem compre farmácias por preços, digamos, irracionais porque não haverá quem queira investir muito menos e abrir farmácias de novo? E porque não abre o Infarmed concursos para novas farmácias desde 2004 mas abre concursos para os medievais postos móveis farmacêuticos?
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18 \18\+00:00 Abril \18\+00:00 2013 às 21:15
Dou-lhe a minha no centro da cidade quando quiser apareça
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17 \17\+00:00 Abril \17\+00:00 2013 às 22:51
Sobre a disponibilidade para comprar farmácias, algumas notas adicionais:
a) a irracionalidade poderá ser apenas sinal de optimismo exagerado na aquisição – se houver incerteza sobre o valor da actividade da farmácia, então quem tiver a perspectiva mais favorável oferecerá mais, mas quem tem a visão mais favorável terá em média maior probabilidade de ter sobre-estimado o negócio (se não tiver tido em conta na sua oferta que se ganhou é porque foi optimista em excesso com elevada probabilidade).
b) pode ser também excesso de confiança nas capacidades próprias – “os outros não conseguem fazer negócio, mas eu sou melhor que eles”
c) quem tem farmácia prefere ajustar do que vender – suporta as menores receitas, ganhando menos ou trabalhando mais
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18 \18\+00:00 Abril \18\+00:00 2013 às 00:17
Boa noite,
Peliteiro, há farmácias à venda por valor inferior à facturação anual, ou seja, a aproximação à realidade.
Há poucas semanas saí eucadamente de uma “corrida” por achar irracional oferecer mais do que 0,7 ou no máximo 0,8. Passados poucos dias a mesma foi trespassada por factor superior a 1,2. Isto vai de encontro à alinea b do Prof Pita Barros.
Alguém convenceu outrem de que o negócio em novas mãos correria melhor…
Cumprimentos
PG
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18 \18\+00:00 Abril \18\+00:00 2013 às 09:53
Caro Professor
Com a vantagem de não ser economista ou farmacêutico, vejo esta questão das farmácias aqui tão bem discutida, de uma forma mais simples: o negócio das farmácias, ou melhor, o serviço que prestam, depende de vários intervenientes – o cidadão, o médico e a indústria farmacêutica, entre outros sem esquecer a ANF e o Governo. Por isso, provavelmente as farmácias atravessam um período mais conturbado, como tantas outras empresas em Portugal, mas serão sempre viáveis porque:
Cada vez haverá mais cidadãos a ficar doentes ou a entrarem em programas de prevenção com a intervenção medicamentosa, onde a quebra de preços será eventualmente compensada pelo aumento da procura;
Os médicos nas USF ou nas UCSP vão ser obrigados a contratualizar cada vez mais o controlo dos doentes de determinada patologia e, ainda que os custos por doente nas USF baixem, aumenta o nº de doentes tratados;
A Indústria Farmacêutica vai continuar ter novos produtos, a compensar as quebras de preços e os efeitos da baixa por genéricos; em 2012 o mercado cai 9% em valor e sobe 3% em unidades.
De uma maneira simplista repito, sem grandes cuidados de rigor economicista, as quebras nas vendas nas farmácias seriam em média de 9% nos MSRM, que podem representar no máximo 80% (será mais, ou será menos) das vendas de uma farmácia, o que convenhamos não uma quebra muito grave no período em que vivemos, a juntar ao poder de negociação que uma farmácia tem junto aos OTC, Genéricos e Dermocosmética.
Será por isto que não se encontram farmácias a 250.000 euros?
Agora, tudo nas farmácias pode melhorar – gestão, relação com o cliente, com o médico e acima de tudo, a relação com o futuro. Tudo pode melhorar, tal como no país…
jose ribeiro
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18 \18\+00:00 Abril \18\+00:00 2013 às 16:41
Caro José Ribeiro, a quebra medida só com a alteração das margens nos MSRM numa amostra de quase trezentas farmácias foi nos primeiros 5 meses de 2012 de quase 15%, ainda sem contar com a redução adicional resultante da revisão de preços por comparação internacional. Tentarei ter dados actualizados em breve.
Obrigado pelo seu comentário.
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23 \23\+00:00 Abril \23\+00:00 2013 às 07:13
E outra nota para o José Ribeiro, também sem qualquer fundamentação objectiva: aposto que o peso dos MSRM no total de vendas da farmácia média será de pelo menos 95% (há 5 anos, quando eu saí do sector, era de 98% na farmácia em que trabalhei). Em relação ao Prof. PPB: notem que estes 15% acrescem a uma diminuição global que deverá andar muito próxima dos 50% (em valor absoluto das margens – hoje os medicamentos são muito mais baratos) nos últimos 5 anos. O cenário em bem mais negro do que se possa pensar – e na verdade não há qualquer racionalidade económica nem em manter algumas farmácias abertas, nem em transaccioná-las pelos preços de que se fala. A oferta do Peliteiro é simplesmente demasiado baixa para um mercado onde a paixão ainda é a nota dominante!
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23 \23\+00:00 Abril \23\+00:00 2013 às 08:12
Se o mercado das farmácias está em dificuldades, porque é que no número de farmácias cresceu 12,7% em 10 anos (de 2000-11)?
ou 4,6% em 5 anos (2007-11)?
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23 \23\+00:00 Abril \23\+00:00 2013 às 09:39
De acordo com os números com que trabalhei, é a partir de 2011/2012 que a descida de preços dos MSRM (iniciada em finais de 2010) mais se acentua, e em que na margem as dificuldades em cobrir o custo surgem.
Até lá, as margens eram positivas e permitiam ir cobrindo em média o custo marginal.
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23 \23\+00:00 Abril \23\+00:00 2013 às 10:30
Ana Isabel Tavares, julgo que os seus números sobre números de farmácias estão errados. Nos últimos 5 anos não abriu nem um único concurso para novas farmácias. Desde 2000 os únicos concursos com peso na evolução do número de farmácias são os da Ministra Manuela Arcanjo.
Correia de Campos e Ana Jorge prometeram abrir farmácias, foi mesmo ventilado o número de 500 novas farmácias, mas o Infarmed atrapalhou-se com a compra de uma gôndola para o sorteio (isto tudo está referido ao longo do tempo no meu blogue).
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23 \23\+00:00 Abril \23\+00:00 2013 às 10:38
«Sobre a disponibilidade para comprar farmácias, algumas notas adicionais:»
As mesmas notas a) e b) são válidas para a abertura de novas farmácias, parece-me.
Então, Prof. Pita Barros, desculpe-me a teimosia mas não entendo porque recorrentemente afirma na comunicação social que «se uma farmácia fechar ninguém vai querer entrar e tomar o lugar»; compreendia se dissesse que «novas farmácias são inviáveis» mas não compreendo que tome a posição do mercado e esteja sempre a dizer que não há interessados em abrir novas farmácias. Porque é o Prof. Pita Barros contra a liberdade económica?
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23 \23\+00:00 Abril \23\+00:00 2013 às 11:24
Olá Mário,
não sou contra a liberdade económica, aliás se vir bem em vários pontos já disse que a situação actual das farmácias não é razão para limitar a entrada de novas farmácias.
A minha dúvida é mesmo sobre se há vantagem em entrar nesta actividade agora, e se essa entrada não será baseada em optimismo excessivo ou sobre-avaliação das capacidades de gerir bem (que é um fenómeno geral associado com entrada em qualquer sector, e não específico das farmácias).
O motivo da minha dúvida está no facto de em média, de acordo com as contas de 2010 das farmácias, e as descidas de preços entretanto ocorridas, não estar a ver como uma farmácia média consegue ter receitas suficientes para pagar todos os seus custos.
Um exemplo simples, baseado não na estatística, e cujos valores poderão ser por isso corrigidos,
Suponhamos uma farmácia com um trabalhador (uso o termo para não ter que especificar a categoria profissional), que tem um encargo para a farmácia, em 12 meses, de 2000 euros (inclui segurança social, todos os pagamentos em equivalente mensal, como os subsídios de férias e de natal). Se houver 40 horas de trabalho por semana durante 4 semanas por mês, são 12,5 euros por hora.
Se esta pessoa fizer 12 atendimentos de 5 minutos cada um por hora, dispensando um medicamento que tem PVP de 4 euros, a receita que fica para a farmácia é 9,6 euros – na margem, não compensaria contratar uma pessoa mais para fazer mais 12 atendimentos por hora para vender um medicamento com PVP.
Na realidade há outros medicamentos com preços superiores, e há venda de outros produtos, medicamentos não sujeitos a receita médica e outros produtos, mas também há mais custos, e há tempos mortos em que não se está a gerar receita na farmácia. O exemplo serve apenas para ilustrar como é fácil encontrar uma situação em que a receita adicional não compensa o custo adicional.
O que se encontra nas estatísticas comparadas de mais de 1000 farmácias é que este exemplo não é um situação excepcional, mas ocorre com frequência.
O ter esta margem negativa significa que entrar na actividade, com custos fixos de investimento que tenham de ser pagos, não é fácil, e que aumentar a dimensão não é necessariamente uma boa solução. Normalmente, ganhar dimensão é bom para diluir custos fixos, mas tal só funciona se na margem, actividade adicional trouxer contribuição para ajudar a pagar o custo fixo.
É esta a base para afirmar que não me parece que a abertura de novas farmácias seja em geral atractiva.
Abraço
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23 \23\+00:00 Abril \23\+00:00 2013 às 21:53
Caro Prof. Pita Barros,
O que é certo – este é o meu ponto, o início da conversa, o resto são lateralizações – é que em duas entrevistas recentes de grande audiência, RTP e TVI, substitui-se ao mercado afirmando que «se uma farmácia fechar ninguém vai querer entrar e tomar o lugar» o que é substantivamente diferente do aqui escrito «não me parece que a abertura de novas farmácias seja em geral atractiva» e, por outro lado, em nenhuma delas ouvi «a situação actual das farmácias não é razão para limitar a entrada de novas farmácias».
Quanto às suas contas – esta é uma das lateralizações -, a previsão das 600 farmácias que fecharão em 2013 sairá completamente errada e é já agora sumariamente desmentida pelos factos: no primeiro quadrimestre não fecharam farmácias em número significativo e não há farmácias à venda por menos de 1 milhão de euros, por mais do valor da facturação anual mais existências, e nem no Portugal longínquo Vale do Ave, Cávado e Lima há intyeressados em vender boticas por 250.000 euros 😉 . Talvez não esteja a trabalhar com os dados certos…
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23 \23\+00:00 Abril \23\+00:00 2013 às 22:27
Caro Mário,
Não vejo qualquer contradição entre as minhas afirmações, nem acho que me esteja a substituir ao mercado – corresponde à emissão de uma opinião sobre o que é a situação actual do mercado. Mas creio que podemos neste ponto concordar em discordar.
A previsão de fecho de 600 farmácias não é minha.
Sobre os valores de venda e a disponibilidade para venda, veremos o que sucede.
Dados: enfim, se não estiverem certos é porque estarão a ser reportados erradamente às entidades oficiais, a base de informação é IES.
Deduzo que a sua farmácia tem sido pouco afectada pela situação de crise, ou que então encontrou os mecanismos de compensação e de organização que permitiram minimizar os efeitos da conjuntura adversa. Neste caso, só posso deixar-lhe as minhas felicitações, e esperar que os seus colegas encontrem os mesmos caminhos.
Só por curiosidade fiz uma busca rápida na internet sobre farmácias encerradas ou em processo de insolvência, e embora não tenha tido tempo de explorar, pareceu-me interessante a informação que parece estar contida neste site: https://www.racius.com/farmacias/
abraço
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23 \23\+00:00 Abril \23\+00:00 2013 às 23:08
Caro Prof. Pita Barros,
Não sei se a minha farmácia tem sido muito ou pouco afectada pela crise porque já a vendi.
No Racius estão, parece-me, muitas parafarmácias. Dos 12 estabelecimentos dados como fechadas, a única farmácia que reconheço, a Estádio, em Coimbra, não estará fechada. Dos 56 em insolvência, vejo logo uma farmácia de Hospital, algumas das escandaleiras… Nada de alarmante ou significante.
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24 \24\+00:00 Abril \24\+00:00 2013 às 12:00
Li atentamente e com prazer os comentários até agora e creio que a disparidade entre as duas opiniões (Peliteiro e Pedro Pita Barros) se explica com a percepção da racionalidade do mercado que cada um tem.
De facto, de acordo com os números do Dr Pedro Pita Barros, que estarão certamente correctos, será correr um grande risco investir na abertura ou compra de uma farmácia neste momento. Pelos padrões de relação risco/benefício da maioria das pessoas seria considerado irracional, e não deverão existir muitos interessados, tal como preconiza o Dr Pedro Pita Barros.
Já o Dr Peliteiro, considera que o mercado é livre e pode ser bastante irracional. A existência de um enorme risco não impede ninguém de o correr se assim desejar. Pelo que existem de facto pessoas dispostas a comprar e investir em farmácias.
Dito isto, compreendo ambas as visões e julgo que o que teremos na prática numa primeira fase serão pessoas a efectivamente investir nas farmácias tal como o Dr Peliteiro prevê, mas a não conseguirem a sua rentabilização no curto ou médio prazo e a terem que as fechar mais cedo ou mais tarde (veio-me à memória um post seu que me pôs a pensar bastante sobre a natureza irracional do ser humano: http://www.peliteiro.com/2009/11/nado-morto.html).
Isto significa que no final de contas também o Dr Pedro Pita Barros estará correcto na medida em que continua a ser inviável investir nas Farmácias não sendo isso razão para faltar quem lá deseje enterrar dinheiro como diz o Dr Peliteiro.
O mercado farmacêutico é caracterizado por ter uma forte influência emocional e isso será provavelmente explicação para termos pessoas que continuam a investir as todas as suas poupanças pessoais na farmácia que já não dá lucro há anos (veja-se o relato da Drª Manuela Teixeira no programa da TVI desta semana por exemplo a par de muitos outros que eu conheço) ou terem feito ou recusado propostas de compra de farmácias muito acima daquilo que seria espectável tendo em conta a sua rentabilidade.
Perdoem a minha presunção em colocar por minhas palavras aquilo que julgo serem os vossos pensamentos mas, de acordo com o que li nos comentários, penso que não terei falhado por muito.
Caso correspondam à verdade alinham-se perfeitamente com a minha teoria sobre o assunto neste momento.
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25 \25\+00:00 Abril \25\+00:00 2013 às 23:09
Muito bem Filipe, julgo que um bom resumo. Falta apenas dizer, do meu lado, que o discurso do Prof. Pita Barros, na TV, parece-me sempre um defensor do condicionamento farmacêutico – talvez numa próxima entrevista se lembre desta discussão e diga que deveriam abrir concursos para abertura de novas farmácias – sobretudo em locais que ficaram isolados pelas transferências – e que possivelmente haverá interessados – dinamizando a economia, criando emprego jovem, com gestão mais moderna e adaptada, potenciadora de boa concorrência – capazes de promover serviços farmacêuticos de qualidade às populações.
Curiosamente ainda não veio aqui à baila o poderosíssimo lóbi da APED e seus “estudos”.
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26 \26\+00:00 Abril \26\+00:00 2013 às 08:33
Mais uma achega: Infarmed estuda concurso para dar alvará a mais estabelecimentos http://www.peliteiro.com/2013/04/mais-farmacias.html
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26 \26\+00:00 Abril \26\+00:00 2013 às 08:47
@Filipe: Obrigado pelo resumo. Acrescento apenas que a minha perspectiva é pensada num horizonte de 5 anos pelo menos – sustentabilidade económica da actividade.
A falta de sustentabilidade económica a prazo não é incompatível com pretensões de entrada (estando estas baseadas em premissas de optimismo ou/e de conquista de posição de mercado a outros, que sairão do mercado).
@Mário Peliteiro – sobre a abertura das farmácias a defesa da abertura do sector, faço essa defesa há vários anos (mesmo quando era impopular fazê-lo), isso não me impede de reconhecer, depois de olhar para os números, que existam problemas de viabilidade económica no actual momento.
Sobre APED e os seus “estudos”, como não os conheço, nada tenho a dizer (até os ver, pelo menos :D). Poderemos ir a esse tema um destes dias.
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26 \26\+00:00 Abril \26\+00:00 2013 às 13:32
Acerca da abertura de mais farmácias num ambiente em que o seu rápido encerramento será muito provável, eis a minha opinião: julgo que é muito importante garantir que a população não fique sem acesso aos medicamentos quer devido ao encerramento de farmácias, quer devido ao facto de estas se terem deslocalizado ou mesmo nunca terem existido num determinado local.
Julgo ser também importante, do ponto de vista de saúde pública e do interesse nacional, que não seja permitida a abertura a “nados-mortos” ou “nados-moribundos” devido a factores adversos que lhe são impostos pelo estado como seja a sua forma de remuneração hoje em dia claramente desadequada.
Como disse o Dr Peliteiro num seu post, é do interesse público que as farmácias tenham uma garantia de uma escala mínima, uma massa crítica que garanta um serviço público farmacêutico de qualidade, ao nível dos stocks de medicamento (talvez o mais basilar) e, acrescento eu, em vários outros níveis (ocorre-me por exemplo a capacidade de remunerar pelo menos 2 farmacêuticos).
Reparem que essa escala mínima, teoricamente e em média, é inversamente proporcional ao número de farmácias abertas. Reparem também que, no que toca a número de utentes por farmácia, temos uma das melhores coberturas da Europa e ao menor custo.
Assim sendo, a abertura de farmácias por si só, provavelmente não viria resolver nenhuma questão de acessibilidade ao medicamento, na medida em que se diluiria ainda mais essa importante escala mínima de que falamos. Teriam portanto que necessariamente fechar farmácias para outras as poderem substituir.
Isto é, como disse, teoricamente e em média se a distribuição das farmácias e da população fosse homogénea. Na realidade existirão certamente locais em que a população é sub ou sobre-servida de farmácias.
Portanto eu diria que faz tanto sentido abrir farmácias nas zonas sub-servidas como faz sentido encerrá-las nas zonas sobre servidas quando não conseguem dar resposta à necessidade de medicamentos da população.
Se deve ser feito ou não é discutível.
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26 \26\+00:00 Abril \26\+00:00 2013 às 14:20
«Portanto eu diria que faz tanto sentido abrir farmácias nas zonas sub-servidas como faz sentido encerrá-las nas zonas sobre servidas quando não conseguem dar resposta à necessidade de medicamentos da população.
Se deve ser feito ou não é discutível.»
Acrescento apenas que a concorrência é sempre um catalizador de melhoria e que a legislação – às vezes esquecemo-nos, incluindo o Infarmed, de que temos leis a cumprir -, nomeadamente a capitação e a distância de 2 km, não está a ser cumprida e que permite instantaneamente colmatar as eventuais deficiências nessas zonas “sub-servidas”.
Mas, Salazar seguia o condicionamento industrial e o Infarmed – apesar do princípio da livre abertura consagrado na lei – segue há décadas o condicionamento farmacêutico. Um dia, como em qualquer sistema oprimido, dar-se-à uma explosão, as parafarmácias transformar-se-ão em farmácias, todos os hipermercados terão farmácias e não haverá bairro ou lugarejo que não queira ter a sua botica.
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26 \26\+00:00 Abril \26\+00:00 2013 às 14:29
Totalmente de acordo. Que se abram farmácias onde elas são precisas e onde os limites legais sejam cumpridos.
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27 \27\+00:00 Abril \27\+00:00 2013 às 13:07
Filipe e Mário,
agora é a minha visão mais liberal a entrar na discussão – se é para abrir farmácias, que se permita a sua abertura onde os potenciais entrantes querem – de outro modo, estaremos a misturar mecanismos de mercado (iniciativa privada e entrada) com planeamento central (onde e quantas farmácias deixamos abrir). Porquê proteger farmácias que já operem da entrada de outras que possam oferecer melhor serviço à população (ou perderem o seu dinheiro e de quem lhes emprestou na tentativa)?
A discussão de liberdade de entrada é distinta, em certa medida, da discussão da viabilidade económica a prazo da actividade quando esta se encontra sujeita a regulações de preços (e não apenas regulações de entrada).
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29 \29\+00:00 Abril \29\+00:00 2013 às 15:58
Compreendo, no entanto neste sector de actividade específico, devido às suas particularidades (os medicamentos não são como outros bens de consumo), não associo a entrada de mais farmácias a um acréscimo de qualidade de serviço prestado à população.
Digo isto porque julgo que se assim fosse as farmácias dos países em que não há barreiras à abertura de novas farmácias essas seriam, tendencialmente, as que prestavam a melhor qualidade de serviço do mundo, o que na prática não se verifica.
Pelo contrário, de acordo com os meus conhecimentos, as farmácias de Portugal são apontadas como um modelo de farmácia a seguir pela maioria dos outros países da Europa.
Nada disto são factos, é claro, mas também não o é a ideia de que mais farmácias equivale a melhor serviço.
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29 \29\+00:00 Abril \29\+00:00 2013 às 22:34
«agora é a minha visão mais liberal a entrar na discussão – se é para abrir farmácias, que se permita a sua abertura onde os potenciais entrantes querem – de outro modo, estaremos a misturar mecanismos de mercado (iniciativa privada e entrada) com planeamento central (onde e quantas farmácias deixamos abrir).»
Estava a ficar preocupado, caro Prof. Pita Barros: podia a sua visão liberal ter desaparecido…
Ora eu sou contra a liberalização da abertura de farmácias; se tal acontecesse, num só momento, registar-se-ia uma explosão de novas farmácias, boticas e baiucas e enquanto o mercado não se regulasse (duraria anos, décadas, dada a dita “irracionalidade” que leva farmácias a serem vendidas mais caras, proporcionalmente, que a Microsoft) os doentes sairiam muito prejudicados. Sou no entanto favorável a estudar uma liberalização condicionada (duramente fiscalizada) a certos requisitos, como por exemplo:
1- Stock de medicamentos equivalente ao valor de 1 mês de vendas, no mínimo 100.000 euros.
2- Equipa de 50% de farmacêuticos, no mínimo 2.
3- Mais de 150 m2 de área, laboratório para manipulados, cadeia de frio, WC para doentes, etc.
4- Actividade completamente informatizada, rastreabilidade ao lote completa.
5- Sistema de gestão da qualidade certificado.
6- Pelo menos dois serviços de saúde implementados com objectivos definidos e monitorizados.
7- Outros requisitos que agora, de repente, não vislumbro.
[Vou tentar escrever sobre este conceito de liberalização condicionada, com mais tempo, agradecendo desde já a colaboração dos colegas]
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