Interessante e de rápida leitura o novo livro de João Lobo Antunes sobre medicina, editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos. Há semelhança de outros livros, farei nos próximos textos uma leitura comentada.
O primeiro capítulo é de introdução, mas tem desde logo algumas entradas importantes. Desde logo nas páginas iniciais, João Lobo Antunes (JLA) refere as exigências crescentes “de uma população cada vez mais informada sobre o poder da arte médica. Não é por acaso que – muito contra meu gosto – se dá hoje preferência a termos como clientes, utentes ou consumidores, em desfavor da designação tradicional de doentes.”
Duas observações me surgem – por um lado, a precisão que se pode fazer de população com mais acesso a informação, face a população mais informada – não é exactamente a mesma coisa, pois é preciso conhecimento para lidar com a informação: perceber qual é a informação relevante, e qual a implicação que se retira dessa informação. Se a população estivesse mais informada poderia ter um diálogo mais frutuoso com o médico, mas se tem apenas mais informação, o médico poderá ter que explicar porque e quando é a informação relevante ou irrelevante. Em qualquer dos casos, antes de chegar directamente ao papel de decisor, o médico passa a ter um maior papel de descodificador, de explicador da situação. Adicionalmente, há o problema de o que esta informação faz em termos de expectativas da população, e dos enviesamentos que esta tem a ler a informação. Não me espantaria que perante uma condição clínica e uma intervenção que a resolve apenas 1 vez em cada 100 casos, o “doente” a quisesse tentar na expectativa de que será esse caso em cada 100. E se não resultar a culpa será do médico. Lidar com a incerteza não é fácil. Mais do que o papel do médico, está aqui em questão o comportamento do cidadão.
A segunda observação é a utilização de outros termos para “doente”, em que parte vem de nem sempre o cidadão estar doente quando deve de contactar o sistema de saúde – por exemplo, grávidas, vacinação, rotinas – e parte de uma maior participação de outras profissões na discussão sobre o sector da saúde, que trazem esses termos para designar o mesmo “agente” (palavra tipicamente importada do léxico da economia).
5 \05\+00:00 Abril \05\+00:00 2012 às 12:17
A premissa “o doutor é que sabe, o doutor é que estudou” é cada vez menos ouvida actualmente.
Os médicos terão cada vez mais que esclarecer e clarificar, já que o novo “utente/consumidor” se apresenta mais informado, bem ou mal.
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