Decorreu esta semana na Fundação Calouste Gulbenkian uma sessão sobre “envelhecimento saudável”, organizado pela Embaixada do Reino Unido. As várias sessões estão disponíveis aqui, para quem quiser visualizar.
Alguns destaques rápidos, incluindo vários dos temas que habitualmente surgem, mas focando sobretudo nas contribuições que me pareceram mais inovadoras (como é uma apreciação pessoal, o melhor é mesmo assistir à sessão toda).
De Carlos Moedas, o meu destaque vai para as questões da solidão, e para os desafios que coloca em termos de respeito pela autonomia individual, pela responsabilidade colectiva, por intervenção no campo da saúde e por intervenção no campo social.
De Christopher Sainty, o destaque foi para a ambição de ter mais 5 anos de vida saudável em 2035, com forte atenção à contribuição que a inteligência artificial pode dar.
De Mariana Vieira da Silva, a importância de aspectos de mobilidade urbana, e como as aspectos de solidão são substancialmente diferentes na sua origem entre zonas urbanas e zonas rurais (onde a dispersão geográfica tem um peso diferente).
De Asghar Zaidi, veio o desafio de passar de “envelhecimento saudável” para uma versão mais ampla, com outras dimensões, como o envolvimento social, nas discussões. Para o efeito, apresentou uma métrica que procura fazer a comparação entre países nos vários elementos. Comparando Portugal com o Reino Unido, é principalmente no envolvimento social que Portugal está mais abaixo.
De Patrick Bonnet, veio a importância de envolver os cidadãos na identificação das “necessidades não satisfeitas” e no co-design de novos produtos (e também novos serviços). Deu como exemplo o vitality bench. O co-design permite pensar em produtos (serviços) que servem melhor o que interessa às pessoas (têm um maior elemento aspiracional), e com maior impacto.
De Rodrigo Cunha, o desafio de identificar as raizes biológicas do envelhecimento, que permita intervenções para reduzir a carga de doença associada com a idade. Aliás, aqui seria interessante juntar com um pouco de co-desigb . que áreas é mais importante explorar na investigação básica – as que mais interessam às pessoas, os que são mais fáceis de investigar, os que podem ter mais impacto? (estas perguntas podem ter respostas diferentes).
De Paulo Boto, o notar de que o ritmo de envelhecimento está a abrandar (atingindo limites naturais da vida humana?), e que a inovação deve ser dirigida para onde é mais relevante, o que me faz voltar à contribuição de Patrick Bonnet já referida.
De Catherine Pollard, o exemplo da one HealthTech, como forma de usar da melhor forma o “mundo digital”. Mas os serviços de saúde precisam também de fazer parte do “caminho digital”. Também ficou claro o valor da diversidade de visões para a definição das estratégias de envelhecimento saudável/ envelhecimento activo.
De Nuno Almeida, que teve duas intervenções, a primeiro sobre a associação de fornecedores de software, a mensagem global de a tecnologia vir a fazer o que é repetitivo e aborrecido, e a ambição de ter os melhores instrumentos ao serviço dos profissionais de saúde nas suas intervenções. Embora a afirmação tivesse sido feito num contexto de “serviço intermédio”, o mesmo poderá ser dito da tecnologia ao serviço dos cidadãos enquanto utilizadores finais (embora obviamente pensar em prestadores como utilizadores da tecnologia ou nos cidadãos enquanto utilizadores finais tem diferenças importantes para o modelo de negócio).
De Joaquim Cunha, é reafirmado o papel do Health Cluster Portugal, e da relevância de haver um plano estratégico. Aqui seria útil perceber melhor como estabelecer um quadro estratégico suficientemente geral para não ser limitador de caminhos e ideias, mas suficiente preciso para não ser apenas generalidades.
De Julie Taylor, um aspecto a destacar dos “Grand Challenges”, tal como foi apresentado, é a relevância da formação para uma vida ativa com mais etapas do que apenas educação-trabalho-reforma (algo que em Portugal já apareceu em várias discussões de Maria João Valente Rosa).
De Andreia Jorge Silva, uma posição oficial sobre a estratégia portuguesa para o envelhecimento, mas de cuja intervenção destaco a ideia de “one size does not fit all”, o que significa que o próprio sistema de saúde e o Serviço Nacional de Saúde dentro dele têm que ter a capacidade de aceitar soluções diferentes e de não procurar homogeneizar por regulação (ou circulares normativas).
De José Paulo Carvalho, houve a apresentação da HopeCare, um exemplo português de inovação digital, nos processo de cuidados de saúde (e não na definição de novos serviços enquanto tal), dando uma maior capacidade de intervenção às instituições de saúde que usem esses processos.
De Nuno Almeida, com a apresentação da NourishCare, tem-se um exemplo muito similar ao anterior. Teve porém uma mensagem interessante, a de que a introdução dos elementos digitais nos processos de saúde leva tempo, e não tem o elemento imediato de utilização e difusão que se poderia pensar quando associado com a velocidade de transporte de informação nos elementos digitais.
De Heitor Cardoso, os jogos digitais, interessante como conceito, mas fica a dúvida se depois na vida real a utilização efetiva não ficará aquém do que está a ser testado com os grupos de utilizadores. Os grupos de utilizadores testados utilizam porque estão a ser testados. Não ficou claro se estes jogos digitais são para ser prestados por organizações (logo, entram em processos de cuidados organizados) ou se são para ser feitos individualmente, à vontade dos utilizadores finais (caso em que seria bom testar o interesse que despertam para uma utilização continuada, o que não me pareceu que estivesse a ser testado).
Uma característica geral foi a procura de formas de melhorar a qualidade de vida em idade mais avançada. A parte financeira surgiu aqui e ali, mas não foi de forma fundamental. A melhoria de qualidade de vida pode em grande medida ser tratada numa perspectiva de desafio organizacional e de inovação, para a sociedade, para os profissionais de saúde e para as políticas públicas. Em qualquer caso, será bom pensar em novos produtos e serviços que consigam trazer melhor qualidade de vida sem maior pressão financeira (o que é possível, se atualmente não se estiver a fazer o melhor possível).
(foto retirada do Diário de Noticias online, original e créditos aqui)
14 \14\+00:00 Fevereiro \14\+00:00 2020 às 17:57
Via email chegou-me a sugestão de leitura deste artigo, de António Alvim, sobre as USF A e B: https://saudeonline.pt/quando-a-administracao-se-demite/
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