O anúncio formal da rescisão/denúncia de convenções de prestadores privados com a ADSE está a gerar (mais) agitação no sector da saúde.
A principal implicação imediata é os beneficiários da ADSE, para utilizarem os serviços desses prestadores privados, terem que utilizar o regime livre. A utilização do regime livre tem dois custos para os beneficiários da ADSE face ao regime convencionado: terem que adiantar o pagamento do serviço, solicitando depois o reembolso pela ADSE (que tem o valor de reembolso pré-fixado – disponível na internet, versão de 2004!); o valor de reembolso será diferente do valor que pagariam caso fossem atendidos no regime de convenção (pressuponho que maior na generalidade dos casos, mas não tenho forma de verificar em quantos casos sucederia). Além destes custos financeiros, é provável que haja o “custo” de serem defrontados com a situação sem a esperarem, se não tiverem recebido qualquer informação sobre o assunto.
Esta decisão também tem custos para os operadores privados, na medida em que é provável que percam procura pelos seus serviços – parte pelo efeito de escolha de outros prestadores por parte dos beneficiários da ADSE (que poderão ir a outros operadores privados que mantenham convenção/acordo com a ADSE, ou poderão ir ao SNS nalguns casos), parte pelo efeito de deixarem de procurar alguns serviços. Assim, a incerteza quanto a preços e receitas dos prestadores privados na relação com a ADSE (pelo que percebi, é o argumento central para a denúncia das convenções) é suficientemente importante para abdicarem desta “segurança de procura”, e é compreensível que assim seja, do ponto de vista empresarial.
Foi também sugerido que a direção da ADSE irá procurar estabelecer acordos/convenções com outros prestadores privados. O que aliás deveria ser natural, havendo ou não esta situação de tensão com alguns dos prestadores privados.
A renegociação de acordos, e o terminar de convenções, não tem que ser uma situação de tensão e deve resultar de em cada momento as partes envolvidas encontrarem vantagens mútuas nessa relação. A atual situação de tensão poderá ser temporária, retomando-se depois relações contratuais entre a ADSE e estes operadores privados. Nem os operadores privados são obrigados a contratar com a ADSE, nem a ADSE é obrigada a estabelecer convenções com eles. E faz bem o Ministério da Saúde em deixar que o problema seja resolvido pelas partes envolvidas (até porque a ADSE é atualmente financiada integralmente pelo seus beneficiários).
A ADSE poderá ainda sentir um outro tipo de efeito – se a falta destes prestadores privados, ou se a substituição por outros, não for de modo a satisfazer os seus beneficiários, poderá haver alguma saída de beneficiários, nomeadamente os de maior rendimento, que contribuem mais, e como tal mais facilmente serão atraídos para outras formas de acesso a cuidados de saúde (como os seguros de saúde, ou os planos de saúde, ou até mesmo ficarem apenas com o SNS e fazerem pagamentos directos aos prestadores se assim o entenderem).
Esta situação de tensão é mais um passo na evolução da parte privada do sistema de saúde português, incluindo a ADSE “aprender” como deve ser boa compradora de serviços (em termos dos preços que paga e do acesso que estabelece para os seus beneficiários). Veremos que operadores privados decidem manter as convenções com a ADSE, e se há novos acordos rapidamente.
A seguir nos próximos dias…
Declaração de interesses: sou beneficiário da ADSE.
12 \12\+00:00 Fevereiro \12\+00:00 2019 às 14:35
Sejamos sinceros. A ADSE é fundamental para o estes operadores de equipamentos pesados de saúde. Basta ver as campanhas precisamente da JMS, já depois do anúncio do reembolso dos 38 milhões de euros em que referem que aceitam todos os seguros e sistemas (aumentam tamanho defletora e colocam a bold) “incluindo ADSE”.
Precisam como do pão para a boca da ADSE, que pagando tarde e mal, paga sempre sem questionar tanto como os seguros, sem plafonamento e sem limite de idade ou de doença prévia.
O grupo Trofa Saúde tem um elefante branco com mais de 500 camas vazias para encher de beneficiários da ADSE.
Sejamos novamente sinceros: a fraude na facturação com a ADSE é generalizada é este subsistema ganhava em ter médicos das especialidades a auditar cuidados desnecessários, sobrefacturados e a aproveitarem-se da assimetria de informação, indução de procura e relativa insensibilidade ao preço dos seus beneficiários.
Uns poucos exemplos de fraude publicitados levariam a uma saudável auto-regulação destes 5 grandes grupos melhorando a sustentabilidade da ADSE.
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13 \13\+00:00 Fevereiro \13\+00:00 2019 às 10:23
É difícil acreditar que o SNS e SS, bata tão baixo e que cada vez (mais…), como nunca antes visto, uma “jovem” e arrivista ministra seja tão (mas tão!!!) incapaz de gerir. Mas negoceia.
Crises:
Enfermeiros
Remuneração e carreira dos enfermeiros
ADSE e os contribuintes
Carreira dos farmacêuticos hospitais…
Etc etc
Até quando este inferno? Além de Costa apanhar as consequências no próximo processo eleitoral, o Povo e que paga esta “…piolheira”… dixit D. Carlos I
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17 \17\+00:00 Fevereiro \17\+00:00 2019 às 16:55
Revisitar Beveridge e Bismark em tempos digitais parece ser o tema mas sempre com o velho NHS que serviu de inspiração ao nosso quarentão SNS. Finaceiramente falando claro. Cá por mim e como o tema já está tão requentado e passou agora e mais uma vez a elemento de combate politico por excelencia, fico-me por tentar identificar como ira este tema fechar (ficando naturalmente entreaberto…) recordando o tema do filme Notting Hill e quem é quem neste filme ADSE/Grupos Privados está no papel do William Thacker – (o dono da livraria especializada em guias de viagem e a Anna Scott – a atriz do momento, vivendo o auge de sua carreira. E que se enamoram imaginando o Will que através da Anna, poderá viver um romance ideal e poderá sair da rotina e do tédio que tanto o atormentam.
Quem não se lembra da famosa imagem dos dois sentados no banco do jardimjá noite? Ou dos dois na cena final no mesmo banco ela deitada com a cabeça nas penas dele e jã grávida? … E, finalmente a corrida até ao hotel onde acontecia a conferência de imprensa? … ( que neste caso também ira acontecer sobre a conciliação ADSE e Grupos Privados)
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