No dia 03.02.2017 tive o prazer de participar na apresentação pública do livro mais recente de Pedro Braz Teixeira, um ensaio da série publicada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, tendo como título O Euro e o Crescimento Económico.
O livro debruça-se sobre uma questão económica, talvez mesma “a” questão, dos últimos anos em Portugal: Porque temos estagnação económica desde o início do milénio?
A resposta apresentada pelo Pedro, e que é dada logo na introdução para que ninguém fique com dúvida, resume-se numa palavra “Imprudência” – a culpa é da “forma extremamente imprudente como os anos de preparação para a adesão do euro foram geridos”. Ou seja, a estagnação económica foi construída antes da entrada em vigor do euro. E as vozes que culpam o euro estão simplesmente enganadas.
Para sustentar esta posição, PBT percorre vários aspectos ao longo do livro: o processo de criação do euro, os princípios económicos subjacentes a ter uma moeda comum e em que medida estavam ou não preenchidos, o processo político – que ignorou criticas e avisos [ver a p. 40 do livro para um aviso concreto de PBT] -, a preparação da participação de Portugal na criação do euro – com destaque para as megalomanias públicas e privadas em termos de despesa financiada por crédito-, os primeiros anos dentro do euro, a crise de 2008, choque internacional que é amplificado pelas debilidades nacionais, nas políticas públicas e no sector bancário, o resgate a Portugal e, por fim, que respostas possíveis.
E apesar do Pedro não colocar de forma explícita, dá também a sua explicação para a “imprudência” que conduziu à estagnação económica em Portugal: “miopia” – miopia europeia em vários aspectos da construção do euro, e miopia nacional, no Governo, no sector público e no sector privado.
A preocupação que permanece é saber se estamos livres dessa miopia, nos vários níveis de decisão, em Portugal e na União Europeia.
Na apresentação do livro, Pedro Braz Teixeira, fez um post-scriptum, em que a mensagem principal é não acreditar que o euro sobreviva mais cinco anos, ou que, se sobreviver, Portugal não estará no euro daqui a cinco anos. Esta previsão é, a meu ver, demasiado pessimista face às potencialidades e desafios económicos que defrontamos. Mas como previsão, só o tempo dirá se acerta ou não.
7 \07\+00:00 Fevereiro \07\+00:00 2017 às 00:03
Ainda não li o livro de PBT pelo que o meu comentário se restringe ao que depreendo do seu.
Que a crise de 2008 apenas destapou e exponenciou a crise latente que vinha detrás parece incontestável.
Que a introdução do euro não foi acompanhada das medidas que poderiam minorar os efeitos negativos sobre o crescimento económico também parece consensual.
Que esses efeitos não eram imprevisíveis basta uma leitura do que sobre o assunto alertou, entre outros, Delors.
Em 2006, durante a Conferência do Banco de Portugal na Gulbenkian, Olivier Blanchard apresentou uma comunicação/alerta (estava lá Vítor Constâncio) que ninguém contestou mas que também não foi levada em conta.
Durante anos e anos, os bancos estrelejavam nos primeiros meses do ano lucros espantosos. Espantosos porque nunca percebi – e disse isso várias vezes a banqueiros – como é que podia uma vaca escanzelada desfazer-se em tanto leite. Um dia disse a um deles, mais tarde presidente até agora – que um dia a vaca ia cair-lhes em cima. Respondeu-me que estivesse eu descansado porque os bancos nunca iriam à falência. Tinha razão. A vaca não caiu em cima deles, banqueiros, mas em cima de nós, contribuintes.
O comportamento da banca em geral, incluindo o banco central, foi criminoso (se exagero, corrija sff) porque importou crédito a níveis que eles sabiam, porque tinham obrigação de saber, acabariam por colocar o país fora de pé.
Os problemas da banca terão de passar pela redução do número de bancos. Há bancos a mais e mesa a menos. Não temos economia, há muito tempo que não temos, para suportar tantos banqueiros. Que, segundo as notícias – vd. artigo de ontem no DN – são maus gestores … mas bem pagos.
Segundo notícia/artigo publicada no Jornal de Negócios de hoje “o BCE vai travar a fundo as compras de dívida portuguesa”.
Se assim for, onde estão os cintos de segurança? Na saída do euro?
Tenho de ler o livro de PBT para tentar perceber como.
GostarGostar
7 \07\+00:00 Fevereiro \07\+00:00 2017 às 10:27
Há um ponto simples, muito simples de calcular, mas que nunca vejo nenhum economista utilizar como argumento para uma discussão profunda do euro e da economia não-transaccionável portuguesa.
Se calcularmos as exportações portuguesas de bens e serviços em 2002 e em 2014 (último ano com os dados disponíveis) verificamos que as nossas exportações cresceram quase tanto como as alemãs, tanto como as holandesas e britânicas e acima das espanholas, das italianas e das francesas. Por que continuam os economistas a falar sem olhar para as estatísticas e a propagandear que não somos competitivos com o euro. http://balancedscorecard.blogspot.pt/2016/08/facam-as-contas-comigo.html
Todas as análises culpa o euro e poucas ou nenhumas falam da China. Como é que os que culpam o euro interpretam este gráfico publicado ontem pela OCDE? https://4.bp.blogspot.com/-Ts4b_1lM6yU/WJh8WQ-leII/AAAAAAAAP78/b7_TJhD-KoEyV9ed2WlRtuEVbTJqia7JwCLcB/s400/Captura%2Bde%2Btela%2B2017-02-06%2B13.35.23.png
GostarGostar
7 \07\+00:00 Fevereiro \07\+00:00 2017 às 14:09
A competitividade monetária significa exportação de mão-de-obra barata.
É difícil perceber como é que J Ferreira do Amaral e Francisco Louçã, por exemplo, possam defender o contrário.
GostarGostar