Anteontem foi feito um anúncio de um plano de intervenção em cirurgia (portaria que o cria aqui):
Plano de Intervenção em Cirurgia
HOSPITAIS VÃO RECEBER 22 MILHÕES PARA REALIZAR MAIS 16 MIL CIRURGIAS
O Ministério da Saúde vai reforçar o financiamento dos hospitais em 22 milhões de euros para a realização de 16 mil cirurgias ao cancro da mama e próstata, hérnia discal, artroplastia da anca e cataratas. Segundo uma portaria publicada em Diário da República, este Plano de Intervenção em Cirurgia (PIC) vai decorrer no segundo semestre deste ano. O PIC permitirá “reforçar a atividade cirúrgica dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) em 2015, respondendo assim de forma mais efetiva à procura acrescida que se tem vindo a registar nos últimos anos em relação a diversas patologias”. O programa vai abranger “as áreas cirúrgicas mais carenciadas e a necessidade de promoção de modelos eficientes”. As áreas que serão alvo do programa são a cirurgia em patologia neoplásica (mama e próstata), cirurgia da hérnia discal, artroplastia da anca e cirurgia da catarata. Será privilegiada “a modalidade de tratamento cirúrgico em regime de ambulatório, reforçando também a tendência de ambulatorização da atividade cirúrgica que tem vindo a ser incrementada nos últimos anos, com ganhos ao nível do acesso e da qualidade para os cidadãos e de eficiência para as instituições do SNS”. (Lusa)
Este tipo de solução foi frequente como tentativa de resolver os problemas de listas de espera no final do século passado. Essas tentativas, tal como outras similares noutros países, resultavam tipicamente em fazer desaparecer o dinheiro mais mas não o problema. As listas de espera reduziram-se de forma permanente apenas quando foi criado o SIGIC (ver aqui). Mais recentemente, houve em 2008/2009 uma outra experiência de programa especial, que produziu mais resultados durante a sua duração mas ainda assim pareceu ter alguns efeitos permanentes (ver aqui uma análise).
Veremos quais as condições estabelecidas para este programa e se terá efeitos permanentes ou se será apenas uma forma de alguns hospitais mais deficitários irem buscar uns poucos milhões. E se o esforço financeiro ficará realmente limitado ao valor anunciado (a pressão interna para o fazer subir certamente estará presente).
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Professor de Economia da Universidade Nova de Lisboa.
18 \18\+00:00 Junho \18\+00:00 2015 às 07:44
Mas ainda há lista de espera para cataratas?!?
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18 \18\+00:00 Junho \18\+00:00 2015 às 08:21
apparently… só olhando para os dados do SIGIC. Alguém o terá feito, penso eu de que.
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18 \18\+00:00 Junho \18\+00:00 2015 às 08:40
Bom dia Prof. Pita Barros,
O dinheiro deste PIC não me parece que se destine a “hospitais deficitários”, deve antes ser entendido como um incentivo aos VÁRIOS profissionais de saúde que suportam a atividade de cirurgia ambulatória e não pode ser canalizado para outras áreas, embora como ativo corrente está sujeito a engenheira financeira dos hospitais, pelos timings de distribuição, o que não é bem a mesma coisa… O móbil por trás da iniciativa tem a ver com os tempos médios das listas de espera (indicadores), que têm de facto aumentado muito por culpa da falta de resposta dos recursos humanos de anestesiologia que têm adiado planos operatórios, embora neste tipo de cirurgia não sejam totalmente dispensáveis…
Os 22 milhões de Euros seriam na minha opinião melhor canalizados para a contratação de 250 profissionais de saúde (enfermeiros, psicólogos, nutricionistas e assistentes sociais) em hospitais deficitários por um período de 5 anos. (14.000 euros ano/profissional).
Aquando dos programas passados referidos, alguém dizia que “qualquer dia não há cataratas em Portugal”. Seria o equivalente a dizer que um dia não haverá cáries em Portugal, isto a propósito do comentário sobre lista de espera de cataratas…
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19 \19\+00:00 Junho \19\+00:00 2015 às 21:34
Recebido via facebook:
[1] O problema de base é, na minha opinião, em primeiro um problema de gestão e organização que enquanto não for bem resolvido não terá solução com alguns milhões. Poderão ser solução para outros fins, mas não me parece que seja para este especificamente. Há que repensar a estratégia pois a saúde é muitíssimo importante para todos!
[2] Há mais de 20 anos que há pagamentos adicionais para que os hospitais façam o que devem fazer… Fee for service!
[3] Simplesmente…Demagogia política….
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