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falta de médicos de família

6 comentários

Das notícias: “O ministro da Saúde admitiu hoje que existe um milhão de portugueses sem médico de família, mas anunciou que os concursos que estão a decorrer deverão resultar num ganho destes profissionais para 500 mil pessoas.”

Também pelo que foi sendo divulgado, onde há maior número de residentes em Portugal sem médico de família é na zona de Lisboa e Vale do Tejo.

O que levanta uma questão global de saber que soluções têm que ser procuradas. A contratação é a solução mais simples e de curto prazo, mas será a solução permanente? Independentemente deste esforço neste momento, é necessário ter uma perspectiva de mais longo prazo sobre os recursos humanos e a forma como se articulam dentro do Serviço Nacional de Saúde para dar resposta às necessidades da população. É necessário começar a pensar em novas soluções organizativas, e em conhecer as posições dos vários partidos políticos, agora que nos começamos a aproximar do tempo eleitoral. Arrumado o tempo da troika, e passados dez anos sobre o início das USF, é o momento de repensar que caminho se vai percorrer, algo que deverá ter lugar quando começar uma nova legislatura.

Autor: Pedro Pita Barros, professor na Nova SBE

Professor de Economia da Universidade Nova de Lisboa.

6 thoughts on “falta de médicos de família

  1. Professor, totalmente de acordo com o que expôs relativamente aos recursos humanos.

    Mas na sua perspectiva qual deveria ser o plano estratégico do SNS face ao recursos humanos? Sem esquecer que os SNS não são apenas médicos, como este Ministério tem teimado em querer fazer transparecer!!

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  2. recebido via facebook:
    [1] Ja e positivo, no entanto recursos humanos sem reorganizacao do modelo organizativo e de acesso a cuidados medicos, sem investimento em recursos adequados de modo a promover cuidados continuados e integrados (?) ganhos desse investimento nao sao potencializados.

    [2] Mas há falta de médicos, em Portugal?!… E de enfermeiros, haverá falta?!…

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  3. [1] estou em total acordo com o que refere relativamente à necessidade de real reorganização do Sistema de Saúde. É fundamental capitalizar a abertura de camas de cuidados continuados e paliativos. Contudo, a análise exata do que se está a passar com as camas já abertas é fundamental. Parece-me que podemos estar a enfrentar um problema. Pessoas que deveriam estar em lares estão na realidade a ocupar camas de cuidados continuados de convalescença (a tipologia que mais permite libertar camas em hospitais de agudos). Quando o sistema realmente funcionar como deve… aí sim a capitalização poderá levar a um ajustamento da oferta de camas de agudos.
    Temos uma percentagem bastante elevada de camas de agudos dentro do SNS. Contudo, segundo a OCDE no “Health at a Glance: Europe 2014” o número total de camas hospitalares disponíveis (cerca de 3.5 por 1000 habitante) é bastante inferior à média da UE28 (cerca de 6 por 1000 habitantes) (http://i.imgur.com/3HCYxC7.jpg)

    Em suma, concordo que sem investimento sério, e nas atuais circunstâncias, não temos como rentabilizar a abertura de camas de cuidados continuados. Acrescento ainda que nem todas as pessoas necessitam de cuidados continuados em ambiente de internamento, devendo por isso investir-se seriamente nos cuidados continuados em ambiente domiciliário.

    [2] Quanto à questão da falta de profissionais… creio que correndo o risco de parecer tendencioso… desde já faço uma declaração de interesses, sou enfermeiro de formação.

    Na minha perspectiva a falta de médicos é uma falácia… que decorre de análise de premissas erradas:

    1º Faltam médicos?

    Em Portugal existem 4,1 médicos por cada 1000 habitantes enquanto a média da UE28 são 3.4 (http://i.imgur.com/VxGYJcz.jpg)
    O que pode ser analisável é a sua distribuição geográfica (http://goo.gl/qVEI0e) ou o seu local de trabalho! Não teremos demasiados médicos nos cuidados hospitalares… e qual o peso dos médicos que apenas exercem no privado sobre o total de médicos existente em Portugal?

    Existem questões para as quais ainda não existem dados para as responder… mas o recenseamento em curso na área da saúde em breve trará novos e interessantes dados.

    2º Faltam Enfermeiros?
    Em Portugal existem 5.8 enfermeiros por cada 1000 habitantes enquanto a média da UE28 são cerca de 6.5 (contabilizando apenas enfermeiros e não auxiliares de enfermagem)
    (http://i.imgur.com/F3Xnbqt.png)
    Parece-me que estamos face a uma nítida sub dotação do sistema no que se refere a enfermeiros.

    Quer nos caso dos médicos, quer no dos enfermeiros não consegui apurar se os números têm em conta apenas os profissionais que efetivamente trabalham no SNS ou todos os inscritos nas respetivas ordens profissionais. Contudo, esta situação será mais penalizados para os enfermeiros pois existe reconhecidamente um problema de desemprego na classe, o que não se verifica nos médicos.

    Daí que me parece facilmente perceptível que não existe um problema nos recursos humanos na saúde em Portugal!!

    Existem vários problemas!

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  4. Confesso uma eterna e cada vez maior desilusão relativamente às posições assumidas e ao ruido eleitoralista quer pelo MS quer pelos restantes partidos.
    Apesar do modelo organizacional das USF’s em detrimento do modelo prévio UCSP, os cuidados de saúde primários continuam a ser um dos parentes pobres das especialidades médicas para os políticos. Efetivamente faltam profissionais mas mais do que tudo, falta vontade e organização para atrair os recém licenciados para a especialidade. Salvo alguns países como a Dinamarca, é situação recorrente em todo mundo, particularmente nos Estados Unidos e agora de forma intensa em Inglaterra.

    Em primeiro lugar continua por ser discutido quais as reais necessidades em termos de saúde da população. Somente depois de se saber com exatidão essas necessidades e perceber quais as prioridades para os decisores políticos (não se pode dizer que se quer dar médico a todos os utentes, depois médico só a todas as grávidas ou só a todos os utentes VIH) se pode calcular a oferta para se adequar a procura e discutir o modelo organizacional.
    É populista querer afirmar que se pretende dar médico de família a todos os Portugueses às custas de listas de utentes com 1900 inscritos ou mais. A qualidade dos atos praticados e a acessibilidade diminuem o que vai levar a tão indesejada perda de eficiência.
    Não é preciso mais que senso comum para ser perceber que não se consegue maximizar qualidade, acessibilidade e eficiência ao mesmo tempo, há sempre trade offs que terão que ser assumidos pelos decisores. Não o fazer e transferir as consequências de tal decisão para os profissionais é sinal de má gestão e ausência de diálogo.
    Por outro lado, não tendo estudado de forma crítica os números, tenho a profunda sensação que as necessidades das populações aumentaram em termos de acessibilidade às consultas. De uma forma simples e olhando somente para a saúde mental, atendendo ao facto que terá aumentado o número de utentes com diagnóstico de depressão ou perturbações da ansiedade e o número de utentes em incapacidade temporária para o trabalho, para um seguimento correto destes utentes, por cada nova situação por mil utentes teremos um consumo de consultas de 7 a 9 consultas / ano / utente.
    Se formos adicionar o aumento da incidência de outras patologias e o correspondente aumento das necessidades de consulta, está bom de ver que ou se vai pelo caminho atual de aumentar as listas de utentes por médico ou se terão que contratar mais profissionais ou discutir o modelo organizacional para transferir atividades para outros profissionais ou permitir que os privados possam fornecer prestação de serviços respeitando o modelo de gatekeeping. Quanto à questão demográfica, a menos que a emigração dos profissionais aumente de forma desproporcionada bem como o número de reformas antecipadas, acredito que até 2020 a situação esteja resolvida e comecem a existir profissionais médicos especialistas em medicina geral e familiar no desemprego.

    De qualquer modo deixo o trabalho publicado pela ACSS – 2013 que acredita que até 2020 estejamos longe de ter o problema resolvido

    Click to access actuais-e-futuras-necessidades-previsionais-de-mc3a9dicos-sns-acss-9-2011.pdf

    e aconselho a leitura dos trabalhos de André Biscaia e da Professora Paula Santana da Universidade de Coimbra.

    Bom fim de semana!

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