Outros aspectos relevantes numa análise do sector da saúde em contexto de crise económica é a capacidade de resposta da prestação de cuidados de saúde e do sistema de protecção financeira – não são o mesmo, o primeiro é conseguir ter os recursos, humanos e de equipamento, para responder às necessidades da população, o segundo consiste em ter a capacidade de proteger financeiramente a população das consequências de menor saúde.
Tomando a primeira questão, se há uma maior procura de cuidados de saúde, consegue-se ter capacidade de resposta? Como o ajustamento em Portugal foi feito pelo lado dos preços, e não pelo corte, redução, encerramento ou retirada de cobertura, de serviços, houve em grande medida essa capacidade. A redução de preços de grande significado foi nos medicamentos e nos salários dos profissionais de saúde, numa primeira linha, e nos prestadores privados que servem o SNS, numa segunda linha.
Em termos de capacidade de resposta, a saúde mental é uma das áreas mais sensíveis, e não há qui grande novidade. A ter em conta é que se o sistema de saúde estiver mais alerta para a saúde mental em tempos de crise porque espera maior necessidade nesse campo, com um aumento de capacidade de diagnóstico e tratamento, o número de situações identificadas pode subir também por esse efeito – ou seja, o efeito da crise pode não ser tão elevado como parece se anteriormente houvesse falhas na capacidade do sistema em identificar as situações de necessidade de intervenção terapêutica. E ao reduzir-se, para os cidadãos, os custos de acesso a serviços de saúde mental, é natural que aumente a sua utilização, mesmo que não seja devido à crise económica. Há, por isso, que conseguir distinguir os diferentes efeitos presentes.
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