Momentos económicos… e não só

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termina 2013, inicia-se 2014, Bom Ano Novo a todos

8 comentários

O fim do ano é sempre fértil em balanços do ano que acaba e previsões para o que se inicia. Sobre 2013 e para 2014, é complicado ser original na avaliação do que passou e na antevisão do que será a economia portuguesa. E há também os desejos que possamos ter.

O ano de 2013, no final, acabou por ser menos penalizador do que poderia ter sido. Não foi um ano fácil para a população portuguesa. Apesar disso, o emprego cresceu ligeiramente nos últimos seis meses, o que é um sinal positivo, e o consumo decresceu menos do que tinha sucedido um ano antes. Mas ainda se esteve longe de ultrapassar os problemas. Foi ainda um ano marcado pela acção do Tribunal Constitucional, que ainda assim não motivou uma discussão mais séria das opções disponíveis. Apesar de várias reflexões e propostas, de diferentes origens, a capacidade da sociedade e dos partidos políticos reflectirem e realmente argumentarem de forma sustentada sobre essas ideias esteve muito aquém do que é necessário e desejável.

Para 2014, as atenções estão todas focadas no final do programa de ajustamento, e na evolução das contas públicas e necessidade, ou não, de programa adicional, ou de rede de segurança (o dito programa cautelar). Como país, será quase inevitável que haja uma obsessão com o final formal do programa de ajustamento. O “quase” resulta de haver um campeonato do mundo de futebol no início do Verão que irá captar o interesse geral durante umas semanas.

A respeito dos desejos para 2014, um primeiro desejo referente ao ambiente político – que não se repita a crise do final da Primavera de 2013, que deitou fora, em imagem para o exterior, a reputação de estabilidade governativa. O segundo desejo, no campo da economia, é que a procura de produtividade seja um objectivo genérico na sociedade portuguesa, nas empresas e na administração pública, nas instituições públicas e nas instituições privadas com e sem fins lucrativos. O bom comportamento das exportações, forçado pela necessidade de sobrevivência de empresas que antes se centravam no mercado doméstico, terá limites se não houver aumentos de produtividade. A consolidação das contas públicas terá ficado aquém do que é preciso, no final do programa de ajustamento, se não motivar também um melhor funcionamento do Estado (e a reforma do Estado parece ter ficado “morta” num guião imediatamente votado ao esquecimento). Vai-se falar em competitividade e até no novo banco de fomento, mas se não houver aumentos de produtividade, seja por se desenvolverem com maior vigor  actividades mais produtivas seja por se realmente aumentar a produtividade no que é feito, pouco adiantará.

A noção de que todos os problemas de produção em Portugal se resume à falta de acesso a financiamento por parte das PME é até certo ponto perigosa. Poderá haver essas dificuldades, não contesto, mas resolver essa restrição não deve ser feito à custa da qualidade e da rentabilidade que os projectos financiados devem ter. O desafio da produtividade será pelo menos tão crucial para o futuro como o desafio político de estabilidade. A forma de responder ao primeiro destes dois desafios é porém muito menos clara, e sobretudo não será compatível com “planeamento central”, mesmo que que “gerido” com um banco de fomento.

2014 terá que ser um ano onde além da macroeconomia (temas como défice público, dívida pública, desemprego) se volte a dar atenção à microeconomia (produtividade, incentivos a investir em projectos com rentabilidade privada e social, distorções de funcionamento da economia que acarretem menor crescimento).

Objectivo de produtividade deste blog, atingir os mil posts no final de 2014 (actualmente: 749 contando com este)!

Ah, e já me esquecia da previsão favorita dos últimos anos, sobre o destino do euro: não será em 2014 que o euro se desintegra ou que Portugal sai do euro.

EUROrotated2

Autor: Pedro Pita Barros, professor na Nova SBE

Professor de Economia da Universidade Nova de Lisboa.

8 thoughts on “termina 2013, inicia-se 2014, Bom Ano Novo a todos

  1. FELIZ 2014

    Quoting “Momentos económicos… e não só” : > > > > Pedro Pita Barros posted: “O fim do ano é sempre fértil em > balanços do ano que acaba e previsões para o que se inicia. Sobre > 2013 e para 2014, é complicado ser original na avaliação do que > passou e na antevisão do que será a economia portuguesa. E há também > os desejos que possamos ” > > > > > >

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  2. Este seu objectivo de 1000 posts é um objectivo de produtividade ou de produçāo?
    Bom Ano. Melhor que o da ementa oficial!

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  3. Desculpe a insistência, mas subsiste-me a dúvida. A produtividade é um conceito cheio de subtilezas. Estatisticamente, creio eu, o trabalho de um blogger só conta se for, e na medida em que for, remunerado, independentemente da qualidade do trabalho produzido. A produção pode aumentar (uma boa pesca) e a produtividade decrescer se o preço unitário da produção cair, proporcionalmente. mais que o acréscimo da produção. Um condutor de taxi no Luxemburgo é mais produtivo (estatisticamente) do que um taxista em Lisboa mesmo que este realize mais corridas pagas se estas forem (como realmente são) menos dispendiosas para os clientes.

    A não ser que o professor Pita Barros enquanto blogger ganhe à peça …

    Claro que não descobri a pólvora. Só quis lançar uma inocente provocação de fim de ano.

    Melhor Ano e mantenha, pelo menos, a mesma produtividade.
    A econoblogosfera portuguesa, salvo honrosas excepções, está cada vez mais anémica. Nem produção apresenta.

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    • Caro Rui Fonseca,
      estamos cá para isto mesmo 🙂

      Produtividade e produção – A forma mais comum de definir produtividade é a produtividade do trabalho, e é definida como produção por unidade de trabalho. Na verdade, é tão comum falar-se de produtividade como sinónimo de produtividade do trabalho que tendemos a esquecer da produtividade dos outros factores produtivos.

      A medida de produtividade pode ainda ser expressa apenas em valores físicos ou ser expressa em valores monetários – neste último caso, a produtividade física surge ligada ao valor/preço do que é produzido.

      Além disso, o conceito de produtividade pode ser visto de diferentes formas, sendo as duas mais comuns a produtividade marginal (valor ou física) – com a última unidade de trabalho quanto se produziu adicionalmente, ou produtividade média (total da produção dividido pelas unidades de trabalho). Na maior parte da análise económica, a produtividade marginal é a mais interessante para a afectação de recursos.

      No caso deste blog, o valor da produtividade é difícil de medir, uma vez que não há qualquer preço. Já a produtividade física, sem ajustamento para a qualidade dos posts, pode ser medida pela quantidade de posts num período de tempo. Mas como os posts podem ter dimensão muito diferente, talvez a melhor medida de produtividade seja número de linhas produzidas nos diferentes posts por unidade de tempo relevante. Mas como o benefício para compreensão da actividade de blogger que tenho não justifica estar a conta linhas, centro-me na versão mais curta de número de posts por ano.
      Porque usei o ano como referência?
      Pela razão simples de me dar um horizonte temporal suficiente para manter a actividade com um objectivo mas sem pressão excessiva. Se estabelecer um padrão de linhas de blog por dia (objectivo muito concreto), certamente que teria oscilações muito grandes na produtividade – que depende do meu tempo livre, da inspiração em cada dia e dos temas que estejam discussão pública e me interessem.

      Será possível transformar esta produtividade física em valor da produtividade? sim, se souber o valor que os leitores do blog atribuem a sua existência. Mas como esta é uma actividade não remunerada e a leitura é totalmente gratuita, o valor da produtividade medida pelo preço pago pelos leitores não é boa medida.
      Claro que os leitores pagam também em termos de tempo, e custo de oportunidade do tempo perdido a ler (parabéns aos que chegaram até aqui, e o meu obrigado pelo valor implícito que essa persistência na leitura demonstra). Mas não tenho forma de quantificar esse valor.
      A minha conjectura é que não pode ser muito elevado, de outro modo já alguém teria percebido uma oportunidade de negócio e teria proposto um contrato de patrocínio do blog (não é certo que aceitasse, mas isso é outra conversa).

      Relativamente aos taxistas, até podem ter a mesma produtividade física, mas a sua produtividade em valor ser diferente pelos diferentes preços de cada km percorrido. Mas será também preciso ajustar para diferenças agregadas de níveis de preços nos dois países, pois o mesmo número de euros em cada um dos países não permite comprar exactamente o mesmo cabaz de bens – daí que se tivesse de fazer um ajustamento. Como a corrida de taxi não é um bem transaccionável a comparação directa de preços tem pouca informação, e pode até distorcer o que sejam diferenças na produtividade física.

      E pronto, acabei de aumentar a produção de comentários, mas não de posts, uma vez que não “puxei” para post!

      No final, o agradecimento pelo incentivo à continuação, espero que não desconfiança sobre as minhas qualidades como (eventual) taxista.

      Bom Ano.

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  4. Pedro Votos de um excelente 2014 e que os 1000 posts sejam ultrapassados. Luis melo goncalves

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  5. Estimado Professor,

    Fico-lhe extremamente grato pela sua amabilidade.
    Na realidade eu apenas pretendi suscitar uma questão acerca da consistência dessa nebulosa estatística geralmente designda por produtividade global, uma simples relação entre, grosso modo, o valor (contabilisticamente) acrescentado e o número de efectivos (ou o número de horas) atribuidas à consecução desse valor. Se o blogger não é pago pelo trabalho realizado, mesmo que o paper merecesse o Nobel, o numerador não mexe. Era a esta, e só a esta, “produtividade” calculada pelos institutos que se dedicam a isso, que eu me que quis referir.

    Há aliás muitos paradoxos à volta da “produtividade” global “oficial”: Por exemplo, se há aumentos de remunerações da função pública, há, ceteris paribus, aumento da produtividade da função pública, mesmo que a produção medida em termos físicos tenha decrescido. Por detrás deste paradoxo pode observar-se transferência de produtividade do sector privado para o público.

    Ou não?

    Trabalhei durante muitos anos numa indústria com a produção sujeita a flutuações acentuadas dos preços nos mercados internacionais. Sempre que acontece o aumento de capacidade em degrau (maior capacidade de produção súbita) há queda das cotações, as produções aumentam mas as vendas, traduziadas em moeda, caem. A produção aumenta mas a produtividade do sector cai, mantendo-se o número de efectivos humanos utilizados.

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  6. @Luís: Obrigado, vou tentar -..

    @Rui Fonseca: as estatísticas oficiais têm dificuldade em medir produtividade em vários sectores e a administração pública é um deles; tal como nas áreas onde não há mercado a funcionar de forma efectiva. E a produtividade média de um factor poderá ser enganadora como único factor de caracterização de um sector ou actividade.

    No exemplo final, com a flutuação do preço, é o valor da produtividade que cai, não a produtividade física. Daí a relevância da distinção dos dois conceitos. O valor da produtividade depende também do contexto de mercado, enquanto a produtividade física está associada à tecnologia de produção utilizada e suas características, para o ponto de produção escolhida.

    Voltaremos ao tema da produtividade, nas suas diferentes formas em 2014, espero.

    Bom Ano!

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