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choque de expectativas?

1 Comentário

É interessante como o nosso léxico vai sendo enriquecido sucessivamente. Ultimamente tem-se abusado um pouco do termo “expectativa” quase ao ponto de fazer crer que o funcionamento da economia depende apenas e até um pouco irracionalmente das “expectativas” que os agentes económicos possuem.

Este termo “expectativa” surge, a meu ver, associado a dois aspectos muito diferentes. A primeira noção de expectativa, mais técnica, diz respeito à melhor previsão do que pode suceder num futuro incerto, usando da melhor forma a informação disponível. Admitindo que agentes económicos profissionais, como investidores de fundos, ou empresas, ou até mesmo economistas e gestores, engenheiros e arquitectos preocupados com a sua área de actividade, qualquer profissional, analisam em detalhe as condições de funcionamento da economia e dos sectores onde estão, o choque seria que o Orçamento do Estado não apresentasse as medidas de consolidação que foram anunciadas há meses, que desapareceram do debate público e como tal acabaram por ser pouco escrutinadas tecnicamente e menos ainda viram serem propostas alternativas. Dada a evolução da dívida pública, dada a evolução, ainda difícil, da execução orçamental, a melhor previsão para o orçamento de 2014 a ser apresentado pelo Governo é que tente apresentar um saldo primário positivo (isto é, de forma simples, receitas – despesas excluindo juros da dívida pública > 0). Essa será a expectativa fundada.

O outro aspecto do termo “expectativa” é colocado no campo da “esperança”, de “esperar” que afinal o Governo adoptasse outro caminho, não se sabendo exactamente com que fundamento, mas apenas porque cada anúncio realizado continua a “moer” no estado de espirito nacional. A confusão gerada à volta das pensões de sobrevivência (ou na versão demagógica, atacar as viúvas – e viúvos, calculo  que não haja discriminação – e os orfãos) e as reacções que provocou são sinal da sensibilidade com que o país, e sinal do sentimento de se estar permanentemente a ser “martelado” com mais medidas. É o tipo de discussão, até pela falta de clareza com que depois se reveste, que leva as análises para o campo do emocional, do “esperar” que seja diferente pela vontade de querer que fosse de facto diferente. Neste sentido, qualquer orçamento nesta altura será contra a “esperança” (expectativa?) de ter menos restrições.

O choque não é de expectativas no sentido de análise da situação. O choque é emocional, e de fadiga da austeridade, e de anúncios que lançam mais incerteza, e com frequência lançam essa incerteza sobre uma população idosa, que tem dificuldade em entender como se poderá adaptar, que afecta as respectivas famílias, frequentemente impotentes para ajudar – nalguns casos estarão a ser ajudadas.

A gestão de “expectativas”, nesta componente emocional, não se faz tentando convencer as pessoas de que se sabe o que é melhor para elas. Não sei qual é a solução exacta, mas não será aumentando a incerteza. Confundir gestão de expectativas com manipulação de “esperanças” não é normalmente boa ideia.

Aliás, só me vem à mente que também a população merece um quadro estável para tomar as suas decisões como o que é reclamado pela EDP privatizada.

Como melhorar a partir daqui? admitindo que o famoso guião da reforma do estado a cargo de Paulo Portas de facto existe, apresentá-lo e depois em cada medida mostrar-se que se está a seguir o plano anunciado, e poucos meses depois, revisitar a ver se cada medida esta a produzir os resultados esperados, ou não, é uma forma de tentar dar segurança e conhecimento para que tecnicamente se formem “expectativas” no primeiro sentido, e que as “expectativas” no segundo sentido também estabilizem.

A minha “expectativa” (primeiro sentido) de que isto suceda? não comento. A minha “expectativa” (segundo sentido – esperança) que se consiga dar sentido de rumo a todo o esforço feito, opto por mantê-la. Esperemos pelo orçamento para ver o que apresenta e como é apresentado.

Autor: Pedro Pita Barros, professor na Nova SBE

Professor de Economia da Universidade Nova de Lisboa.

One thought on “choque de expectativas?

  1. Creio que por acaso recebi há minutos informação sobre este novo blog / site / o que for sobre “sentimento” e “buzz” politico: http://www.popstar.pt/sentimento.html

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