Desta sessão, com Ana Paula Dourado, Mário Centeno, Guillermo de la Dehesa e Paulo Trigo Pereira, duas conclusões de natureza muito diferente.
Primeira conclusão, o euro tem futuro, tem racionalidade mas tem exigências de instituições adicionais. E que deixar desaparecer o euro traria problemas a toda a Europa e possivelmente às economias de todo o mundo (a União Europeia é o principal importador mundial).
Segunda conclusão, Pedro Santos Guerreiro receberia o prémio de melhor moderador de todo o encontro se tal distinção existisse.
Do bloco de notas:
Ana Paula Dourado:
Há falta de liderança política a nível europeu. Os políticos não partilham com os cidadãos os desafios europeus. Vamos necessitar de federalismo europeu e de impostos europeus.
Mário Centeno
Olhar para o euro de forma positiva, mas também interrogativa. É necessário construir outras instituições à sua volta, sendo preciso uma acção política, mas baseada numa boa análise económica.
A dispersão salarial na eurozona é maior do que nos Estados Unidos. A gestão do euro precisa de maior integração europeia. É necessário ter mobilidade social dentro da área euro.
Paulo Trigo Pereira
O euro não serve para ter duas realidades económicas muito distintas dentro da sua geografia. O euro não acaba mas países com baixa competitividade poderão vir a sair do euro.
Dar passos decisivos para manter todos os países no euro terá que acontecer. Terminar rapidamente a união bancária é um desses passos. É necessário avançar com o pilar da garantia de depósitos a nível europeu. Tem de haver um orçamento da área euro. O orçamento comunitário não tem capacidade de absorver choques a nível comunitário.
Este orçamento poderia ser baseados nas taxas de desemprego e ter efeitos redistributivos. Maior integração política europeia.
Duvida se a europa consegue dar estes passos em tempo útil.
Hoje estamos em condição mais difícil do que no momento do primeiro resgate de Portugal.
Guillermo de la Dehesa
A probabilidade de o euro acabar é muito baixa porque todos perdem. O fim do euro seria também o fim da União Europeia. A desintegração da União Europeia criaria uma recessão mundial. A União Europeia é o maior importador mundial. Com a desintegração da União Europeia, nenhum país europeu faria parte do G8 (por população). O fim do euro seria um desastre para a economia mundial.
Mário Centeno
As propostas existentes exigem sempre algum tipo de mutualização. A maturação dessas propostas tem sido lenta mas tem havido progressos. A europa pode resolver os seus problemas. Como um todo tem menos desequilíbrios que os Estados Unidos, por exemplo. O euro é uma excelente ideia económica.
Não podemos culpar o euro de todos os problemas da economia portuguesa e da economia europeia.
Tem havido uma partilha dos custos da crise entre empresas e trabalhadores. A separação/despedimento tem disso menor que antes da crise. Os salários estão a cair. Há cortes salariais e racionalidade económica no ajustamento salarial.
É então necessário corrigir as instituições que prejudicam o ajustamento. O euro tem que ter um estado de soberania que é necessário construir.
Ana Paula Dourado
Não se pode fazer tudo ao mesmo tempo. A europa sempre foi construída por pequenos passos. Problemas: segmentação do mercado de trabalho. Ainda estão por concretizar as livres circulações A união económica e monetária foi pensada para todos os estados. A solução ideal é o governo da europa.
Mário Centeno
Temos que criar instituições que permitam viver na diferença. A persistência histórica das características de cada região é muito grande e não vai desaparecer.
Paulo Trigo Pereira
A união orçamental não implica subordinação dos orçamentos nacionais. Fazer o controle dos orçamentos nacionais é uma escolha e não decorre de uma federalização. Em termos de evolução ou se avança para a integração ou se cai na desintegração. Espanha, Grécia e Portugal não têm capacidade de acomodar mais dois anos desta trajectória, que é insustentável socialmente. A situação actual não se irá manter. Não se pode ter mutualização da dívida sem perda de soberania.
Guillermo de la Dehesa
Merkel está a favor da união política. Os franceses não gostam da ideia porque preferem maior centralização do estado. A solução que prefere é um “redemption fund” para dívidas acima de 60% do PIB. Irá haver progresso lento mas inevitável nessa direcção.